Entretenimento

Filme "Senna" surpreende por ser documentário com ritmo de ficção

Longa também brilha devido à magia das cenas clássicas que na tela do cinema ganham contornos surreais

Foram necessários 16 anos, mas finalmente a história de Ayrton Senna ganhou projeção nas telas de cinema.

Um ano após a morte do tricampeão da F-1, surgiram especulações de que uma grande produção de Hollywood abordaria a vida de um dos maiores ídolos do Brasil ? com o ator espanhol Antonio Bandeiras no papel do piloto. A ficção nunca saiu do papel. E agora dá lugar a um documentário, mas com ritmo de filme de ação.

Esse é um dos grandes méritos do longa do promissor diretor inglês Asif Kapadia, que optou pela edição de milhares de imagens de arquivo, mas sem cair na chatice dos típicos documentários que mesclam enormes entrevistas atuais com cenas de época. Habilidoso, Kapadia conseguiu montar um documentário inteiro com ritmo de ficção.

O filme "Senna" é imperdível para os fãs de F-1. A começar pelas dezenas de imagens inéditas, como as das reuniões dos pilotos (atente para a genial participação de Nelson Piquet em uma delas) e do austríaco Roland Ratzemberger, que morreu um dia antes de Senna em Ímola.

O documentário também brilha pela magia daquelas cenas clássicas que, na grande tela do cinema, ganham contornos surreais, como as imagens de Senna competindo de kart antes de estrear na F-1 e nas câmeras "on board" da McLaren. A volta de classificação do brasileiro em Mônaco ? antológica por humilhar todos os seus rivais com superioridade jamais alcançada por outro piloto ? é de tirar o fôlego. Mesmo quem acompanha a F-1 hoje em dia se impressiona com a velocidade do brasileiro pilotando o carro, trocando marchas e escapando a centímetros dos guardrails do apertadíssimo circuito das ruas de Monte Carlo.

Mas este é um filme também para aqueles que querem conhecer a história do ídolo Ayrton Senna. Aqueles que pararam de assistir à F-1 depois da tragédia de 1994 irão às lágrimas nas cenas mais dramáticas.

Há momentos hilários, como a participação do piloto no programa da Xuxa (o que para os diretores poderia ser um momento cômico, também arranca memórias da infância de parte do público). A estética anos 1980 também cria humor sutil, como na entrevista de Alain Prost, em que o francês mostra seu lado mais canastrão em brincadeiras com uma repórter de TV. O saudosismo é inevitável durante a sessão.

?Senna?, é claro, pode ser demais para quem não suporta ver carros de corrida ? o documentário tem 1h47 de duração. Mas a história de Senna é um modelo universal do herói clássico. Todos os elementos estão ali: a ascensão meteórica (em Mônaco, 1984, em sua estreia), um forte rival (Prost), os duelos (sobretudo em Suzuka), o vilão (o francês Jean-Marie Balestre, presidente da FIA à época), o drama e o triste final que, claro, todos nós conhecemos.

?Senna? não é um retrato 100% positivo do herói ? o filme mostra seu lado obsessivo pela competição, como o de querer humilhar Prost em Mônaco, de se vingar do francês em um perigoso acidente. O ídolo, afinal, tinha seus defeitos, mas o filme não busca ser um juiz imparcial da carreira do brasileiro. Seu grande mérito é reproduzir na tela de cinema o melhor da genialidade do esportista Ayrton Senna. E é exatamente isso o que seus fãs esperaram por mais de 16 anos.