A apresentadora Xuxa Meneghel, 56 anos, já tinha falado sobre os diversos abusos sexuais que sofreu na infância em uma campanha feita pelo Fantástico para divulgar o disque denúncia, o Disque 100, em 2012. Mas nesta segunda-feira (25) ela detalhou os momentos mais tensos de sua vida em sua coluna, publicada no site da Vogue Brasil.
Em seu tocante relato, a artista revela que o primeiro abuso que sofreu aconteceu quando ela era ainda muito nova, aos 4 anos, e foi cometido por um parente.
"Por que eu fui a escolhida? Não sei, mas me lembro de um cheiro de álcool de alguém, uma barba que machucou o meu rosto e algo que foi colocado na minha boca. Acordei dizendo que alguém tinha feito xixi na minha boca e meus irmãos disseram que eu tinha sonhado. Essa foi minha primeira experiência com abuso sexual, que, diga-se de passagem, eu não me lembro direito, mas existiram outros casos...", conta.
Xuxa revela que, dos 4 aos 13 anos, foi abusada por pessoas de confiança da sua família, como o ex-marido de sua avó e o melhor amigo do seu pai. "Me lembro que andávamos de Kombi... Nós crianças íamos atrás. Eu tinha 5 ou 6 anos e os mais velhos eram pré-adolescentes, primos de segundo grau e amigos muito próximos da família. Sentia tocarem em mim, colocavam o dedo, doía, não sabia distinguir o que sentia, por isso não chorava e nem reclamava com ninguém sobre o acontecido. Essa mesma pessoa vinha ao Rio quando eu já tinha entre 9 e 10 anos, e, quando a família dormia, colocava seus dedos por debaixo dos lençóis e me tocava. Nesse tempo, esse parente distante já era um adolescente e sempre que podia me tocava. Por que eu não gritava, não chorava? Não sei!", escreveu a apresentadora.
Ela também descreveu momentos de terror que viveu na escola, aos 11 anos, com um professor de matemática que atendia pelo nome de Mauricio. Ela até chegou a contar para a irmã e para a mãe e foi transferida de colégio. "Ele mandou que eu fosse ao quadro para escrever alguma coisa antes que os outros alunos da sala entrassem. Era hora do recreio, ele disse que isso iria me ajudar nas notas finais. Eu escrevi o que ele queria no quadro e vi que ele se tocava embaixo da mesa, usava uma calça quadriculada e se mexia muito, não entendia muito bem o que ele tava fazendo... Foi aí que o ouvi gemer e depois se limpar. Eu perguntei o que tinha acontecido, se aquilo era colocar nas coxas. Ele riu e disse que não, mas que faria isso em mim, que não iria me machucar e que se eu falasse pra alguém sobre o que eu tinha visto ou o que ele havia falado: “ninguém iria acreditar, pois entre a palavra de um aluno e de um professor, o professor sempre ganha.”
Xuxa ainda diz que não sabe porque não gritou e não falou logo para sua mãe. Pouco depois, ainda sofreu abusos de um namorado da sua avó, Olivia, do melhor amigo de seu pai, Álvaro. "O futuro “vovô” ficava perto e me fazia carinho até que minha vó fosse costurar e ele pedia para eu sentar no colo dele. Às vezes ele tomava banho e deixava a porta aberta. (...) Uma vez vendo TV, ele acariciou meu cabelo, o cheirou e logo depois desceu a mão para os meus (quase) seios e os apertou. Doeu e eu o fiz parar, e ele disse que era só um carinho e que só o “vovô” podia fazer porque me amava como neta".
Quando ela tinha 13 anos, Álvaro a tocava e tentou beijar sua boca. "Me encurralou na parede de pedras da varanda e colocou suas mãos por debaixo da minha camiseta. Eu estava de biquíni e camisetão. Ele tentou beijar minha boca".
A apresentadora afirmou que se calou até os quase 50 anos, quando resolveu falar no Fantástico, porque queria alertar as pessoas.
"Nós geralmente não queremos falar, porque é feio, porque não é certo, porque aprendemos que sempre tem que ter um culpado numa situação como essa. E é claro que nos sentimos culpados - eu me sentia culpada apenas por existir".
A apresentadora finaliza dizendo que até hoje tem sequelas dos abusos sofridos na infância. Uma delas é ter mania de limpeza. "Tomo de 3 a 4 banhos por dia, tenho vontade de estar com crianças pois elas não me fariam nenhum mal - isso é coisa de adulto. Hoje, quero emprestar minha voz em campanhas paras crianças que não falam, não gritam e choram sozinhas. Eu preciso fazer isso por elas, já que não fiz por mim".
(Por: Correio 24 horas)