Quer apimentar a sua vida sexual? Pergunte como ao frei Ksawery Knotz. Polonês da ordem dos franciscanos, Knotz, 43 anos, ficou famoso em seu país depois do sucesso de sua última investida literária - um guia sexual para católicos. Com tiragem inicial de cinco mil cópias, o livro, intitulado "O Sexo que você não Conhece para Casados que Amam a Deus", teve a primeira edição esgotada em menos de um mês e transformou o religioso em guru sexual. No texto, o padre consegue o aparentemente impossível: equilibrar a doutrina católica com os desejos sexuais dos casais modernos. A obra foi reconhecida como legítima pelo conselho católico polonês, tido como um dos mais conservadores do mundo. "Knotz devolve o sentido nobre aos gestos sexuais", diz o padre Márcio Fabri dos Anjos, doutor de ética teológica pela Pontifícia Universidade Gregoriana de Roma, na Itália. "Deus deu a sexualidade ao homem como um dom, um presente. E o frei retoma essa ideia quebrando a moral repressiva sem pender para o extremo liberalismo", afirma.
SUCESSO A primeira edição do livro esgotou em menos de um mês
Ao folhear a obra, disponível apenas em polonês, o leitor pode se surpreender com as opiniões pouco ortodoxas de Knotz. Ele defende, por exemplo, o estímulo oral e tátil nas carícias íntimas e exalta as diferentes posições sexuais, além do uso de óleos e lingeries sensuais para incrementar a relação. Não é à toa que o livro recebeu o apelido de "Kama Sutra" católico na Polônia. Para quem questiona a falta de conhecimento de causa do frei - que é celibatário -, ele tem uma resposta pronta: "Atendi mais de três mil casais em reuniões de aconselhamento conjugal", diz. "Aprendi muito." Ao que tudo indica, o conhecimento de Knotz deve aumentar nos próximos meses. Com o lançamento e o sucesso do livro, todas as sessões de aconselhamento conjugal do franciscano para 2009 foram preenchidas. Mas engana- se quem pensa que o padre se dedica à desconstrução da moral repressiva que rege seus atormentados fiéis. O cerne da doutrina católica permanece intocado no discurso do religioso. Knotz condena o uso dos contraceptivos e anticoncepcionais - sugere a tabelinha para evitar a gravidez - e desaconselha relações sexuais fora do casamento. "O sexo tem duas razões de ser: procriação e reforço do sacramento do matrimônio", diz. "Nesse sentido, ele é o exercício do amor verdadeiro."
Nem sempre a relação da Igreja com a sexualidade foi assim tão amistosa. Durante séculos o catolicismo condenou não só o sexo, mas qualquer atividade que usasse o corpo como instrumento para o prazer. Em dado momento, o cristianismo chegou a pregar o casamento continente, no qual não havia união carnal. Entre os casados, quem sentisse prazer durante a relação sexual era tido como adúltero. "São distorções que a Igreja Católica agora, com um livro como esse, começa a corrigir", diz Márcia Nehemy, psicóloga clínica especializada em sexualidade humana e autora do livro "Os Deuses e o Amor". Márcia conta que durante muito tempo a Igreja exigiu das pessoas um comportamento que não fosse humano. O exagero afastou os fiéis, muitos dos quais foram para outro extremo - a liberação total. "O frei encontrou um meio-termo saudável e deu um passo importante no que diz respeito à moral cristã", reconhece o padre Márcio.
Em breve, o livro ganha tradução para o inglês, espanhol e italiano.