Quando criança, Sabrina Sato não se reconhecia nas estrelas de televisão. Mesmo com a falta de representatividade asiática, a menina do interior paulista não se deixou abalar: sabia que seu futuro estava no showbiz. Depois de passar pelo BBB, Pânico e hoje comandar programa próprio, a apresentadora é uma das celebridades de maior expressão da TV – e um dos maiores faturamentos também. Em entrevista exclusiva e à espera de sua primeira filha, ela conta como foi quase perder o bebê no início da gravidez, fala da pressão para ser mãe, dos relacionamentos abusivos e relembra a infância passada ao lado dos avós, de quem herdou o orgulho de sua origem.
Os asiáticos têm baixa representatividade na TV e quase sempre são enquadrados num estereótipo. Como era não se ver representada nas telas?
SABRINA SATO: Desde os 7 anos, queria trabalhar na televisão, mas pensava: “Quem vai ser minha mãe na novela?”. Não tinha em quem me espelhar. Era japonesa, caipira, tinha sotaque, nada que “combinasse” com a TV da época. Tinha tudo para não dar certo. Minha mãe não me estimulava a ir aos testes porque tinha medo que eu me machucasse, ela sempre teve o pé no chão. Tanto que exigiu que fizesse faculdade, e fui estudar dança e jornalismo. Nunca passei em testes para ser apresentadora – tentei o Zona de Impacto, da SporTV. Mas não levava para o pessoal, talvez não tivesse o perfil.
Existe um fetiche pela mulher asiática. Você já sentiu isso?
SS: No Brasil, menos. No cinema, em filmes do próprio Akira Kurosawa, sempre teve a erotização da mulher. Só senti isso de verdade quando posei para a Playboy [em 2003]. Lembro de ler bobagens do tipo: “Vamos ver se essa japonesa tem o risco igual ao olho”, em uma comparação à minha vagina. Mas nunca me coloquei numa posição de vítima.
Você morava com seus pais, irmãos e avós. Que lembranças carrega desse período?
SS: Minha avó, Luiza, era muito agregadora e generosa, todo dia tinha gente em casa. Nunca soube o que era ter privacidade. A loja de roupa dela ficava na entrada de casa, então as portas ficavam abertas, as clientes comiam com a gente. Ela cozinhava até de madrugada, me lembro do cheiro da comida. Ela sempre teve muitos amigos gays, e com a chegada da Aids ao Brasil, nos anos 1980, cuidava dos que ficaram doentes, ela acolhia muita gente da cidade.
Sofria bullying na escola por ser japonesa?
SS: Não, porque tinham outras japonesas na classe. E sempre tive orgulho. Minha mãe conta que um dia, meses depois de entrar na escola, falei: “Por que me chamam de japonesa?”. E ela: “Se olha no espelho, você é japonesa”. Desde criança, gostava de chamar a atenção, sempre quis me diferenciar, e ser japonesa era algo a mais.
O machismo é muito presente na cultura japonesa. Que criação sua mãe recebeu do seu avô?
SS: Em casa não foi assim. Meu avô teve três filhas mulheres e as criou como homens. Todas fizeram faculdade e trabalharam. Minha mãe era psicóloga da Apae, trabalhava na loja da minha avó e criava os filhos. Ela diz que o pai dela a criou para ser samurai, não para ser gueixa. Meu pai também me criou para ser independente. De tanto falar “estude, não dependa de homem”, cheguei a ter medo de me relacionar. Até os 19, 20 anos, passei a vida tão preocupada com a carreira que tinha medo de me apaixonar e sofrer. Fiz muita terapia antes de namorar e perdi a virgindade aos 20 anos. Mas eu era ingênua e virava uma presa fácil.
Como assim? Era vítima de relacionamentos abusivos?
SS: Antes dos 30, tive vários relacionamentos abusivos, mas não percebia. Fazia de tudo para agradar o cara, e ele só me fazia achar que estava errada. A pessoa tem total controle sobre você, e você acha que isso é amor. Não é. Relacionamento abusivo é doença. Tive um namorado que me ameaçava entrando na contramão na Avenida Paulista. E sóbrio. Dizia: “Vou acabar com a gente”. Não passo mais por isso.
Chegou a apanhar?
SS: Não, isso nunca aconteceu comigo.
Como você e o Duda Nagle se conheceram?
SS: Pelo Instagram. Já tínhamos nos visto, mas sempre com gente em volta e fazíamos muay thai com o mesmo professor. O Duda já tinha puxado assunto por mensagem e, um dia, bêbada, escrevi: “Quando vamos jantar? Ops, quando vamos treinar?”. Fui oferecida e fingi que não fui. “Quando quiser”, ele respondeu. Ficamos juntos desde então.
Você quase perdeu sua bebê: a médica exigiu abstinência sexual?
SS: Sim, proibiu. Estou há três meses sem transar, não posso ver uma cena de beijo nem filme de sacanagem. O Duda está me tratando como se fosse uma santa, é horrível isso. Começo a falar sobre sexo e ele: “Você só pensa nisso, calma”. Acho que foram os hormônios que tomei no hospital.