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Atolada em dívidas, ex-dona de loja chique vira empregada

Com dívidas de mais de R$ 10 milhões, Regina Lundgren saiu das colunas sociais.

Regina Lundgren era habitué das colunas sociais cariocas. A loja que levava o sobrenome dela, a Espaço Lundgren, era chamada de ?Daslu carioca? e ocupava um belo casarão de frente para a praia de Ipanema, o metro quadrado mais caro do Brasil. A vida da então empresária, nascida em Pernambuco e herdeira do fundador da Casas Pernambucanas, era uma festa. Mas isso, agora, é passado. Atolada em dívidas, Regina tenta se reerguer. Parte da tragédia que se abateu sobre ela é financeira e parte é pessoal. Sobre a primeira: com o balancete tendendo mais para o débito do que para o crédito, ela fechou a loja de Ipanema e abriu outra, menos grandiosa, no shopping Fashion Mall, de onde saiu despejada e com dívidas que ultrapassam R$ 10 milhões. A bancarrota pessoal: a separação do então marido, Jorge Francisco Freitas Filho, conhecido como Zito, também sócio no negócio, sob a alegação de tê-lo flagrado aos beijos com uma vendedora da loja numa festa de Réveillon, em 2009. Agora, o ex-casal briga entre si e, igualmente, é processado por fornecedores, credores, governo e até ex-amigos. ?Não tenho mais nem marido nem negócio, não poderia estar feliz, passeando por aí?, disse Regina à ISTOÉ. Ela acaba de retornar ao mercado fashion ? mas como empregada. É gerente da loja Victor Dzenk, do estilista de mesmo nome, em Ipanema.

Nem todos que eram amigos nos tempos de glamour, porém, acreditam nisso. ?Tem uma vagabunda que vive de vender o produto do trabalho suado dos outros sem pagar?, escreveu, há dois meses, a estilista carioca Marcella Virzi em seu perfil do Facebook, cobrando uma dívida que seria, aproximadamente, de R$ 16 mil. Por e-mail, Marcella disse à ISTOÉ que não falaria sobre o que escreveu na rede social ?por ordem do advogado?. Mas todos sabem, inclusive Regina, a quem a estilista se refere. ?Ela fez negócio com uma empresa que faliu. Gostaria de pagar, mas não posso?, rebate a ex-empresária. Só na Justiça estadual do Rio, Regina é ou foi ré em pelo menos 20 processos, além de cinco na Federal. Isso sem contar os que não citam seu nome, mas sim o de seu ex-marido e/ou das várias empresas relacionadas ao Espaço Lundgren.



O escritório do advogado Pedro Pamplona cuida de aproximadamente 30 processos. Um deles foi movido em 2005 pela Christian Dior, representada no Brasil por Rosangela Lyra, sogra do jogador Kaká. A Justiça já determinou o pagamento de R$ 657 mil à grife francesa. Tanto Regina quanto Zito alegam não ter dinheiro para pagar. ?Com tudo o que se fala de mim, está difícil arrumar trabalho?, afirmou ele, que atua como consultor, ao reclamar da ex-mulher. Para ilustrar sua situação difícil, Zito diz que mora num pequeno apartamento na Barra da Tijuca cujo aluguel é R$ 800. Regina diz que a administração do negócio era função dele ? ela só cuidava da ?identidade? da butique. ?Com a vida que eu tinha, de viagens internacionais, nem sobrava tempo?, afirma ela. E culpa a forma como o casamento acabou pelo desfecho dramático do Espaço Lundgren. ?Só sei que a loja estava se recuperando financeiramente naquele momento, mas, depois da separação, fechou?, disse.

Inaugurada em 1999, a Espaço Lundgren começou a quebrar em 2003, quando trocou o Fashion Mall, em São Conrado, por Ipanema, onde ficou até 2008, quando retornou para o shopping. A mudança de patamar exigia investimento. O dinheiro, diz Zito, viria do empresário Mauro Crispun, que teria comprado metade da sociedade por R$ 2,5 milhões. Mas só parte desse valor teria sido paga. As dívidas para a mudança de endereço, porém, já haviam sido feitas. A bola de neve só fez aumentar. No aperto, Zito pediu ajuda até para o amigo Edson Celulari, que, afirma, lhe emprestou R$ 170 mil. Hoje, o ator cobra o pagamento de R$ 227 mil na Justiça. Crispun também pede de volta o dinheiro alegadamente repassado à Espaço Lundgren como empréstimo, não investimento. Seriam aproximadamente R$ 5 milhões.

Regina e o ex-marido também foram condenados recentemente a dois anos e seis meses de prisão por falsificação de documentos num processo criminal aberto pelo Ministério Público Federal em 2004. Segundo a decisão da 4ª Vara Federal Criminal do Rio, confirmada em segunda instância, os dois teriam usado a CMI Comércio Internacional, empresa do Espírito Santo, para importar produtos de luxo que seriam revendidos na loja. O objetivo seria ludibriar a Receita Federal. Zito afirmou que recorrerá da decisão.

Pelo menos três empresas montadas por eles, ligadas à Espaço Lundgren, devem dinheiro ao governo federal em impostos, mas a Procuradoria-Geral da Fazenda Nacional não revela qual é o tipo de tributo. Os débitos superaram R$ 4 milhões. A ex-empresária nem pode contar com os parentes para sair do buraco. A rede varejista Casas Pernambucanas rachou numa disputa entre os herdeiros a partir da década de 1970 e a parte que cabia ao núcleo familiar dela foi à falência.