O Itamaraty confirmou nesta terça-feira que brasileiras foram estupradas durante a onda de violência da semana passada contra estrangeiros na cidade de Albina, no Suriname.
O ministro interino de Relações Exteriores, Antônio Patriota, afirmou que ocorreram os abusos sexuais e disse que um segundo avião da Força Aérea Brasileira chegará nesta quarta-feira a Paramaribo para buscar brasileiros feridos e outros interessados em deixar o país vizinho. Não há registro oficial de mortes, e o governo pede cautela na divulgação de que há desaparecidos.
Patriota afastou a possibilidade de novos ataques contra brasileiros na região. Segundo ele, o governo surinamês intensificou a segurança e garantiu que o ataque na véspera de Natal foi um "ato isolado".
Ele informou que no avião enviado a Paramaribo estará uma funcionária da Secretaria Especial de Atenção à Mulher, para dar assistência às brasileiras vítimas de violência, e uma diplomata especializada em temas consulares.
O ataque a brasileiros e outros estrangeiros que vivem no Suriname deixou 25 feridos há seis dias depois que um brasileiro foi acusado de matar um surinamês. Segundo informações de testemunhas, quilombolas surinameses, chamados de "marrons", atacaram cerca de 200 brasileiros e chineses que viviam na região de Albina, a 150 km de Paramaribo, muitos deles ligados ao garimpo ilegal.
O ministro interino disse que 17 brasileiros que estão no Suriname demonstraram interesse em retornar ao Brasil no voo que sairá amanhã de Belém para buscá-los. O horário de partida da aeronave será definido até a manhã desta quarta-feira (30).
Na relação dos brasileiros que deixarão o Suriname estão os cinco feridos que ainda estão hospitalizados --inclusive um homem com risco de amputação de um dos braços em decorrência de cortes provocados por facão e outro que está com ferimentos graves na mandíbula.
O ministro confirmou ainda que de 10 a 20 mulheres --entre brasileiras e estrangeiras-- foram vítimas de estupro na noite do último dia 24.
O padre José Virgílio da Silva, que dirige a rádio Katólica e deu assistência aos brasileiros vítimas do ataque, afirmou que há pelo menos sete desaparecidos --inclusive brasileiros. De acordo com relatos de brasileiros que moram no Suriname, quilombolas surinameses teriam matado e jogado os corpos das vítimas nos rios e matas da região.
Patriota não desmentiu as informações, mas optou pela cautela. "Não estou afirmando que não haja desaparecidos. Estamos observando as informações com cautela. Até o momento, não houve comprovação [sobre os desaparecidos]".
Também nesta terça-feira, o Itamaraty divulgou uma nota sobe a dificuldade de definir que há desaparecidos na região.
"Em sua grande maioria, os brasileiros que vivem na região de Albina trabalham em garimpos no interior do Suriname e da Guiana Francesa e costumam passar semanas na floresta, incomunicáveis. Por esse motivo, é necessário aguardar antes de considerar "desaparecido" qualquer desses cidadãos", diz o texto.
O ministro interino reiterou o que o embaixador do Brasil em Paramaribo, José Luiz Machado e Costa, havia dito mais cedo sobre o esforço do governo para documentar os cerca de 15 mil brasileiros que vivem no Suriname. Segundo Patriota, há cinco anúncios diários nas rádios locais chamando os brasileiros para fazer o cadastramento.
De acordo com as autoridades brasileiras, a maioria dos brasileiros que vive no Suriname é ilegal. Há informações de que, além da área de garimpo, eles também estejam envolvidos com prostituição e tráfico de drogas. Apesar disso, Patriota negou que haja resistências da população e do governo surinameses aos brasileiros.
"O que nos foi dito [pelas autoridades surinamesas] é que a comunidade brasileira é muito bem vista e que há uma predisposição positiva", afirmou Patriota. Segundo ele, há um conselho de cidadãos, formado por 16 brasileiros voluntários, que funciona de forma intensa no Suriname.
"Os brasileiros nunca tiveram problemas no Suriname. Sempre houve uma tolerância muito grande com os brasileiros. Quando a embaixada perguntava quem queria voltar, não havia demonstrações de interesse", dissera mais cedo o embaixador brasileiro no Suriname, que classificou os ataques de "atos de selvageria e de violência extrema".