Eliminada precocemente do “BBB 19”, Hana Khalil segue mostrando que tem muito a dizer. Sem papas na língua e cheia de personalidade, a carioca de 22 anos conversou com o EXTRA e falou abertamente sobre a relação difícil que teve na adolescência com o pai, o famoso músico Robertinho de Recife, e da não aceitação da família sobre sua bissexualidade.
Bissexual
“Já tive meus casos com mulheres. Sempre gostei de mulheres, mas sempre inibi isso em mim por conta da homofobia descarada, de te colocarem no lugar de um ET, de dizerem que você tem uma doença. E achava que eu tinha mesmo algum problema. A partir do momento em que eu me empoderei, vi que podia fazer o que eu quisesse fazer. Já me apaixonei por uma mulher e tive uma coisa profunda com uma melhor amiga, mas nunca namorei uma".
Relação com o pai
“Não vou mentir com relação a isso. Meus pais não estão acostumados com essas coisas de bissexualidade. É aquela coisa: você só descobre que você é homofóbico de verdade quando você tem alguém na sua família que é gay, ou bi ou trans. Eles atribuíram muito isso a uma fase. Minha mãe prefere pensar que é uma fase. Eles se comportam como se fosse uma situação passageira. Minha relação com o meu pai ultimamente está muito boa. Ele reagiu muito bem ao ‘Big brother’, torceu muito. Meu pai parece doidão, mas ele teve fases muito protetoras, até demais. Ele quis me blindar de possíveis frustrações da vida e isso acabou criando um atrito muito grande entre a gente.
Ele, por exemplo, não me deixava voltar para a casa mais de 2h da manhã enquanto eu não tivesse 18 anos. Ele tem muito orgulho de mim. Tem muita coisa contra também, mas ele não bate mais de frente comigo. Hoje ele conversa de igual para igual. Sempre tive muita dificuldade de ter liberdade com o meu pai, só que agora estou garantindo uma liberdade com ele, de confiança. Ele entende os meus traumas e as minhas decepções. Mas sobre bissexualidade eu não falo com ele. E nem tem por que falar. Ele já sabe, sabe, e pronto".
Relacionamentos abusivos
“Namorei quatro homens, todos abusivos para caramba, machistas, controladores, opressores, racistas. Fui muito submissa a todos eles, deixei eles me controlarem, de não poder usar tal roupa, falar alto. Tive um namorado que não me deixava ficar em pé na boate para as pessoas não olharem para a minha bunda. Isso foi muito punk para mim. Passei por momentos horríveis, de abusos psicológicos, de violência verbal, de ser puxada com violência pelo braço. Do cara querer me mudar toda. Demorei muito para entender que eu era uma vítima. Foi quando eu descobri o feminismo. Estava sempre disposta a viver um grande amor, só depois que eu fui ver que esse é um jeito estúpido de romantizar relações abusivas e tóxicas".
Bullying na infância
“Sempre fui diferente, esquisita e doida (risos). Na época da escola, me chamavam de cabelo de guarda-chuva. Eu sofria com isso, não batia de frente com ninguém. Me zoavam com tudo. Tentei entrar no padrão quando eu virei adolescente, de ser fissurada em aparência. Mas tudo isso me fez pensar que eu ia ser diferente de todo mundo”;
Vaidade
“Você respeitar o seu modo primitivo é um ato de vaidade. A fissura pela aparência não é natural. Amo me maquiar, mas não vou me maquiar para ir ao shopping. Escova no cabelo? (risos). Só faço uma vez a cada três meses! As pessoas se incomodaram com o meu cabelo na casa porque elas não gostam de mulheres que fazem o que elas querem. É difícil. Ninguém falaria de um homem que não penteia o cabelo”.
Pelos nas axilas
“Teve uma época que eu já deixei as axilas peludas. Me sinto confortável raspando, mas, às vezes, eu gosto de deixar grande. Assusta a família. Minha mãe falava: ‘minha tristeza maior é te ver com pelos (risos)'. A família tradicional brasileira se incomoda com mulheres que decidem cuidar dos seus próprios corpos e sem uma regulamentação patriarcal”.
O preço da exposição
“O Brasil que me eliminou foi um Brasil que não está preparado para escutar uma mulher empoderada, militante, com características masculinas, que tem confiança quando fala, não tem medo de falar as coisas. É um Brasil que não está acostumado a ver uma menina descabelada, que não vai usar maquiagem na hora que ela não quiser, que vai incomodar as pessoas. Incomodei, sim. Mas, ao mesmo tempo, ganhei uma legião de pessoas que me amam”.
Planos
“Vou voltar para o Youtube e quero investir na carreira de apresentadora. Também sonho em sair de casa para morar sozinha. So preciso de um trabalho. Morar com os meu pais é muito desgaste emocional, por conta da convivência mesmo, que está muito desgastada”.