Neste sábado, 20, comemora-se o Dia da Consciência Negra e em homenagem à data o EGO entrevista a cantora e atriz Preta Gil. Em bate-papo exclusivo, Preta fez questão de exaltar suas raízes e falar sobre preconceito e sua luta por igualdade. A cantora, que é filha de Gilberto Gil - um dos maiores ícones da MPB e ex-ministro da Cultura -, revelou, por exemplo, que foi vítima de discriminação quando frequentava uma escola de classe média alta carioca.
"Quando eu e meus dois irmãos entramos na escola ouvimos muitas piadas de mau gosto, principalmente por parte dos pais. Como éramos os únicos negros de lá, eu era muito estranhada. Os alunos não chegavam perto, sentavam longe... Uma vez a mãe de uma coleguinha da minha irmã disse que não daria carona para ela porque ela era "filha de macaco, uma macaquinha". Minha mãe teve que ir à escola brigar com a mulher", relembra.
Com o tempo, porém, Preta aprendeu a lidar com este tipo de situação e conquistar seu espaço. "Na hora que eu percebi o que estava acontecendo criei um mecanismo de autodefesa e me transformei em uma pessoa muito extrovertida. Mostrei para as pessoas como eu era e fiz elas verem que eu era legal e igual a todos. Tenho amigas de lá até hoje, fui líder de turma", acrescenta.
"Não sou a favor de guetos nem de rótulo"
Apesar das experiências ruins, Preta não concorda com certos movimentos radicais de combate ao racismo e acredita que o assunto que tem que ser tratado com "leveza". "Tem que tirar esse peso. Ser preto é uma dádiva. Pela história, pelo que é", defende.
Políticas em prol dos negros, como as cotas em universidades, também não são bem vistas pela cantora. "Não sou a favor das cotas. Acho que elas deveriam ser apenas por classe social e, automaticamente os negros seriam beneficiados, já que é uma realidade que os negros são maioria nas favelas e classes mais baixas. Cota é um preconceito velado. O ser humano tem que lutar, independentemente da sua cor. Todos têm que mostrar sua capacidade. Quando se cria gueto, dá errado. Já vivemos marginalizados muito tempo. Luto pela igualdade", explica.
Para justificar seu ponto de vista, ela dá o exemplo do avô, José Gil, que foi o primeiro negro a se formar na Escola de Medicina de Salvador e tem até uma praça em sua homenagem em Vitória da Conquista.
"Meu avô é um exemplo. Ele não olhava para a cor como uma limitação e venceu. Foi muito bem sucedido e criou dois filhos com dignidade. Meu pai nunca passou dificuldade. Às vezes a gente compra o preconceito e pensa: "Sou preta e não tenho oportunidade". Não pode ser assim. Tudo que o meu avô passou foi suado e sofrido, mas ele mostrou que era capaz. Meu pai idem!", exalta.
"Sou uma lutadora"
Com o exemplo da família, Preta também demonstra sua garra e está se firmando como um dos principais nomes da música brasileira. Com uma voz forte, ela também é famosa por sua luta contra o preconceito, não só contra os negros, mas também contra as gordinhas, e é querida por muitas mulheres brasileiras.
"Há pouco tempo saiu uma nota no jornal sobre uma professora e ela dizia que as mulheres na favela diziam que o referencial delas sou eu. É muito gratificante. Sou uma lutadora! Nunca deixei que o preconceito me paralisasse e busquei mostrar os meus valores. Tenho muito orgulho de ser a Preta Gil, ser referência para muitas mulheres e fazer com que as pessoas se unam em torno de mim. Quero que as pessoas se enxerguem através do meu trabalho. Que as meninas tenham orgulho da sua cor... Sou muito querida e aceita por milhares de pessoas", festeja.
Para a cantora, a principal solução para o problema do racismo é a educação. E, apesar de não acreditar que o Brasil esteja menos preconceituoso, ela acredita que estamos evoluindo. "Me chamo Preta, um nome forte, que tem uma grande carga de responsabilidade. Não sou a favor de guetos nem de rótulos. As pessoas precisam saber que a cor da pele não nos diferencia em nada. Sou a favor da igualdade... para todos", finaliza.