Flávio Migliaccio, de 81 anos, pode-se considerar uma lenda vida. O ator, que atualmente dá vida a Josias da novela "Êta Mundo Bom!", da TV Globo, concedeu entrevista onde falou sobre sua trajetória na televisão, personagens como o famoso Xerife e surpreendeu ao relatar dificuldades enfrentadas na vida pessoal.
O primeiro papel de Flávio na TV foi de um morto. Ele brinca ao relembrar os primeiros momentos da carreira. "Sim, fiz um morto! Era época do Teatro de Arena, no anos 50. O engraçado foi que o diretor fez um teste comigo de uma hora. Voltei para casa contente. No dia seguinte, soube que faria um morto (ele cai na gargalhada). E o pior de tudo é que tinha muita pulga no teatro, imagina? Eu tinha que me concentrar, não podia nem respirar, a plateia ali perto e pulga pelo palco!", disse.
Considerado um dos maiores nomes da dramaturgia e do teatro, ele revela que chegou a trabalhar como figurante. "Trabalhei na novela O Casarão (1976) fazendo figuração. Mas a história era tão bonita que ficava feliz só de estar no elenco. Nunca me importei com o papel. E não estou dizendo que o Josias é um papel pequeno. Para você ter uma ideia, fiz uma árvore em um quadro de Viva o Gordo (humorístico da década de 80)", acrescentou.
Flávio Migliaccio estudou em escola de padres, mas diz que era ateu. "Eu me tornei ateu. Houve um momento em que deixei de acreditar em Deus. Quando estava estudando para ser padre, aconteceu algo que me fez desacreditar nos padres e na religião. No início, o fato de me tornar um sacerdote era uma vontade dos meus pais. Mas depois comecei a ter um amor tão grande pela religião que quis ser padre. Só que fui perdendo o encanto e acabei expulso do seminário. Senti tanto, chorei tanto quando fui expulso, porque queria ficar lá", revela.
Ele explica o motivo da expulsão. "A verdade é que fui assediado por padres. E, quando isso começou a acontecer, descartei a ideia do seminário. Eles queriam fazer uma coisa que eu não queria, então fui expulso. Eles nos assediavam no confessionário, em qualquer lugar. Era terrível. Uma vez tive que tirar a mão do diretor do colégio do seminário de cima da minha perna! Na hora eu falei: “Isso não!”. Eu só tinha 14 anos e saí de lá muito triste e traumatizado", afirmou.