Em torno das 22h do último dia 8 de junho, uma sexta-feira, Xand desembarca do seu jatinho particular no Aeroporto Internacional de Salvador - Deputado Luís Eduardo Magalhães para se apresentar com o Aviões no tradicional Arraiá do Galinho. Sem passar no hotel, o cantor segue direto para o Parque de Exposições, onde é recepcionado por dezenas de fãs e faz questão de distribuir autógrafos e posar para fotos com eles. “Eu tenho uma relação muito próxima e respeitosa com meus fãs. Não podemos esquecer o valor que um fã tem na vida de um artista”, diz.
Já no camarim, o artista tem menos de 30 minutos para trocar de roupa, se alimentar e dar início ao atendimento à imprensa antes do show. A mala foi feita no dia anterior em uma breve visita à família, na capital cearense. “Eu vou em casa só para trocar de mala. Volto na segunda-feira para fazer uma nova troca, porque a outra mala terá que ser maior. E depois só retorno no dia 2 de julho. Serão 20 dias sem ver a mulher e os filhos, dormindo em média quatro, cinco horas por dia, no máximo. Eu queria dormir mais, mas acho que o organismo vai se acostumando. Eu fico OK, não tem como parar”, afirma o músico, que tem 34 shows na agenda no mês de São João.
Assim como a maioria dos cantores de sucesso, aos 36 anos, 15 deles dedicados ao Aviões, Xand enfrenta a dura rotina de quem vive na estrada. “Quando estou no palco é uma festa. Eu não me sinto trabalhando. Se fosse por isso (o dinheiro), eu já tinha parado. Eu tenho é muito prazer de fazer o que eu faço. Isso é de coração. A parte chata é a logística de aeroporto e translado. Com o tempo, já maneiramos a agenda de shows. Nós costumamos fazer em média 18 por mês. Essa época de São João é atípica. Eu consigo ter uma logística mais confortável porque hoje quem manda na minha carreira sou eu. Antigamente, tinha um empresário que vendia os shows e ele só passava agenda. Hoje, eu escolho o que vou fazer”, comemora.
Durante a turnê, a distância da família é o que mais o incomoda. Casado atualmente com a ex-dançarina Isabele Timóteo, com quem tem José Enzo, de 10, e Maria Isabella, de 6, o músico também é pai de Adryan Alexandre, de 15, e Aguida Hadassa, de 17. “Quando a saudade bate é a pior hora. Um domingo em casa é a coisa mais gostosa que existe. Adoro ficar na cama deitado comendo pipoca e tomando sorvete com os filhos. Eu não faço nada quando estou de folga. Só vejo filme e séries”, confessa.
O maior sonho do artista é ter mais tempo livre. “Não tenho mais sonho material. O sonho que eu tenho agora é viver muito tempo para poder curtir mais meus filhos. Esta vida que a gente leva é muito louca. Eu tenho vontade de curtir mesmo, porque tem muita coisa que eu não participo, como festinha de escola. A minha filha de seis anos hoje mesmo me perguntou no telefone se eu ia vê-la dançar, e ela ficou triste quando eu disse que não. Quero muito poder fazer mais essas coisas. O meu sonho é suprir isso de alguma forma futuramente”.
Consciente do tamanho do voo que embarcou com o Aviões, Xand fala com orgulho do projeto. “O Aviões é uma empresa que vai além do palco. Nós temos 38 pessoas contando com banda e a logística de palco. Fora isso, tem o escritório, que ao todo dá uns 60 funcionários. São muitas famílias que dependem da banda para o seu sustento”, reconhece ele, que toma alguns cuidados para proteger o seu principal instrumento de tabalho: a voz. “Eu cuido da minha alimentação, evito beber álcool e vou à fonoaudióloga sempre que posso para ver se está tudo OK”, relata.
Para seguir a carreira musical, o artista teve que enfrentar muitas barreiras, inclusive dentro da própria casa. “Ninguém nunca me incentivou. Meu pai foi totalmente contra. Como meu pai e minha mãe não tiveram a oportunidade de estudar, eles colocaram na cabeça que eu tinha que me formar em doutor, como se diz lá no interior. Tinha que ser médico, advogado, engenheiro, dentista ou alguma coisa assim. E meu pai sempre foi muito contra eu ser cantor. Se eu falasse de música lá em casa, era motivo de confusão e briga. Minha mãe ficava meio calada. Ela me apoiava por trás. Dizia: ‘Se você quiser fazer, vá’”, conta.
O início no meio artístico foi longe dos holofotes. “Quando eu completei 15 anos, comecei a trabalhar em banda escondido do meu pai. Eu era roadie (técnico de apoio), cuidava dos instrumentos. Eu me ofereci para fazer esse serviço de graça para estar no meio da galera. Quando meu pai soube, ele quis me bater. Minha mãe que não deixou. Ele colocou a imposição de que se eu quisesse trabalhar com música, teria que terminar os estudos. Eu terminei o segundo grau trabalhando em uma banda já. Sem dormir, virado, batendo cabeça."
Já cantando em um grupo de baile, Xand foi convidado para entrar no Aviões do Forró em 2002. “Quando eu saí de Apodi (RN) para os Aviões, eu estava com três meses atrasados de aluguel. Estava duro total. Quem me emprestou o dinheiro para eu ir até Fortaleza fazer o teste foi o diretor da rádio que eu trabalhava. Ele me deu R$ 50 para eu conseguir chegar até lá e fazer esse teste. Fui sem saber o que era. Quando ele me disse que era uma banda com a Solange Almeida, eu disse: ‘Não fico mais. Eu sou tão fã dela que eu não vou conseguir cantar ao lado’. Eu já curtia Solange há mais de 10 anos porque ela ia todo ano fazer show na minha cidade. Ela cantava na banda Grupo Show Terríveis”, justifica.
Foi a partir do contrato com a banda que o cantor se deu conta que poderia viver da música. “Quando o Izaias, que é meu sócio hoje, perguntou quanto que eu queria ganhar, eu fiquei com medo de falar pouco e perder ou falar muito e ele não me querer. Eu disse: ‘R$ 100 está bom?’. Eu pensei que era por mês e achei ótimo. Mas ele me falou: ‘É por semana’. Eu pensei: ‘Meu irmão, estou rico. R$ 400 por mês. Ali, eu vi que dava para ganhar dinheiro com isso”, constatou.
Grato a toda sua história, Xand confessa ter chegado muito além do que imaginou, admitindo que não acreditava que a música pudesse dar dinheiro. “Eu nunca imaginei ter 10% do que eu tenho e poder proporcionar a mesma coisa para as pessoas da minha família. Poder dar tudo que dou para o meu pai e minha mãe, que nunca tiveram nada, mas me davam tudo. Tenho orgulho de viver bem trabalhando com música”, acredita.
Mesmo com todas as conquistas, o cantor ainda tem dois desejos profissionais. “Meu objetivo é ser lembrado como forrozeiro. Quando se falar de forró no país, eu quero que se lembrem de mim. Não gostaria de ser esquecido. Fazer sucesso e estourar é mais fácil, manter que é o difícil. Eu sou muito fã do Roberto Carlos pelo tamanho que ele é. Como artista, ele é demais. Eu tenho vontade de cantar com ele. Se você tiver o telefone dele, pode ligar agora (risos)”, brinca Xand, segundo artista de forró mais tocado nas rádios do nordeste em 2018.
Xand conta que, como quase todos os artistas que estouram no Brasil, também precisou ser apadrinhado. No caso do Aviões, foi Ivete Sangalo quem propagou o nome da banda nacionalmente e fez as vezes de madrinha. “Depois que ela colocou a mão na gente, muitas pessoas no país - famosas e não famosas – passaram a tratar o Aviões bem. As portas se abriram diferente”, relata o músico.
Saída de Solange Almeida do Aviões
Em dezembro de 2016, a banda, que estava no auge, anunciou a saída de Solange Almeida dos vocais. “Fiquei um pouco inseguro, sim. Aviões era Sol e Xand. Mas ela tinha esse desejo muito forte e, uns quatro anos antes, já falava sobre montar uma banda só dela. Sair, para ela, era um desejo do coração. Hoje mantemos um carinho e um respeito muito grande um pelo outro. Teve gente que falou na época que o Aviões ia acabar. Mas eu apostei comigo mesmo em casa que ia provar o contrário”.
A presença marcante da amiga no grupo não foi substituída por decisão dele. “No nosso último show juntos, no Piauí, ela brincou: 'Aí, de você colocar outra cantora em meu lugar’. E eu disse que esse lugar era sempre dela, pra mim ela é insubstituível. Ninguém vai cantar igual a Sol no Aviões”.
Repaginada no visual e na banda
Ciente de que um dos motivos pela resistência e baixa popularidade das bandas de forró em algumas regiões do país tem a ver com o conceito de brega, Xand passou por uma estratégica mudança de visual no último ano. E até os shows ganharam ares de superprodução pop, fazendo com que o Aviões se destaque na cena musical.
“O Marco Abreu, meu stylist, trabalhou no meu estilo aos poucos. Começou com a minha esposa fazendo isso, mas ela não teve mais tempo e decidimos contratá-lo. Eu curto e não uso nada que eu não goste". Vaidoso, também admite estar de olho nos passos dos amigos famosos em relação a interveção estéticas, tão comuns no meio: "Às vezes, tenho vontade, mas ainda não tive coragem. A única coisa que eu fiz foi colocar um balão gástrico. Com isso, perdi 22 quilos”.
Xand também investiu em uma nova formação da banda. “Quando a Sol saiu, os músicos foram com ela. Eu fiquei um mês sem fazer shows. Aí fui para dentro do estúdio e repaginei a banda toda. Foi ali que eu vi que eu tinha capacidade de renovar, como eu fiz há 15 anos. Mas nunca pensei em desistir do Aviões. Para quem não tinha nada, o Aviões era tudo”.
Show inesquecível
Em setembro de 2017, a banda foi a primeira do segmento a lotar a Arena Castelão, em Fortaleza. O local já recebeu grandes ídolos internacionais, como Paul Mcarteney, Beyoncé e Elton John. Com o Aviões Fantasy, uma festa à fantasia, 40 mil pessoas fantasiadas estiveram no local. "Ao ver aquela multidão toda, não aguentei e desabei de choro", relembra.
O sucesso é tão grande que já alçou voos intercontinentais. Foram seis turnês internacionais, experiência que Xand, avesso à vida na estrada e em aviões, descreveu como bem cansativa. "Gosto de sair do país para passear mesmo. Acho que eu nasci para fazer show e cantar aqui", diverte-se, sem grandes ambições. É neste embalo que para as tão desejadas férias, em agosto deste ano, ele planeja ir, apenas com a mulher, para Míconos, na Grécia. E em fevereiro quer levar a família toda para a Croácia.
Vida em família
Com tão pouco tempo para se dedicar à família, Xand fala com carinho sobre a personalidade dos filhos. "Dois têm veia artística. A Aguida, que é a mais velha, canta superbem mesmo. E o Enzo botou na cabeça que quer ser cantor", descreve, dizendo que não incentiva e nem proíbe a carreira, só pondera. "É muito difícil. Eu passei por poucas e boas."
O cantor também garante que a mulher, Isabele, não tem ataques de ciúmes, mesmo tendo trabalhado na banda e presenciado cenas de histeria entre suas tietes. Ele revela que fãs assanhadas não são o forte do Aviões. "Não tem nudes no meu direct, não. Minha mulher deixou uma marca muito forte na banda, sabem que sou casado com ela. Ela não está aqui, mas é como se estivesse", conclui.