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Luxo: Escolas de Samba entram na reta final de preparação para desfile no carnaval de Teresina

Após cinco anos sem os desfiles das escolas de samba em Teresina

4 de março. Essa é a data que vai marcar a retomada dos desfiles das escolas de samba no carnaval de Teresina, depois de cinco anos de ausência. O desfile vai contar com apenas três representantes ? Sambão, Mocidade Alegre do Parque Piauí e Unidos da Santana vão para a Avenida Marechal Castelo Branco, e correm contra o tempo para apresentar-se aos foliões teresinenses.

Até o fim da semana passada as escolas aguardavam o repasse de R$ 75 mil para cada escola, através da Fundação Cultural Monsenhor Chaves, para cobrir as despesas de cada agremiação. Em meio a problemas, cronogramas e ideias, cada grupo prepara-se para dar seu melhor diante do público.

Sambão: "Panela" no samba-enredo e dificuldades

A escola Sambão, uma das mais tradicionais da capital, escolheu um tema inusitado para abordar em sua apresentação deste ano. Quem explica é o presidente da escola, Manoel Messias. "Ele explica que o tema foi escolhido para inovar e diferenciar de outras temáticas já abordadas.

"O Sambão sempre valorizou as coisas da terra. Já fizemos enredo sobre o velho monge (Rio Parnaíba), sobre a imperatriz Teresa Cristina (que dá nome à capital), já cantamos as sete maravilhas do Estado do Piauí, e recentemente fizemos um enredo homenageando a cidade de Esperantina. Para este ano, decidimos mudar".

Com isso, o samba-enredo vai abordar a simbologia da panela - utensílio muito antigo e insubstituível. O Sambão quer mostrar a evolução desse objeto comum à vida de todos. "Os habitantes das cavernas, quando começaram a dominar o fogo, passaram a sentir a necessidade de cozinhar seus alimentos.

Primeiramente veio a panela de pedra, depois veio a de barro e, em sequência, o material utilizado foi a concha de animais, para a posterior utilização das ligas metálicas. Houve panelas até de ouro, e hoje há até panelas elétricas", diz o carnavalesco.

Messias lembrou ainda que, quando se falou em panela pela primeira vez como tema para o samba deste ano, surgiram muitos questionamentos, mas que a criatividade faz a diferença. "É preciso lembrar que o nosso samba-enredo também tem o objetivo de abordar os diferentes conceitos que circulam a imagem da panela.

Temos, na nossa linguagem, termos como "panelinha" (usado para descrever um grupo fechado), "panelaço" (que se refere a protestos e manifestações, como as que estão acontecendo no Brasil) e também temos as frases populares: "Panela velha é que faz comida boa", "em panela que muitos mexem, sai insosso ou salgado", entre tantas outras".

O samba-enredo da Sambão tem três refrões - um deles justamente fazendo menção à música Panela Velha, eternizada pelo sertanejo Sérgio Reis. "A música diz "não interessa se ela é coroa, panela velha é que faz comida boa" - o que nos levou a criar a ala das "coroas", com mulheres na faixa dos 60 anos, e que hoje é uma das nossas alas mais concorridas.

Os ensaios da Sambão acontecem na sede da escola, às segundas, quartas e sextas, sendo conduzidos pelos mestres de bateria Juroba e Moisés. "São dois excelentes músicos.

Estamos tendo a adesão de batuqueiros e brincantes de outras escolas que não vão desfilar este ano, como a Brasa Samba, a Ziriguidum, Unidos da Saudade e Skindô, por exemplo. Quem gosta de samba não fica olhando os outros desfilarem, vai é para dentro da folia".

Por falar na sede do Sambão, o Jornal Meio Norte de ontem abordou um problema pelo qual a escola passa - a ameaça de despejo. Os sambistas temem perder seu tradicional endereço, na esquina das ruas Benjamin Constant e Firmino Pires, na região conhecida como "Baixa da Égua, no coração de Teresina."

"Já recebemos até ação judicial de despejo", disse o presidente da Sambão, Manoel Messias. Minha sugestão é que a Câmara Municipal tombe esta área como patrimônio da cultura de Teresina, transformando nossa sede em um centro cultural, capaz de abrigar não só o Sambão, mas todo tipo de evento voltado para a cultura e o lazer", complementou o carnavalesco.

Messias apontou também que Teresina tem espaço para todos os tipos de folia. "carnaval de escolas de samba, corso, festas como a Banda Bandida, folia com bandas da Bahia, tudo. Hoje somos uma metrópole".(D.L.)

Mocidade Alegre do Parque Piauí vai mostrar a alegria do circo

"O riso alegre da Mocidade no palco mágico da folia". Esse é o nome do samba-enredo da escola Mocidade Alegre do Parque Piauí, tradicional escola sediada na zona Sul de Teresina.

De acordo com o presidente da agremiação, João Carlos de Lucena Castelo Branco (João Carlos da Mocidade), a escola vai levar à avenida alegorias e fantasias voltadas à temática circense.

"Vamos tratar das travessuras do palhaço, da alegria e da magia do circo, abordando também dos sonhos de criança. Sabemos que as crianças sonham muito, imaginam-se como fadas, príncipes, princesas. Vamos mostrar tudo isso no nosso desfile", resumiu João Carlos.

"Nosso trabalho é voltado para fazer um carnaval senão melhor, pelo menos no mesmo nível do que aquele que fizemos em 2009". A escola está preparando seus adereços e parte das alegorias na cidade de Barras-PI, mas os ensaios já estão sendo realizados na Praça da Integração, no próprio bairro Parque Piauí. Os ensaios acontecem diariamente, no turno da noite - tudo para deixar os integrantes entrosados para fazer um belo desfile.

"A expectativa da escola é, depois do recebimento da verba destinada pela Prefeitura, montar mais dois barracões nesta semana, para confeccionar mais alegorias e fantasias. Assim como as demais escolas, estamos correndo contra o tempo para deixar tudo pronto", finalizou João Carlos.

Unidos da Santana aposta em desfile ecológico

Quem também vai para a avenida é a Unidos da Santana. A temática a ser explorada pela escola é a própria história da Usina Santana, que por várias décadas produziu itens como açúcar e cachaça, e acabou dando origem a uma populosa região de Teresina.

Quem dá detalhes é o carnavalesco e presidente da agremiação, Kal Angelus. "Faremos uma viagem através da saga dos santanejos - uma alusão aos sertanejos.

Mostraremos como foi a doação e a exploração das terras que hoje compõem a região do bairro. Para isso, começaremos com uma viagem à Grécia, citando Deméter, a deusa da agricultura e da fertilidade, citando também Zeus, e desenvolvendo a história e chegando às décadas de 30 e 40, auge da indústria do álcool na região", conta Angelus.

O carnavalesco cita ainda que, na época, o governo do Piauí cedeu aquelas terras para empresários de Pernambuco. Posteriormente esses mesmos empresários foram à falência, e por lá ficaram apenas as famílias que trabalhavam no local - gente de todo o Piauí e de vários outros Estados.

"A Usina Santana concentra o último reduto entre o rural e o urbano. E o bairro tem gente com raízes em todos os cantos do Brasil, já que muitos trabalhadores de diferentes regiões atuaram por lá no auge da usina".

Depois, segundo Kal, a comunidade apostou na exploração da atividade cerâmica e, mais recentemente, no ramo de água mineral. "Por isso símbolo da escola é a Fênix, porque é um povo que renasce, se reinventa constantemente".

Kal Angelus e os demais componentes da escola enfrentam a correria de aprontar tudo faltando tão pouco tempo para a apresentação. Uma das principais dificuldades, claro, são os custos. "Minha planilha de custos é de R$ 119 mil.

Isso inclui materiais comprados há um ano, bem como aluguel do barracão, manutenção da escolinha de batuqueiros, enfim, tudo isso entra nessa planilha. Nossa bateria está parada, porque ainda precisamos adquirir os equipamentos. Como estreantes, a compra do material para a bateria entra no orçamento do fomento (verba da PMT).

Mas vale dizer que todos os nossos batuqueiros estão ensaiados, porque fizemos uma espécie de terceirização do treinamento, em três locais diferentes", diz Kal, afirmando que, atualmente, a escola possui apenas 12 equipamentos na bateria, o que não é suficiente para montar o grupo.

A escola aposta na utilização de materiais não convencionais na elaboração de suas alegorias. "Recolhemos material sustentável durante dois anos no centro de Teresina, como plástico bolha, papel imune, isopor e outros itens. É um trabalho diferente", completa Kal.

"Temos que correr atrás dos recursos para contratar mais ferreiros e costureiras. Na parte de costura, atualmente temos três profissionais, uma na comunidade, uma no Promorar e uma da Matinha. Contamos também com três ferreiros - todos da região da Usina Santana.

Tínhamos o plano de colocar 800 pessoas na avenida. Mas com a demora na liberação dos recursos, já decidimos que vamos com 600. Como escola estreante, o desafio é maior ainda", finaliza o carnavalesco.(D.L.)