Na via sem saída, o morro alcança seu pico. Forjado por cercanias vultosas, o chão de terra batida é margeado por pequenas casas, emparelhadas e tão próximas que chegam a se unir. No quintal, a vista está distante dos cenários típicos dos cartões-postais, o esgoto ou um matagal qualquer constituem a paisagem vista todos os dias. O curso de cada rua desemboca nas vielas repletas por histórias perdidas, onde os atores principais já foram vencidos por inimigos avassaladores.
Muitos nem sequer chegaram a pensar no futuro, essa pretensão é interrompida na boca de fumo e reafirma o círculo vicioso que não se desfaz. Opondo-se a este quadro concreto, talentos desabrocham na periferia e quebram paradigmas. As trilhas até o sucesso não são fáceis, ao nascer de uma nova manhã a convivência pacífica entre os sonhos e as dificuldades enaltece a força. Os exemplos de luta multiplicam-se, são moradores que não desistem de buscar o caminho mais digno para uma vida melhor. Qualidade que pode estar perto, afinal, ao mesmo tempo que os problemas estão visíveis, a comunidade abraça e o apoio é incondicional.
O despertar para outras possibilidades pode estar na educação, através das viagens consecutivas no mundo da literatura, as visões são ampliadas e horizontes diversos surgem diante das adversidades. Dedicando-se ao seu segundo livro, o jovem Brayenderson de Jesus é a prova viva de que o esforço e a perseverança valem a pena. Estudando na Vila da Paz, localizada em uma região pobre da capital, ele encontrou na escrita formas para incentivar que transformações ocorram frequentemente.
“Sempre me despertou o interesse, principalmente nas questões sociais, projetos como os desenvolvidos aqui na escola são primordiais para desviar os jovens da criminalidade”, conta. A inspiração para as obras do estudante de 17 anos está na realidade que o cerca, inclusive tratando sobre as grandes mazelas sociais brasileiras. A válvula de escape pode ser tomada por qualquer pessoa, basta ter determinação e esquecer os caminhos sacramentados pelo terror.
“O maior problema é a falta de educação, isso faz com que muitos entrem para o crime e isso dificulta tudo. O ensino está inserido nas mais variadas vertentes da nossa vida”, opina. Com a esperança de obter reconhecimento, o esforço é intenso, são horas infindas dedicadas aos títulos. Participando da Academia de Letras Juvenil Nossa Senhora da Paz (Alenjusp), encontra nos professores e colegas o estímulo para continuar batalhando por dias melhores.
“Existem vários talentos, temos até um livro de poesia pronto, no qual 25 participaram. É um trabalho lindo e que os afasta das drogas”, diz o professor Rubens Portela. O ápice da realização seria a publicação dos livros, contudo essa meta esbarra na falta de incentivos. De toda a forma, as barreiras não são motivo de desânimo, tantas páginas já foram escritas, só falta o final feliz.