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Juliana Paes revela que as cenas de sexo com Humberto Martins são as mais ensaiadas

Gabriela estreia nesta segunda-feira

Juliana Paes acaba de trocar o vestidinho simples e o chinelo de couro de Gabriela depois de um dia inteiro de trabalho. Mas alguns traços da mítica personagem ainda permanecem na figura da atriz. Seja no sotaque baiano ? que mantém mesmo nos bastidores ? ou na pele bronzeada. Usando calça de moletom, blusa de malha e tênis, ela volta do camarim com a vasta cabeleira presa num nó. E deita por alguns segundos a cabeça no ombro de Humberto Martins. O instante de cumplicidade entre a dupla fora de cena ilustra o discurso da atriz, que garante enxergar no colega um conforto. Os dois estarão juntos em cena a partir de amanhã, em um capítulo especial de estreia de "Gabriela", exibido após "Avenida Brasil". Na nova versão do romance de Jorge Amado, escrita por Walcyr Carrasco, o ator faz o comerciante Nacib, chamado pela protagonista da história de "moço bonito" e por quem ela se apaixona.

? Não tenho nem metade da experiência do Humberto. Para mim, é fundamental ter um ator muito denso como ele ao lado, justamente por existir esse conteúdo de sensualidade no trabalho. Isso me conforta e me deixa mais à vontade para estar com o meu corpo entregue dentro do estúdio ? afirma a atriz.

Elogiado pela minuciosa composição do asqueroso Neco em "O Astro", no ano passado, Humberto agora se empenha em descobrir como interpretar um homem em choque com seus sentimentos. Nacib ama desesperadamente Gabriela, mas não sabe como lidar com o comportamento livre da retirante que, para ele, vem sendo defendida com brilho por Juliana.

? Nunca trabalhei com uma atriz tão entregue quanto ela. Juliana está totalmente à vontade no papel. Existem atores preguiçosos, que não entendem que o nosso trabalho é ser o outro. No começo de uma composição, tudo é meio duro, mas tem algo arquitetônico ali, tem uma matemática ? teoriza o ator.

A exemplo de "O Astro", a novela será exibida de terça a sexta-feira, na faixa das 23h, com uma duração menor, de 78 capítulos. Envolvidos com o folhetim desde o fim do ano passado, Juliana e Humberto garantem não levar para o estúdio o peso de interpretar papéis icônicos, já vividos por Sônia Braga e Armando Bogus na trama exibida pela Globo em 1975.

? É um erro grave as pessoas compararem. Ninguém está copiando outra novela. É uma obra adaptada (do livro "Gabriela, cravo e canela"), há um outro autor, um conceito diferente ? lista o ator.

Para a atriz, que aos 33 anos encara sua segunda protagonista na TV, o trabalho atual tem sido construído cena a cena, sem ansiedade:

? Venho trabalhar sem pensar na grandiosidade disso tudo, sem pretensão de ter que superar nada. Senão, fica pesado.

Na leitura de Juliana, mais do que toda sensualidade, brejeirice e até inocência que as pessoas têm em mente quando pensam em Gabriela, o que mais a ajudou na composição da mulher que cheira a cravo e tem a cor de canela foi pensar nela como uma sobrevivente.

? Ela é uma retirante que vai para Ilhéus. E chega ao paraíso ao ser escolhida por Nacib para ser sua cozinheira. Encontra um porto seguro. Faz o que gosta e ainda tem aquele moço que acha bonito. Os dois se encantam um pelo outro. A gratidão da Gabriela vem primeiro. Depois, o desejo, a atração física, o fogo, a paixão e o amor ? explica ela.

Passada na década de 20, no auge do coronelismo, "Gabriela" mostra uma mulher extremamente livre, a representação máxima da mudança de costumes de uma época.

? A relação de Gabriela com o sexo é pelo prazer. E o que existe naquela sociedade é o sexo com as prostitutas ou com as mulheres dos coronéis, que não têm escolha ? diz Juliana.

Dona de suas vontades e livre de culpas, Gabriela se realiza como cozinheira do bar de Nacib, o Vesúvio. E com o tipo de relação amorosa que estabeleceu com o comerciante sírio. Casamento não faz parte de seus planos. E está tudo na mais perfeita ordem. Mas é Nacib quem acredita que, ao oficializar a relação, terá como manter a mulher mais protegida da cobiça de outros homens.

? Ninguém muda ninguém. Você precisa aceitar o outro do jeito dele ou terá conflito. Eu já passei por isso em relações que vivi ? admite Humberto: ? No final, depois de tropeços e tentativas como casal, eles acabam se gostando do jeito de cada um.

Gravada na ocasião em que O GLOBO acompanhou os atores no estúdio, uma cena em especial exemplifica a química da dupla em frente às câmeras. Vestindo uma camisola, Gabriela se ajoelha aos pés de Nacib para fazer um escalda-pés no comerciante. Eles trocam olhares que misturam malícia e ternura. E riem juntos.

? A aura da sensualidade é muito presente nas obras do Jorge Amado. Ele descreve muito bem esse calor do baiano ? constata Juliana.

O autor desta versão, um admirador do escritor, se beneficia do horário de exibição para sublinhar a lascívia já descrita na literatura.

? Seria impossível adaptar sua obra com fidelidade sem lançar mão da sensualidade. Mas nada é gratuito ? garante Walcyr.

Juliana costuma questionar a necessidade desse tipo de apelo mais sensual nos trabalhos que realiza. No caso de "Gabriela", ela afirma que as sequências apimentadas estão inseridas no contexto de "uma história de amor".

? Não são as cenas mais agradáveis de serem feitas, mas também não é um grande problema. Não penso: "Ai, meu Deus! Hoje gravo cena de sexo".

Ator com um histórico de exposição corporal na TV, Humberto, que no ano passado voltou a se despir em "O Astro" ? trabalho realizado pela mesma equipe do diretor-geral Mauro Mendonça Filho, agora à frente de "Gabriela" ?, revela não ficar muito à vontade neste tipo de situação.

? Antes de mais nada, há o constrangimento interno. Para mim, é muita exposição. Você começa se expondo diante de uma equipe e sabe que será visto pela massa. Há uma luta interior, no meu caso, como ator. Preciso ser muito bem dirigido, como agora. Não gosto do diretor que chega e fala: "Faz aí e manda ver". Antigamente, era assim, uma pegação horrorosa, como se fosse pornochanchada. Hoje, fico mais seguro. Acho mais digno ? desabafa.

Para Juliana, tais sequências funcionam como um balé. Ou seja, são totalmente coreografadas.

? Ali temos que expressar um amor diferente, de paixão, que não é apenas sexo. São as cenas mais plasticamente ensaiadas e as menos intuitivas que fazemos. É uma contradição mesmo. A gente deixa a emoção fluir mais nos outros momentos, não nesses ? explica a atriz.

Apesar de se passar numa outra época, a trama, destaca Walcyr, permanece atual:

? É uma relação com a qual temos muito que aprender, pois fala da liberdade que o amor deve ter em relação às normas sociais.