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Antônio Fernandes Godinho era um bebê quando perdeu a mãe. Foi doado. Neste domingo (6), 55 anos depois, o órfão, que não chegou a conviver com as irmãs, realizou o sonho de reencontrar a família.
Antes do encontro organizado pelo Fantástico, ele se mostrou apreensivo. ?Estou nervoso, a dorzinha de barriga não tem jeito, não é??, diz ele. No aeroporto de Belo Horizonte, Antônio se preparava para acabar com dúvidas que duraram quase 50 anos. ?Até os 7, 8 anos eu não sabia que eu tinha perdido a minha mãe?, diz Antônio.
Caçula de uma família de 9 filhos, ele foi adotado ainda bebê por um casal de amigos de seus pais. Faz dez anos, o funcionário publico começou uma jornada em busca da família biológica. Na cidade onde nasceu, Água Boa, em Minas Gerais, encontrou o paradeiro de cinco irmãos.
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?Minha convivência foi ótima com eles, são pessoas maravilhosas?, conta o funcionário público. Mas três irmãs, as mais velhas, nunca mais tinham sido vistas. Com a ajuda de amigos e da internet, Antonio levou quase um ano para descobrir que as irmãs estavam a mais de mil quilômetros de Belo Horizonte.
?Um dia achava uma coisa, outro dia achava outra. Aí nós começamos a ligar para as prefeituras das cidades?, conta. Na periferia de Tupã, interior de São Paulo, localizamos Zélia Fernandes Godinho, de 74 anos. A aposentada nunca esqueceu a dor de perder a mãe e ver o bebezinho da família ir embora.
?Eu nunca mais vi Niquinho (apelido de Antônio). Eu era muito apegada. Aquela vontade era só ficar com ele?, diz Zélia. Assim que localizou a irmã, Antonio, mandou uma carta, com uma foto, e passou a ligar para ela. ?Às vezes eu vou conversar com ele pelo telefone, eu choro, já não aguento. Dá aquela emoção?, conta a irmã.
Mato Grosso do Sul
A reportagem do Fantástico foi atrás de Nilza Fernandes Nunes, em Vicentina, a 250 quilômetros de Campo Grande, no Mato Grosso do Sul. A senhora de quase 70 anos pensou ter sido esquecida pela família e se emocionou muito ao saber que o irmão caçula queria vê-la.
?Ele era branquinho, bonitinho, gordinho, eu gostava daquele menino, quem mais cuidava era eu?, diz Nilza. Ela conta que a mãe só doou Antônio porque ela estava com uma grave hepatite e sabia que o casal escolhido cuidaria bem do bebê.
"Assim que tirou o menino, não levou uma hora, ela morreu", lembra Nilza. A última das irmãs procuradas por Antônio, Geralda Fernandes de Oliveira, foi encontrada em Naviraí, a menos de 100 quilômetros de Nilza. As duas irmãs nem desconfiavam que moram tão perto mas, apesar da distância, não se vêem há 30 anos.
Ao lado dos filhos e netos, Geralda contou que ainda procurou pelo caçulinha em Água Boa, há quase 40 anos. Foi a última vez que os irmãos se viram.
Reencontro
O grande momento do reencontro foi marcado para a manhã deste domingo, em Campo Grande. A primeira a chegar foi Zélia. ?O que aconteceu com você, que você sumiu??, pergunta o irmão. Nilza aparece logo depois. Não acreditou no que estava vendo. ?Você que é a Nilza minha filha, quanto tempo você não me vê?, comentou o irmão. Zélia reconhece a irmã na hora. Voltam os apelidos da infância.
Geralda chegou por último. Elas se abraçaram e choraram. ?Eu prometi para a nossa mãe que não ia morrer sem ver vocês três. Agora eu posso morrer tranquilo, eu achei vocês! Eu achei vocês!?