Você já ouviu falar em marido de aluguel? Pois é, o nome pode parecer estranho, mas serve para identificar um novo tipo de profissional, que faz pequenos serviços domésticos que o maridão não faz (por não saber ou até nem existir mais na relação). Como o normal seria que o próprio "homem da casa" cumprisse esse papel, quando ele não sabe ou não tem tempo para zelar pela manutenção do lar, a solução é alugar um!
A gerente administrativa Rute Duarte da Silva contrata esses profissionais com frequência, seja para instalação de chuveiro, tomadas ou troca de torneiras. "O resultado é sempre bom, porque se não fica bom, a gente reclama e ele faz de novo", diz.
Além da vantagem de não precisar pedir nada ao companheiro - que às vezes não tem tempo, não sabe fazer o que precisa ou não está com vontade -, quem contrata um marido de aluguel ainda agenda um horário para o atendimento e conta com um profissional bem disposto. "Esses dias meu chuveiro queimou, chamei o dito, ele comprou o chuveiro, pagou e instalou. Melhor, só se ele fosse bem gato... E ainda é super simpático", brinca Rute, que é divorciada.
A nova profissão vem crescendo, e não é à toa. Se por um lado as clientes estão satisfeitas, por outro os maridos de aluguel gostam do que fazem. Christian Salgado é um bom exemplo disso. Depois de trabalhar como bancário e sofrer com a rotina de pressão, ele acabou tendo pedras no rim, passou por várias cirurgias. Quando voltou a trabalhar, foi transferido para outra agência. O local foi assaltado 15 dias após o retorno de Christian. O caso foi tão sério que ele desenvolveu a síndrome do pânico.
Christian ficou um tempo afastado das atividades profissionais pelo INSS. Também passou por tratamento psiquiátrico. Ali, a médica o orientou a fazer psicoterapia e a ocupar seu tempo com algo de que realmente gostasse, que o fizesse esquecer o trauma. "Nessa eu comecei a arrumar coisas nas casas dos amigos, parentes, sem cobrar nada. Eu sempre gostei de arrumar as coisas, isso vem desde meus avós, que me ensinaram o básico, depois meu pai e, enfim, acabei fazendo cursos de aperfeiçoamento. Até que um dia uma amiga que tem uma gráfica precisou de alguns serviços. Como eram muitos, ela disse que eu só faria o serviço se cobrasse, porque do contrário chamaria outra pessoa", lembra o profissional, que acabou aceitando a proposta.
Dos pequenos consertos para a carreira como marido de aluguel, foi um pulo. A esposa de Christian foi quem deu a ideia do nome, já que as vizinhas e amigas do casal viviam "pedindo o marido emprestado". Então, por que não alugá-lo para os serviços? A sugestão foi boa, já que o ex-bancário não estava recebendo nada do banco nem da previdência na época. Trocou os serviços pela confecção de um site (www.seumaridodealuguel.com.br) e agora atende por toda São Paulo.
Atualmente, o profissional comemora o sucesso de seu trabalho. Tem vários clientes na capital e arredores, desde solteiras e divorciadas até homens e mulheres casadas. Quem quer contratá-lo precisa agendar o atendimento com no mínimo dois a três dias de antecedência.
Apesar de bem criativo, o nome "marido de aluguel" causa dúvidas e pode ter duplo sentido para algumas pessoas. Nesses casos, é preciso ter jogo de cintura para não ser mal interpretado e nem perder possíveis clientes. "Já me ligaram querendo saber quanto eu cobrava para passar a noite. Eu gentilmente respondi: ?a senhora está equivocada, creio que a senhora não leu o anúncio direito?. Daí a pessoa me pediu desculpas e desligou", lembra Christian. "Outra cliente, depois de eu ter executado todo o serviço, me perguntou se eu fazia algo mais. Eu disse que não e pedi desculpas para não ficar chato, né?".