Alunos da segunda metade do ensino fundamental (do sexto ao nono ano) e do ensino médio de escolas públicas e particulares têm sérios problemas no aprendizado de matemática e não atingiram as metas definidas pela ONG Todos Pela Educação, segundo dados divulgados nesta quarta-feira (1º).
Mais de 85% dos estudantes do nono ano do fundamental em todo o país foram "reprovados" em álgebra, geometria e outras áreas da matemática, de acordo com a pesquisa. Isso significa que só 14,8% tiveram pontuação adequada. A meta para 2009 não era muito alta - bastava que 17,9% dos alunos tivessem nota satisfatória.
O desempenho dos estudantes e as metas levam em conta a pontuação dos alunos no Saeb, sistema de avaliação do ensino básico realizado pelo MEC (Ministério da Educação). Apesar de terem se saído mal, os estudantes voltaram a ter desempenho equivalente à 2003, quando 14,7% deles foram "aprovados" em matemática.
Depois de 2003, em duas avaliações do Saeb (2005 e 2007), menos estudantes foram bem na área - 13% e 14,3% respectivamente. Só em 2009 é que houve recuperação na área, ainda que abaixo da meta.
Segundo Priscila Cruz, diretora executiva do Todos Pela Educação, falta um projeto definido para os anos compreendidos entre o sexto e o nono ano do ensino fundametal.
- Existe uma preocupação grande com a alfabetização, com os pequenos e com o ensino médio; com os jovens que são o futuro do país. Mas esses estudantes quebram o ritmo justamente aí [entre o sexto e nono ano do fundamental]. Se ele vem bem e não recebe a atenção devida, não vai chegar bem ao ensino médio também.
Para Mozart Neves Ramos, presidente executivo da ONG, é preciso valorizar o professor de matemática. Para ele, há falha na preparação do aluno de licenciatura de matemática.
- A Academia não prepara o futuro professor de escola pública, porque não conhece a realizade da escola pública e os problemas sociais daqueles alunos, suas deficiências de aprendizado. Ela [academia] prepara apenas para o mestrado. E é lógico que ao se formar, ele [aluno] vai preferir ganhar uma bolsa de R$ 1.300 para estudar a dar 40 horas semanais de aula por R$ 900 mensais. Isso sem falar nos riscos de violência para chegar ao trabalho, já que muitas escolas ficam em locais perigosos.
Ramos defende não só um melhor preparo e salário aos educadores, como destaca também a importância de um plano de carreira e infraestrutura nos colégios para a qualidade do ensino em qualquer disciplina.
Ensino médio
No ensino médio, os estudantes foram ainda pior - só 11% dos jovens matriculados nos colégios tiveram nota satisfatória em matemática, o que significa que 89% deles não aprenderam o suficiente. Mais uma vez, a exigência não era alta - bastava que 14,3% atingissem boa pontuação para cumprir a meta.
Mais uma vez, o número significou uma ligeira melhora com relação aos anos anteriores do Saeb - em 2007, apenas 9,8% dos estudantes haviam se saído bem em matemática; já em 2005, o número foi de 10,9%.
No primeiro ciclo do ensino fundamental, a melhora em matemática foi patente - a meta era de que 29,1% dos estudantes tivessem desempenho satisfatório, mas o número chegou a 32,6%, quase um terço do total de estudantes matriculados. A quantidade de alunos com boas notas subiu de 15,1% em 2003 para 18,7% em 2005, chegando a 23,7% em 2007 e ao atual patamar, em 2009.
Todas as regiões
Em ambos os níveis de ensino - fundamental e médio -, todas as cinco regiões do país tiveram "nota vermelha" em matemática. A pontuação mais baixa foi para a região Norte, em que apenas 4,9% dos alunos tiveram pontuação satisfatória na área.
Na opinião da diretora-executiva do Todos Pela Educação, Priscila Cruz, os dados apontam que os alunos matriculados nas escolas públicas têm aprendizado "muito distante do adequado nas matérias que são a base escolar", como matemática.
- É preciso olhar para o presente e enxergar que o futuro destas crianças está definitivamente comprometido.