No dia 1 de agosto (sábado), às 14h, o Itaú Cultural dá início à quarta e última temporada da versão online da série Camarim em Cena, na qual coloca no ar semanalmente em seu site (www.itaucultural.org.br) encontros realizados com personalidades das artes para falarem sobre seus processos de criação e toda a preparação antes de entrar em cena. Este bloco final, marcado pela versatilidade de atuações dos convidados em diferentes palcos, começa com Laura Cardoso, atriz com mais de 75 anos de carreira no teatro, cinema, rádio e, essencialmente, televisão. Nas semanas seguintes, a série traz os encontros realizados com o ator Fernando Sampaio, fundador da Cia LaMínima de Circo e Teatro, a premiada atriz, diretora e dramaturga Grace Passô, o diretor José Celso Martinez Corrêa, fundador do Teatro Oficina e um dos principais nomes do teatro brasileiro. A atriz Andrea Beltrão encerra a série. Mesmo com menos tempo de atuação, como Laura ela traz um intenso currículo composto por papeis reconhecidos para além dos palcos teatrais.
Em uma conversa descontraída mediada pelo crítico teatral José Cetra, repleta de lembranças e com um olhar profissional e autocrítico sobre suas mais de sete décadas dedicadas ao ofício como atriz, Laura Cardoso conta que já demonstrava a verve artística desde muito novinha. “Eu tinha uma vontade imensa de me mostrar, de fazer, de representar desde criança”, revela. “Eu brincava na calçada com uma amiga e a gente representava duas pessoas esperando o bonde. Quando ele passava, a gente subia e descia rapidinho”, conta a atriz, que foi contratada aos 15 anos para fazer rádio teatro na Rádio Cosmos, em São Paulo.
Filha de imigrantes portugueses nascida em 1927 no bairro do Bixiga, em São Paulo, ela recorda como a garota Laurinda de Jesus Cardoso se transformou em Laura Cardoso – o nome foi sugestão de um amigo radialista que não percebia apelo artístico em seu nome de registro – e como a carreira iniciada tão cedo a fez acompanhar a evolução dos meios de comunicação no Brasil, atuando no rádio, na televisão, no cinema e no teatro, além de outras atividades artísticas, como dublar a voz da personagem Betty, da animação The Flintstones, exibida no Brasil na década de 1960 pela TV Tupi.
Sobre sua relação com o espaço do camarim e a preparação para entrar em cena, Laura é taxativa ao definir o local e os momentos que passa ali como de total dedicação ao trabalho e à concentração para vestir o personagem. “Leio várias vezes o texto, para compreender realmente o que o autor quer dizer. Ele quer ver o que escreveu ali no palco. Você tem de respeitar o que o autor escreve, o que ele quer, o que ele sonha com os personagens”, define Laura.
Autocrítica, ela revela gostar de suas atuações, mas afirma ser fundamental rever tudo o que faz, para apontar os próprios erros, onde acertou e onde poderia fazer melhor. Apesar da avaliação severa sobre seu trabalho, no entanto, se diz satisfeita com o resultado: “Amo representar, amo ler a peça de teatro, amo estar me mostrando para o público. Acho que gostei de tudo o que fiz.”
Em 2017, Laura Cardoso foi a homenageada da 33ª edição da série de exposições Ocupação, do Itaú Cultural, que naquele ano dedicou todas elas ao trabalho de mulheres essenciais para a arte e para a cultura brasileiras. A mostra física realizada na sede da instituição, em São Paulo, também deixou como legado um hotsite que se aprofunda nos trabalhos realizados pela atriz, acessível neste link: https://www.itaucultural.org.br/ocupacao/laura-cardoso.