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Dani Marques acredita no poder modificador da Literatura

“Alguns autores foram essenciais na construção dessa narrativa delirante que estamos vivenciando, infelizmente”.

Editora responsável pela Caneleiro Editora, mediadora do Leia Mulheres Teresina (2018 - atual) e escritora, Dani Marques nasceu em Teresina, em 1985, onde reside atualmente. Em entrevista ao Portal Meio Norte, ela acredita no poder modificador da Literatura seja para o bem ou para o mal.

Dani trabalha como nutricionista, além de fomentar projetos de incentivo à leitura e escrita. Em 2021, lançou Textos feitos em momentos (in)oportunos.

 Para a escritora, o Leia Mulheres é uma das melhores coisas que ocorreu em sua vida. "Eu sou muito grata à escritora piauiense Lorena Nery Borges que teve essa iniciativa de trazer o Leia pra cá em 2017. Sempre fui muito ativa no clube como frequentadora e, em 2018, recebi o convite para ser uma das mediadoras". 

Vinícius dizia que a construção literária é fruto da vida de cada um (a). Que acha dessa afirmação?

Dani Marques - Sim, eu concordo. Eu, enquanto pessoa que escreve, posso dizer que fui forjada nos livros que li e nas minhas vivências. Uma grande parcela dos meus textos refletem minha indignação enquanto mãe-solo.

Você acredita na responsabilidade da literatura com a sua época?

DM - Totalmente. Cada autor tem sua visão de mundo, porém, enquanto leitora, não consigo consumir nada contemporâneo, que seja escrito em cima de narrativas racistas, homofóbicas, machistas, que tenha menosprezo pelas minorias, que tenha desrespeito pelos Direitos Humanos, porque na época em que vivemos essas narrativas não são mais toleráveis. Eu acredito no poder modificador da Literatura, seja para bem ou para mal. Tanto que hoje em dia se observa que paralelo a nossa realidade, alguns autores foram essenciais na construção dessa narrativa delirante que estamos vivenciando, infelizmente.

Dani Marques: cada autor tem sua visão de mundo

E a opção pela prosa, quando e como se deu?

DM - Por ser uma leitora de prosa, acabei me identificando com ela, mais especificamente com a crônica. Acho um gênero maravilhoso, atemporal. Fui fisgada pela prosa.

Seu nome está ligado hoje a dois projetos: "Leia Mulheres" e "Desembucha, mulher!". São coisas distintas ou complementares?

DM - O Leia Mulheres é uma das melhores coisas que me aconteceu (o Leia Mulheres é um clube de leitura que se propõe a ler obras escritas por mulheres). Eu sou muito grata à escritora piauiense Lorena Nery Borges que teve essa iniciativa de trazer o Leia pra cá em 2017. Sempre fui muito ativa no clube como frequentadora e, em 2018, recebi o convite para ser uma das mediadoras. O Leia está ligado ao nascimento do fanzine “Desembucha, mulher!”, porque uma das maiores façanhas do clube é mostrar que aqui, no Piauí, existem grandes escritoras. Então, a partir do momento que conseguimos conhecê-las, fica a mensagem que também é possível pra gente. O “Desembucha, mulher!” Foi um projeto muito bonito, que nasceu dessa perspectiva, eram mulheres lançando seus textos sem medo, sem precisar de validação. Tudo era feito por uma mulher, desde a curadoria, passando pela diagramação, impressão e venda. Então, isso deixava as mulheres muito mais à vontade para desembucharem as palavras que estavam presas em suas gargantas.

Dos fanzines ao primeiro livro, Textos feitos em momentos (in)oportunos, foram alguns anos. Por que a demora e que significado tem essa estreia na sua carreira?

DM - O fanzine me abriu portas, foi ele que me encorajou a abrir uma editora independente, a Caneleiro Editora. Eu já tinha lançado três títulos e me dei conta que poderia lançar o meu pela editora, aqui vale aquela máxima “santo de casa não opera milagre”. Foi aí que saiu Textos feitos em momentos (in)oportunos, que nada mais é que um exorcismo em forma de textos, que foram saindo nos momentos oportunos, ou inoportunos, que a maternidade me proporcionou.

Quais escritoras marcam a sua voz literária?

DM - Aqui, no Piauí, eu gosto muito da Sérgia A, Ananda Sampaio, Lorena Nery Borges, Cynthia Osório e Lara Matos. Além dessas maravilhosas, também sou fã da Jane Austen, Virginia Woolf, Conceição Evaristo, Lygia Fagundes Telles, Angélica Freitas, Marina Colasanti, Chimamanda Chimamanda Ngozi Adichie e Buchi Emecheta.

Em que aspectos a escrita feminina se diferencia da masculina?

DM - Em tudo. Sabemos que o cânone é eurocêntrico, masculino e branco. A mulher que aparece nessa literatura nos é falada por um homem. A partir do momento que se começa a dar visibilidade à escrita feita por mulheres, assim gosto de chamar, abre-se um leque, uma diversidade infinita de mulheres. Na verdade, essa diversidade sempre existiu, era invisibilizada. Apesar de existirem várias vozes femininas, infelizmente existem alguns pontos convergentes, como o machismo, por exemplo. Essa visibilidade tem o poder de mostrar à sociedade essa mazela que é o machismo em suas várias nuances.