Em visita a qualquer cidade, um dos pontos que sempre atraem os turistas são os Mercados Públicos. Neles, além de um cartão postal, de uma forma particular, é possível enxergar um pouco das entranhas da região, das tradições, dos costumes expressos na culinária e no artesanato. Em Teresina, além do espaço para a comercialização de itens que vão do vestuário à temperos e utensílios domésticos nostálgicos, o espaço ainda abriga uma galeria de arte que possibilita uma conexão entre artistas renomados e artesãos talentosos.
Localizado nas proximidades do Rio Parnaíba, ao lado da Praça da Bandeira e do marco zero da cidade, o Mercado São José, conhecido pelos teresinenses carinhosamente por Mercado Velho, foi uma das primeiras obras de Teresina, que havia sido nomeada a nova capital em 1854 pelo conselheiro José Antônio Saraiva.
O espaço, assim como em toda cidade, foi o grande centro comercial por mais de 100 anos. E muito mais do que os produtos e os comércios repassados de gerações em gerações, carrega a história de Teresina que pode ser sentida nos pequenos detalhes da arquitetura e dos souvenirs carregados da mais pura piauiensidade.
Em 2017, foi finalizada a sua última reforma na qual foi feito o restauro estrutural e arquitetônico respeitando as características originais, mas com grande melhorias nas instalações e adequações de acessibilidade, bem como a criação da sua galeria de arte. O investimento foi de cerca de R$ 3 milhões da Prefeitura de Teresina e Governo Federal.
Arte, tradição e cultura na Galeria do Mercado
Um dos espaços do Mercado que merece destaque com a última reforma é a Galeria de Arte, que tem a curadoria de Guga Carvalho, coordenador de artes visuais da Fundação Monsenhor Chaves. Devido a sua arquitetura original, para chegar ao mezanino é necessário os mais altos atentarem para o arco de entrada, que foi preservado na sua altura, mas que possibilita baixar e levantar a cabeça para um mergulho na arte com as exposições.
Grandes artistas piauienses já tiveram suas obras expostas no espaço, como Fátima Campos, Nonato Oliveira, Aureliano Muller, Elda Ribeiro e uma exposição coletiva do Prêmio de Artes Visuais. Hoje recebe a Equilíbrio Entre Rios, dos artistas visuais Tiago Marques, de Sobral/CE José Ailson de Teresina/PI.
E através das exposições, o espaço vem agregando mais valores, bem como uma reflexão sobre a cidade e suas particularidades em forma de arte, como na exposição de Fátima Campos na qual trouxe, na exposição Pigoita, diversas obras feitas de argila, a mesma matéria prima em que são produzidos alguns itens de artesãos do próprio mercado.
Para o coordenador de artes visuais da FMC e coordenador do espaço, Guga Carvalho, o maior diferencial da galeria do Mercado para as demais na cidade é a mistura cultural democrática que proporciona, além do encontro entre grandes artistas e simples artesãos que trocam experiências e vivências.
“É um espaço único que consegue agregar numa mesma exposição todas as esperas sociais. Na abertura de uma exposição vemos desde um decorador ‘chique’ até o Chiquinho que vende rede. Acho que nunca vi um espaço ser tão democrático com tantas pessoas diferentes conviverem juntas fluindo a arte e em nome da arte. Eu acho um privilégio, de todas as pessoas que vi, de turistas que passam de fora que vem a galeria, ficam encantadas justamente por essa soma de características que ela tem, que é um espaço agregador, que dialoga com o mercado, que é um lugar que auxilia no mercado, na revitalização do centro e na estrutura da galeria que muito bonita, com luzes adequadas, um projeto bonito, que dá boa visibilidade e valoriza muito o trabalho do artista”, explica.
Vitrine interna e externa de artistas para os negócios
Se por um lado a galeria de artes no Mercado proporciona um encontro de grandes artistas com outro tipo de público e, proporcionalmente, o acesso de pessoas que nunca entraram numa exposição, os permissionários do espaço, muitos deles grandes artistas artesãos, também se beneficiam com a circulação de pessoas, muitas delas clientes em potencial.
Guga Carvalho explica que desde que a galeria foi aberta, sentiu a pluralidade do público, com muitas pessoas que nunca haviam entrado no mercado e foram atraídas por uma exposição, saindo encantadas tanto pelo trabalho exposto como pelo mercado e a simpatia dos vendedores.
Para a vendedora Werlane de Sousa, permissionária do local e que trabalha com venda de artesanato, as exposições acabam atraindo o público para conhecer a história da cidade que é contada pelo Mercado, a sentir o cheiro da tradição na culinária e a ver de perto o trabalho produzido por outro tipo de artista. “As pessoas chegam aqui e procuram artesanato, mas não só aqui. A gente indica os outros lugares também, mostra que temos outros espaços como o centro de artesanato e outros pontos turísticos. A cultura como um todo ganha pela rotatividade. E com a rotatividade das exposições, sempre renova as pessoas que vem”, frisa.
Werlane destaca ainda que, muito mais do que a visitação na sua loja, as vendas também tiveram uma melhora, tanto pela reforma do espaço como pelas exposições que atraem público. “Esse ano não foi muito bom para o comércio, mas tivemos uma melhoria. As pessoas que não compram de primeira, em uma outra oportunidade sempre voltam pra comprar”, destaca.
Sentado em um banco quase no chão, tímido, produzindo uma peça – uma mão de madeira- encomendada para um homem que pagava promessa, estava o mestre Luís, um senhor sorridente que já tem mais de 35 anos no Mercado Velho. Ele produz esculturas de madeira e sempre acompanha as exposições “Além de as pessoas virem para essa exposição, elas sempre descem e vem pra cá. Eu tenho um grande orgulho de ver esse movimento, que também me ajuda nas vendas”, destaca o artesão, que já prepara o seu material para uma exposição coletiva com outros artistas do Mercado.