Marcos Paulo está no meio de um turbilhão. Às vésperas de sua estreia como diretor de cinema, à frente do longa "Assalto ao Banco Central" - que chega aos cinemas no próximo dia 22 - e comemorando nada menos que 55 anos de carreira, o ator e diretor da TV Globo enfrenta uma batalha contra um tumor no esôfago, descoberto há alguns meses. Mas ele não para - nem pensa em parar.
"Enquanto eu tiver força, e cabeça, e minha profissão me permite trabalhar até muito velho, tanto como ator e diretor, eu não quero parar, eu não posso parar, eu tenho que estar em movimento", disse ele em entrevista ao EGO em seu apartamento na Barra da Tijuca, Zona Oeste do Rio, na última sexta-feira, 8.
Aos 60 anos, Marcos Paulo, que começou no teatro aos 5 e aos 15 já estava na TV, levado pelo pai de criação, o autor Vicente Sesso, falou sobre seus projetos de trabalho e a luta contra a doença: ?Não vai ser a primeira guerra que eu enfrento nem a primeira batalha que vou vencer.? Confira os principais trechos da entrevista:
"Assalto ao Banco Central"
"Desde que aconteceu o assalto, em 2005, o assunto me interessou muito. Não pela apologia ao bandido, ao crime, mas pela precisão cirúrgica e competência com que eles conseguiram fazer esse trabalho. Eles conseguiram fazer um túnel de 80 metros, passando por baixo de um canal, sem provocar um curto circuito, sem arrebentar um cano e saindo exatamente embaixo do cofre do Banco Central. Ou seja, é um trabalho de mestres."
Estreia no cinema
"Demorei a estrear como diretor de cinema porque queria uma história que me animasse muito e também me sentir maduro para dirigir. Apesar de ter entrado na TV em 1978, isso já tem 30 e poucos anos, eu queria que, quando eu colocasse a mão no cinema, não fosse uma brincadeira. Queria poder fazer um filme legal, com uma história bacana, porque o filme fica na história da gente, na história de um país. Queria fazer um filme com a certeza de que estava colocando a mão na massa com a quantidade certa de farinha, de água, de ovo, de todos os ingredientes."
Novos filmes
"Fiquei muito animado e tenho outros projetos para fazer. Quero deixar claro que fazemos um filme inspirado em fatos reais. Não é um documentário nem um docudrama. É importante que as pessoas saibam que é um trabalho inspirado em fatos reais. Foi uma história de ficção partindo de fatos reais."
Personalidade inquieta
"Em 1970 cheguei na Globo como o galãzinho da vez. Em 1978 fazia papéis de meninos bonzinhos, galãzinhos. Enchi a paciência do Daniel Filho (diretor da Rede Globo) para fazer o bandido de uma história. Em 1978 tive vontade de virar o jogo e partir para outra coisa. Conversando com o Boni (ex-diretor da Central Globo de Produções), fui embora para Nova York e morei lá um ano, onde estudei direção. Quando voltei para o Brasil, já foi como diretor. Sempre fui insatisfeito com as coisas, tentando descobrir um outro lado meu."
Insatisfação
"Eu continuo sendo insatisfeito. Acho que, como disse a avó gaúcha de um amigo meu, a gente não pode colocar o pijama para sestear, fazer a sesta, dormir à tarde. Quando acontece isso, você praticamente está assinando seu atestado de óbito. Enquanto eu tiver força, e cabeça, e minha profissão me permite trabalhar até muito velho, tanto como ator e diretor, eu não quero parar, eu não posso parar, eu tenho que estar em movimento."
O câncer
"Quando você encara uma doença como essa é importante ter objetivos, ideias de trabalho para frente, não pode parar. Só parei para pensar nela nos momentos em que o tratamento me fez parar para descansar e dar um tempo para o corpo. A doença não me atrapalhou em nada. Apesar da reação ser esperada, o tratamento, sim, mexeu comigo. Sabia que em alguns momentos isso iria acontecer. Nos momentos que isso não acontece, estou em absoluta atividade. Eu não consigo ficar parado."
Descoberta da doença
"A primeira sensação que tive foi de que havia perdido a batalha. Porque achava que nunca ia ter essa doença. A segunda reação que eu tive foi: "Não perdi a batalha, eu sou um ser humano e ele é passível de ficar doente. Agora eu tenho uma guerra pela frente com várias batalhas e vamos embora". Não vai ser a primeira guerra que eu enfrento nem a primeira batalha que vou vencer.
Na verdade, acho que a segunda grande sensação foi eu me sentir um ser humano e não um deus, um super-homem. Na verdade a gente nunca sente que é vulnerável. Sempre achei que comigo não iria acontecer nada. Mas a cada vez que me sentia assim, levava uma cacetada. Talvez a primeira delas tenha sido em 1975, quando sofri um feio acidente de moto. São coisas que acontecem na vida da gente para colocarmos o pé no chão e que nos mostram que somos vulneráveis e que temos que tomar cuidado."
Aos 60 anos
"Foi num momento em que estou fazendo 60 anos, que é uma idade emblemática. Acho que aconteceu numa hora que me faz rever muitas coisas na vida. As que foram feitas e as que virão. A pergunta não é por que aconteceu isso comigo, mas sim para que esta acontecendo isso comigo. Daqui a um tempo acho que encontrarei a resposta. "
Como as filhas souberam
"Não foi fácil. Tenho duas filhas adultas [Vanessa, 39 anos, do namoro com a modelo italiana Tina Serina, e Mariana, 30, filha do casamento com Renata Sorrah], e a menor, de 11 anos [Giulia, do casamento com a atriz Flávia Alessandra]. Chamei as três para jantar e contei para elas. Elas deveriam saber por mim. Se soubessem por outras vias iam se sentir traídas. Assim como resolvi abrir publicamente.
O fato de você ser uma pessoa pública e ser passível de uma doença não é vergonha nenhuma. Ela hoje é praticamente uma epidemia. Depois que você entra nesse mundo, você descobre várias pessoas que já passaram ou passam por isso. Isso não é "privilégio" só seu. Acontece até com pessoas do seu círculo de amizades. Acho que a melhor coisa que fiz foi ter aberto e falar."
Como descobriu
"Descobri a doença porque faço check-up de seis em seis meses. Há seis meses não tinha nada. Nos últimos exames, em abril, o tumor apareceu. Acho que estou passando o para as pessoas uma mensagem superimportante. Qualquer doença que é descoberta no início, com o avanço da medicina, tem mais chances de obter a cura."
Tratamento
"Acabei minha quimioterapia e radioterapia. Diria que é meu primeiro estágio. Tenho um exame grande daqui a cinco semanas, quando eu e os médicos vamos ver que atitudes tomar."
Equilíbrio
"Acho que o trabalho é um dos tripés da vida junto com a família. Isso é o que move a gente e nos toca para frente. Não posso reclamar da vida não. Meu tripé está bem implantado (risos)."
Sonho quando receber alta
"A primeira coisa que quero fazer é uma grande viagem. Talvez voltar para a Grécia, que é um lugar que eu amo. Um país lindo e com gente muito gostosa de conviver. Depois, voltar e tocar os projetos para frente. Para o ano que vem tenho duas novelas, e uma minissérie para o semestre que vem."