A menina Joanna Cardoso Marcenal Marins, de 5 anos, morreu, no mês passado, de meningite causada pelo vírus da herpes. Esta foi a conclusão que peritos do Instituto Médico Legal chegaram sobre o caso da criança, que passou quase um mês em coma, internada em uma clínica em Botafogo, após sofrer convulsões e ter sido atendida por um falso médico no hospital Rio Mar, na Barra da Tijuca. Ao dar entrada na UTI, Joanna tinha hematomas nas pernas e sinais de queimaduras nas nádegas - o que levou a polícia a investigar maus-tratos.
O laudo que aponta meningite como a causa da morte não esclarece nada sobre as marcas que Joanna apresentava. O IML ainda depende de exames complementares, que estão sendo realizados, para dar o resultado final da análise da queimadura. A mãe da menina, a médica Cristiane Cardoso Marcenal Ferraz, acusa o pai de Joanna, o técnico judiciário André Rodrigues Martins, de maus tratos. O casal disputava na Justiça a guarda da filha desde seu nascimento.
Falso médico levantou suspeitas sobre madrasta
Em julho, quando estava na casa do pai - a menina foi afastada da mãe por 90 dias por decisão de Cláudia Viera, juíza da 1 Vara de Família de Nova Iguaçu -, Joanna apresentou, segundo André, convulsões. Ela foi levada pelo pai a dois hospitais, entre eles o Rio Mar. Lá, foi atendida pelo falso médico Alex Sandro da Silva Cunha, um estudante de Medicina que liberou Joanna embora ela estivesse desacordada. Em seu primeiro e único depoimento à polícia, Alex, que agora está foragido, levantou suspeitas contra a madrasta da criança, Vanessa Maia.
Segundo ele, Joanna pediu no hospital para ir ao banheiro, mas Vanessa teria dito que ela não precisaria tirar a calça, pois estava de fralda. Naquele dia, a criança já tinha a queimadura nas nádegas, produzida 40 dias antes, conforme foi constatado pela perícia.
Apesar de todas as dúvidas que cercam o caso, o que matou Joanna, segundo o laudo, foi a meningite provocada pelo vírus da herpes. Segundo o infectologista Edimilson Migowski, professor de infectologia pediátrica da UFRJ, o contágio com o vírus pode acontecer pelas vias aéreas ou pelo contato com pessoas ou objetos contaminados. Mais conhecido por provocar lesão labial, o vírus da herpes, num organismo com imunidade baixa, pode afetar o sistema nervoso central, evoluindo para uma encefalite.
De acordo com o especialista, na maioria dos casos, com o tratamento adequado, a pessoa é curada, mas há históricos de sequelas, como paralisia.
"A regra, no caso de meningite viral por herpes, é ter uma infecção localizada, febre e mal estar, mas isso depende do sistema imunológico da criança. Em tese, no caso da Joanna, ela poderia estar com a imunidade baixa por estar sofrendo algum tipo de estresse. A questão familiar pode influenciar, isso é um fato. O próprio estresse pode causar a imunodeficiência transitória. Se isso coincidir com a infecção por vírus, o caso pode se agravar. A meningite viral por herpes pode causar convulsões e rigidez na nuca" explicou Migowski.
Ele disse que quando a criança faz um quadro de meningite não é possível saber se ela foi causada por vírus ou bactéria. Para descobrir e escolher o tratamento adequado, é necessário fazer uma punção lombar.
"Nem todo o hospital tem recursos para identificar o vírus, mas é possível que a criança dê pistas de que apresenta sintomas da meningite por vírus, como ter aftas na boca e inflamação na gengiva. Ela pode pegar ao compartilhar chupeta, brinquedos ou ter contato com um adulto infectado" explicou o especialista.