O Instituto Nacional de Meteorologia adverte: nos próximos oito meses, sempre por volta das 21h, o público de “Babilônia” será atingido por um furacão chamado Gloria Pires. E seus efeitos já foram sentidos logo no primeiro capítulo: na pele da vilã Beatriz, ela seduziu, se mostrou uma atleta de alcova de primeira, armou, manipulou e até matou. Tal fenômeno da natureza alcançou rapidamente a internet, virando bordão, memes nas redes sociais e tema nas rodinhas de conversa. Uma força que surpreendeu até o próprio furacão.
— A gente sempre espera o melhor, mas superou a expectativa. Antes mesmo de o primeiro capítulo terminar, as pessoas me mostravam nas redes sociais brincadeiras que estavam fazendo com o “Não estou disposta’’. É gratificante! — comemora Gloria, de 51 anos, que opina sobre Beatriz ter caído no gosto do público, mesmo tendo um comportamento para lá de questionável.
— Essa coisa amoral desperta raiva na vida real, mas na dramaturgia, as pessoas acham um pouco libertador, instigante, transgressor de alguma forma — analisa.
E olha que viver essa manipuladora adorável chegou a deixar Gloria insone por alguns dias.
— São várias questões. Não queria fazer uma simples vilã, mas achar uma maneira de fazê-la tridimensional. Visualizar essa mulher se movimentando, como ela leva as pessoas e não deixa o caminho fácil para perceberem que ela é uma vagabunda (risos). Isso foi uma coisa que me tirou o sono. Sem contar a expectativa. Até colocar em prática, aquilo vira um borbulhão de ideias na cabeça. Quando se chega no estúdio e começa todo dia a fazer 15, 18, 20 cenas, aí é que a coisa vai entrando no ritmo — explica a veterana.
Só que para o espectador, Beatriz parece já existir há tempos, tamanha a intimidade que a atriz demonstra com a nova personagem. Aliás, apesar de já ter feito malvadas memoráveis como Maria de Fátima, de “Vale tudo” (1988), e Raquel, de “Mulheres de areia” (1992), Gloria garante que Beatriz é uma novidade em sua trajetória:
— A essa altura do campeonato, com tantas novelas na bagagem, nunca imaginei que, aos 51 anos, eu fosse fazer uma tarada sexual (risos)! Uma mulher que aposta alto, blefa, faz e acontece mesmo. Quando aceitei fazer a novela, ela nem estava escrita, não sabia o que era. Então, fico feliz que os autores tenham pensado numa personagem assim para mim. Eu realmente me sinto com o ego muito massageado. Beatriz não tem limites, é insaciável, em todos os sentidos.
Orgulhoso, o autor Ricardo Linhares, que escreve a trama ao lado de Gilberto Braga e João Ximenes Braga, endossa:
— Ela está fazendo essa tarada maravilhosamente bem! Gloria está com uma sensualidade, um charme... Até porque, Beatriz tem uma sedução, trata todo mundo bem. Por isso, ninguém desconfia de quem é realmente, justamente pelo grande fascínio que exerce em todo mundo. E ela é ladra, é assassina, adúltera, péssimo caráter.
Os homens de Gloria
Com um apetite sexual admirável, não é de se estranhar que Beatriz queira sempre variar o cardápio. Seu plantel de amantes ou transas furtivas é bem extenso.
— Ela não faz distinção de raça, idade, classe social... Beatriz gosta do esporte. E para ser um homem dela é preciso ter pegada, senão não dá conta, não — diverte-se Val Perré, que deu vida a Cristóvão, o motorista amante morto pela ricaça.
Contracenando com Gloria pela primeira vez, o ator conta que ficou um pouco nervoso no primeiro encontro com a atriz.
— É Gloria Pires, minha gente! Dá uma bambeada nas pernas (risos). Mas ela é muito generosa e nas outras cenas que fizemos juntos, já tinha me deixado mais à vontade. Até mesmo nas mais quentes — diz Val.
A atriz causa mesmo um frio na barriga de seus parceiros. André Bankoff, que faz o engenheiro Pedro, funcionário de Beatriz na construtora, conta que na véspera de gravar a primeira cena com Gloria, custou um pouco a dormir.
— Acordei bem cedo no dia. Poxa, vejo Gloria desde menino, sou fã. É a primeira vez que contraceno com ela e fiquei um pouco nervoso. Ela causa isso mesmo. Gloria tem alma grande, coração enorme e te deixa à vontade. Quando ela me disse: “vamos bater o texto?”, nossa, me deixou tão tranquilo para contracenar — conta o ator que, amante de Beatriz, se orgulha de estar na rede da devoradora: — É muito bom ser um dos homens dela, mas tem que ficar atento para não ser morto (risos). Pedro saca que ela é uma tarada e até a chama de ninfomaníaca. Ela gosta mesmo de correr perigo e ele dá isso para ela.
Até mesmo Cássio Gabus Mendes, o Evandro, marido da tarada, que já fez par romântico com Gloria em “Vale tudo” (1988) e “Desejo de mulher” (2003), confessa uma certa ansiedade antes das cenas com ela.
— Sou o mais veterano com Glorinha e tenho muito orgulho disso. Mas vou dizer: sempre no comecinho a gente fica um pouco nervoso (risos). Por que Glorinha é ímpar, dá um friozinho na barriga de felicidade quando você tem uma atriz desse porte trabalhando lado a lado. E é um grande prazer ser um homem dela. Outro dia, olhei para o espelho e disse: “mais uma vez, serei par de Gloria Pires, que é uma companheira de trabalho sem igual. Sou homem de sorte, nesta altura da vida, mais uma vez estou ao lado dela” — conta Cássio.
Apesar de conhecer Gloria há 9 anos, desde que fizeram “Belíssima’’, Thiago Martins vai ter, agora, a oportunidade de contracenar de pertinho com a atriz. A primeira cena que gravou com ela já foi de intimidade.
— Dennis (Carvalho, diretor) me ligou e disse: “Vem aqui que eu preciso fazer uma cena para o clipe”. Quando cheguei lá, ele falou: “Beijem-se”. E a gente se beijou. Foi a primeira cena. Não tive tempo de me preocupar — lembra o ator, que na pele do acrobata Diogo, será mais um homem de Beatriz: — Ser um escolhido dela é ótimo. A gente está vendo Gloria de outro jeito e está fazendo superbem. Ela não erra. Na verdade, só de ter a oportunidade de estar em cena com Gloria, já é um grande privilégio.
Thiago acredita que o conhecimento prévio auxilia nas cenas picantes:
— O fato de conhecê-la há 9 anos fez a gente quebrar o gelo. Somos atores, dando vida a personagens,uma hora isso ia acontecer. Estou radiante.
Apesar de todos os homens de Gloria estarem ligados na performance da atriz em “Babilônia’’, o da vida real, o cantor Orlando Moraes, não pôde ver a mulher na estreia da trama. Por estar em Paris, perdeu o primeiro capítulo. O que, segundo a atriz, o deixou bem chateado, já que ele é noveleiro e estava ansioso para ver a mulher dando show. Em compensação, as filhas Ana e Antônia puderem ver a mãe esbanjando talento em um papel bem diferente ao que estão acostumadas.
— Elas me mandaram WhatsApp no fim do primeiro capítulo, dizendo: “Mamy, você arrasou!”. Aquelas coisas de filha, né? Cleo está viajando, mas viu o sucesso da novela pelas redes sociais e também mandou mensagem. Como já estava tarde, Bento, que só tem 10 anos, não viu, estava dormindo. Não é novela para ele — diz a atriz.
Além de ter chamado a atenção por se mostrar tão fatal, Gloria também fez o público ficar com a respiração suspensa ao medir forças com Adriana Esteves. Num embate memorável, Beatriz e Inês deixaram claro logo de cara como seria a relação das duas amigas de adolescência. E, durante toda a semana, oscilaram entre farpas e falsas trocas de cessar fogo.
— Gloria e Adriana estão tão inteiras nas personagens, que passam a verdade de serem pessoas que trazem uma rivalidade de uma vida inteira — elogia o autor Ricardo Linhares.
A sintonia entre as duas atrizes e o cabo de guerra entre Beatriz e Inês, mexeu, claro, com o imaginário do espectador. Nas redes sociais, antes mesmo de começar a novela, havia internautas ansiosos com o duelo entre Maria de Fátima e Carminha (de “Avenida Brasil’’), as vilãs mais emblemáticas de Gloria e Adriana, respectivamente. Apesar de achar graça, Linhares não vê semelhanças entre as personagens anteriores e as atuais.
— É mais uma curtição inicial, principalmente nas redes sociais. Mas não tem nada a ver. Carminha era uma mulher realizada, tinha uma autoestima enorme. Inês é frigida, assexuada, não tem prazer. Carminha era o objeto de inveja. Inês é uma invejosa que tem fascínio por Beatriz e não consegue ser como ela. Já Beatriz é doida, nifomaníaca, tarada, pega homem numa loja, leva para o provador e transa com ele. Ela tem vários amantes, não tem nada a ver com Maria de Fátima, que era uma mulher racional, queria dar golpe e ficar rica. Beatriz quer curtir a vida, faz besteira o tempo inteiro, se arrisca. Só as atrizes são as mesmas — crava o autor.
Gloria concorda:
— Fátima era uma menina humilde, muito ambiciosa, que buscava um ideial de felicidade que tinha na cabeça: ficar rica a todo custo. Beatriz já é rica, mulher de meia idade, que já passou por várias situações, mas ao mesmo tempo se reinventa. É surpreendente mesmo a maneira como ela dá a volta por cima.
E há aqueles que veem semelhanças com a gêmea Raquel, já que as duas têm a sensualidade aflorada. Mais uma vez, Gloria discorda.
— Raquel era uma mulher apaixonada, tinha um homem que a amava. Como se envolvia com o namorado da irmã e o roubava dela, era nesses momentos que ela usava e abusava da sensualidade. Toda personagem é única e meu momento hoje é diferente do que vivi em “Mulheres de areia”. Isso também traz uma transformação, faz diferença — afirma.
A atriz ainda aponta outra particularidade da personagem de “Babilônia” que a encanta.
— O que gosto em Beatriz é das facetas que ela apresenta para cada pessoa. Para mãe, Estela (Nathalia Timberg), ela é uma adolescente, uma garota com cabeça avoada. Com Evandro, Beatriz mostra-se protetora, evitando que os problemas cheguem a ele. Com Inês, a “amiga” competidora, manipula, há momentos em que a deixa pensar que é importante. Até com Regina (Camila Pitanga) ela finge ser ética, ajudando na história do pai assassinado. Isso é fascinante — analisa a atriz.