A história de Eduardo Piniano Pinheiro poderia ser igual a de tantos outros vestibulandos dedicados. O garoto de 18 anos ? completados no dia 14 de agosto de 2010 - passou no vestibular de três universidades públicas: USP (Universidade de São Paulo), UFSCar (Universidade Federal de São Carlos) e Unicamp (Universidade Estadual de Campinas). Poderia ser igual, mas não é.
A diferença entre Eduardo e os outros estudantes é que, em meados de dezembro, entre a primeira e a segunda fase da Fuvest, ele foi diagnosticado com um rabdomiosarcoma, tipo de câncer que dá nos músculos. Du, como é chamado pela família, começou o tratamento na mesma época.
Além da quimioterapia, ele passou por uma cirurgia para retirar um tumor na coxa. Foi o próprio Eduardo que notou algo errado, ao perceber o caroço na perna. Durante a prova do Enem (Exame Nacional do Ensino Médio), o estudante ainda não sabia da doença. Mas foi durante os exames da Fuvest, da Unicamp e da Unesp que tudo aconteceu.
As provas
Diante de um diagnóstico como o que recebeu, seria natural se Eduardo não quisesse continuar o processo seletivo. Porém, com o apoio da família, ele resolveu que continuaria na disputa por uma vaga na universidade. O estudante realizou o vestibular da Fuvest no local onde faria a prova normalmente. Entretanto, como ele estava recém-operado e não podia subir escadas, foi preparada uma sala especial para que o aluno fizesse o exame.
Na prova da Unicamp, o cuidado foi no próprio hospital onde faz o tratamento, o Centro Infantil Boldrini. Ele e um fiscal da Comvest (comissão que organiza o vestibular) ficaram sozinhos em uma sala especial. O vestibular da Unesp foi o único que Eduardo não conseguiu fazer. As provas foram nos dias 19 e 20 de dezembro. O estudante foi operado no dia 18.
A mãe de Eduardo, dona Odila, diz que ficou muito feliz com a aprovação do filho nos vestibulares, que, segundo ela, nunca foi um garoto de ficar com ?cara enfiada nos livros?. Ela e o marido sempre tiveram muita confiança na capacidade de Eduardo. O estudante conta que mal conseguiu se preparar para as provas.
- Tive que confiar no que eu tinha aprendido até a descoberta da doença. Depois tive que fazer exame quase todo dia, quase não dava para estudar.
A doença e o futuro
Eduardo ainda não decidiu qual universidade vai cursar. Na USP ele passou para direito, um dos cursos mais concorridos da instituição. Já na Unicamp e na UFSCar, ele é calouro de engenharia da computação.
Na universidade de São Carlos, o estudante teve bastante dificuldade de se inscrever. A instituição seleciona os aprovados através do Sisu (Sistema de Seleção Unificada) e, assim como outros tantos vestibulandos, Eduardo sofreu com a lentidão do sistema e foram dois dias de tentativa até, enfim, concluir sua inscrição. .
Mesmo aprovado em três universidades, ele não sabe se vai começar a cursar a faculdade já esse ano. Para Eduardo, a aprovação nos vestibulares representa o depois da doença. Segundo o estudante e sua mãe, a médica que trata do garoto explicou que, por causa da doença, talvez exista a possibilidade de Eduardo trancar a faculdade nesse ano para que termine o tratamento de saúde.
- Fiquei feliz, né? É uma coisa que tenho que esperar para depois do tratamento.
A reportagem do R7 procurou a pró-reitora de graduação da USP, Telma Zorn, para confirmar essa possibilidade. Telma não foi encontrada, no entanto, uma funcionária da pró-reitoria informou que geralmente casos excepcionais costumam ser analisados separadamente.
Eduardo recebeu alta do hospital nesta quarta-feira (8), mas voltará ao hospital regularmente para fazer a quimioterapia. A doença foi descoberta no início deste ano e a previsão é de pelo menos um ano de tratamento intensivo.
Por enquanto, o calouro e a mãe moram na casa de parentes, em Campinas, para facilitar o tratamento. O pai e a irmã, Isabela, de 12 anos, ficaram em Bragança Paulista, onde mora a família.