Sam Alves, vencedor do The Voice Brasil, foi um dos assuntos mais comentados na internet após assumir publicamente que é gay. O cantor, que se manteve calado ruante toda a repercussão, revolveu falar pela primeira vez sobre o assunto. Em um texto, da qual ele pediu para ser divulgado na íntegra, há um verdadeiro desabafo.
No texto, Sam conta que sofreu bullying na escola por ter um jeito mais “sensível” e explica por qual motivo resolveu assumir ser homossexual. A revelação aconteceu no último dia 07, quando Sam foi questionado por um fã em uma rede social.
"Oi, Sam! Você é hétero?! Beijos! Aqui em Paris amamos seu trabalho", escreveu o fã. "Não, e hoje posso responder isso. Beijos Rafs e beijos Paris", respondeu Sam Alves.
Confira logo abaixo o texto escrito pelo próprio cantor que, após sair vitorioso do The Voice, foi questionado por várias vezes sobre sua sexualidade.
Desabafo
"Sempre fui uma pessoa que preferia preservar a minha privacidade. Antes do The Voice Brasil e antes de ser jogado na luz dos holofotes da mídia eu sempre tive que discernir o que deveria expor da minha vida ou não, até para as pessoas mais próximas de mim. Após ganhar o The Voice Brasil eram milhares de mensagens, entrevistas, e perguntas sobre a minha vida pessoal, inclusive sobre a minha sexualidade. Achei melhor dizer 'não sou gay' quando fui abordado por essas perguntas publicamente no passado. Era melhor para mim na época porque ainda não tinha me aberto com a minha própria família e amigos mais próximos, e não seria através da mídia que iria fazer isso. Fui criado na igreja e sempre tive minha fé como primeiro na minha vida. E por ser filho de dois pastores, e de família de igreja, tinha o mesmo medo de toda pessoa que queira se abrir sobre sua sexualidade: a aceitação da sua família.
Meu foco naquele momento era viver o meu sonho, que passei anos lutando por antes do The Voice Brasil para conquistar. Eu queria fazer o que mais amava: viver de Música! Então eu tentava evitar esse assunto de sexualidade o máximo que podia. Desde então passei por anos de crescimento como uma pessoa, tanto na minha fé, quanto em amor próprio. Continuo acreditando em Deus e no Seu amor por mim como sou, como Ele me fez. Não acredito que Deus me rejeita, e muito menos que o Seu amor por mim seja menos que pelo próximo. Após revelar à minha família a verdade eu senti o peso que carreguei por tantos anos ser tirado das minhas costas. Não duvido do amor deles por mim, pois já foram claros em dizer que me amam. Já revelei para amigos de muitos anos e para pessoas que conheci desde então sobre a minha sexualidade também. Fui alertado a não revelar nada e manter para mim mesmo. Até porque o que condiz da minha vida pessoal não precisa ser do público. Mas de outros amigos ouvi também que eu tinha que fazer o que me trouxesse felicidade.
Uma das primeiras pessoas com quem conversei foi o Hugo Gloss (blogueiro), que disse que se eu decidisse um dia me assumir ao público que "não seria surpresa para ninguém". E isso ficou na minha cabeça desde então: se uma notícia como essa não iria ser surpresa, o que poderia mudar então? Como é que as coisas poderiam piorar?. Tinha também o apoio da minha gravadora que disse que se eu tomasse a decisão de ir público com isso iriam me apoiar e defender. Mesmo assim, decidi guardar para mim um pouco mais até que eu tivesse a certeza de que isso era o que eu realmente queria fazer.
Bem no profundo da minha alma, eu sabia que não iria conseguir ser como alguns artistas que são obrigados a projetar uma imagem do que não são para a aceitação pública por toda a vida e ao mesmo tempo não me sentir completo e feliz com isso. Respeito a decisão deles, mas sabia que isso não era para mim. A mentira me engolia vivo. Eu tomei uma nova decisão, a melhor para mim agora: Dizer a verdade. Jesus disse: "...e a verdade vos libertará." Eu me aceitei como um homem gay há alguns anos já. Mas não tinha contado à minha família até recentemente.
Eu quis ter a oportunidade de poder dizer a verdade e ao mesmo tempo tentar explicar que não é tão fácil quanto pensam expor publicamente sua sexualidade, especialmente para alguém que trabalha no meio artístico, e filho de dois pastores. E eu não queria projetar uma carreira, e a minha vida toda, envolta de uma imagem de uma pessoa que eu não sou.
Sempre quis manter a integridade das músicas que eu escrevia. Já escrevi músicas que foram inspiradas em algum romance com alguém do meu passado. Mas escrevia em forma neutra, sem o gênero da terceira pessoa para o publico que recebesse a musica poder se conectar com a letra independente de sua orientação sexual. Eu usei minha liberdade artística para tocar corações com a arte, sem limitações. Isso sempre foi e sempre será o que a arte é para mim: Uma forma de nos expressarmos, e colocarmos para fora o que está vivo dentro de nós para que as pessoas interpretem aquilo como elas preferirem para aquele momento ou situação da vida delas, sem nenhuma limitação.
Eu pensei: agora estou preparado para trilhar os próximos passos com a verdade à tona, sem desrespeitar minha família em ter que ter essa notícia pela primeira vez através da mídia. Sem viver em prol das expectativas dos outros. E tendo a consciência de que Deus me ama, e o mais importante, que eu me amo, e poder ser verdadeiramente feliz.
Acredito que vivemos num mundo aonde cada um tem a sua opinião. E cada lado vai defender a sua opinião. Não significa que estejam exclusivamente certos ou errados. Só significa que existe divergências entre o que cada um pensa. Será positivo por alguns lados e negativos por outros. Eu vou focar nos lados positivos.
Um lado positivo será eu poder dar forças para tantas pessoas que estejam lendo sobre a minha história, e estejam sentindo esse mesmo peso que por muitos anos eu senti. A vida é uma só, e o que não podemos fazer é viver a vontade de outras pessoas. Não podemos agradar a todos! Se eu posso fazer alguém se sentir amado por Deus, e amado pelas pessoas ao seu redor, eu ja estarei fazendo uma grande diferença.
Já sofri bullying na escola por ter um jeito mais “sensível” que os outros rapazes. Sei muito bem o que é sofrer preconceito quando jovem, e hoje na internet. E infelizmente as redes sociais abriram os portões para as pessoas se esconderem atras de um anonimato para poder crescer o ego delas mesmo quando praticam o bullying contra outras pessoas na internet, e assediam com mensagens para cutucar. Sou contra todo tipo de preconceito, seja por raça, crença, orientação sexual, ou aparência. E eu me assumir não significa ter mídia para mim mesmo, e sim usar esta atenção para fazer a diferença na vida de alguém. Usar meu palco para ajudar as pessoas que sofrem com essa falta de amor, de respeito, e compreensão. Minha mensagem é uma só: amor triunfa sobre o ódio.
E além de tudo, eu já recebi muito apoio dos meus fãs. Recebi muitas mensagens bonitas e comentários dizendo que nada muda, que continuo sendo o mesmo para eles. E isso me ajuda bastante, me dá forças. Então eu sei o quanto uma mensagem positiva e de encorajamento pode ajudar alguém.
Uma pessoa gay não é doente, e alem de tudo é amada por Deus. Sou a mesma pessoa que fui criado pelos meus pais a sempre ser: alguém que respeita o próximo, uma pessoa que demonstra carinho aos que necessitam, fé e amor por Deus, paixão pela música, e com a vontade de viver feliz e cheio de amor no coração para espalhar pelo mundo! A maior mensagem que temos vinda de Deus é o amor. Para que espalhar o ódio e a condenação quando estamos aqui para sermos os representantes do amor que Ele nos deixou como exemplo?
Não me passei por "homem da igreja". Não sei nem o que isso quer dizer. Se entenderam eu falar da minha criação na igreja e fé em Deus como me fazer de "santo", nunca fui e nunca serei. Não sou perfeito, tenho muitos defeitos, e muito o que aprender. Deus não nos criou seres humanos perfeitos.
Ser gay não impede ninguém de ter um relacionamento com Deus. Infelizmente muitas pessoas deixam a imagem de que temos que ser perfeitos para nos aproximar de Deus, e acabam fazendo outras pessoas se sentirem excluídas do Seu amor e não se sentirem bem vindas ou dignas de sentar no banco de uma igreja. Não levo meu exemplo de como me viver vindo de nenhuma pessoa, e sim de Jesus, que na Bíblia é relatado se assentando com as pessoas que a sociedade rejeitava e mesmo assim demonstrou amor por elas. Por que que hoje as pessoas distorcem essa mensagem de amor e tornam ela em uma de condenação e julgamento? Deus é quem julga nossos corações, e não o homem.
Continuo indo à minha igreja. Continuo tendo a minha fé. Continuo lendo a minha bíblia, orando, e tendo o meu relacionamento pessoal com Deus. A pessoa que senta ao meu lado na igreja não é obrigada a concordar comigo. Mas não estou ali por elas, estou ali porque amo à Deus, e ser gay não muda isso. E não será nenhuma pessoa que irá me dizer que Deus não me ama ou que Ele me rejeita, ou que eu estou fora dos braços d'Ele.
Haverá críticas? Sempre haverá! Haters? Já estou acostumado a lidar com elas por alguns anos. Ser criticado por se fazer de hétero ou por ser gay não fará diferença. Todo mundo que não vive sua própria felicidade tem a vontade de querer atingir a felicidade dos outros. Mas como já postei uma vez nas minhas redes sociais, para não ser criticado você não deve falar nada, fazer nada, e ser nada."