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Rainha da bateria custa até R$ 200 mil

É a rainha de bateria, mulher de muitas curvas e pouca roupa, que antes, durante e depois do Carnaval é o alvo preferencial dos holofotes

Em seu espetáculo anual no sambódromo, cada escola de samba mobiliza cerca de quatro mil integrantes, mas nos últimos anos as atenções têm se concentrado sobre apenas um deles.

É a rainha de bateria, mulher de muitas curvas e pouca roupa, que antes, durante e depois do Carnaval é o alvo preferencial dos holofotes. Originalmente, essas beldades eram da própria comunidade da escola (anônimas ou famosas com anos de dedicação ao samba) e atuavam como mestre de cerimônias. Com a grande visibilidade, a coroa foi valorizada e tão disputada a ponto de, hoje, ser comprada. E não só no Carnaval do Rio de Janeiro: o fato também ocorre na festa de São Paulo. "Não vejo nada demais em ajudar a escola financeiramente, se eu tenho condições", diz Valesca Popozuda, que saiu dos palcos do funk para ser rainha da bateria na carioca Porto da Pedra e na paulistana Águia de Ouro. A prática é comum em várias agremiações e o custo médio do posto é de R$ 200 mil. "Não paguei tudo isso. Foi menos", admitiu Valesca à ISTOÉ. A reportagem apurou que ela teria pago a metade. Para muitos sambistas, esse comércio descaracteriza o desfile e transforma a festa popular em show business.

Algumas escolas têm como rainha atrizes ou cantoras famosas - que nada pagam -, mas é cada vez maior o número de agremiações que alçam anônimas ao estrelato. O investimento vale a pena. Depois de apenas um desfile no Grupo Especial, obscuras modelos ou participantes de grupos musicais exóticos ganham status de celebridade, posam para revistas masculinas, aparecem em programas de tevê e faturam alto.

"Foi um marco em minha carreira, deixei de ser vista como funkeira, meu currículo mudou", exulta Valesca, que pisou pela primeira vez no sambódromo em 2008 e já como rainha da Porto da Pedra. "O Carnaval é internacional, minha imagem ficou mais forte", afirma a moça - que integra o grupo musical Gaiola das Popozudas, de onde, supostamente, vem o dinheiro para pagar a coroa de rainha. Para ela, sua contribuição é beneficente. "É uma ajuda para fazer roupas bonitas para a bateria. Em São Paulo é a mesma coisa, ajudo a fazer um camarim, a comprar fantasias..."

A modelo Ângela Bismarck saiu da Porto da Pedra no ano passado acusando a escola de ter exigido pagamento de R$ 150 mil a R$ 200 mil para que continuasse como rainha. "Foram ao consultório do meu marido com essa proposta", acusa Ângela. Desiludida com o Carnaval, ela se animou quando recebeu há algumas semanas um convite para sair como rainha na paulista Nenê de Vila Matilde. Logo em seguida, levou um choque. "Me cobraram R$ 70 mil", conta. A modelo ligou para o presidente da escola e reclamou. Segundo ela, ele também ficou chocado e disse que não sabia de nada. Outra que diz auxiliar as escolas por onde passa como rainha é a dançarina Gracyanne Barbosa. No último Carnaval, ela esteve na Mangueira e em 2010 sairá pela Vila Isabel, no Rio, e na Império da Casa Verde, em São Paulo. "A rainha não deve ser escolhida só por causa da ajuda financeira, mas se puder ajudar, porque não?", questiona. Ela diz que não dá dinheiro, apenas organiza jantares e comprou uma televisão para os integrantes da bateria.

Além disso, o que se comenta no mundo do samba é que, nas escolas em que Gracyanne reina, o cantor Belo, seu marido, dá shows com renda revertida para a agremiação. Ela desmente. "O Belo realmente tem feito shows lá. O que aconteceu foi que o presidente da escola queria uma data na agenda de apresentações e eu consegui." Como Valesca, também Gracyanne estreou na avenida em 2007 já como rainha de bateria. O retorno foi imediato. "Tenho trabalho o ano inteiro por causa do Carnaval." Uma das escolas que leiloariam o posto de rainha da bateria neste ano - por R$ 200 mil - é a Unidos de Viradouro. Depois que o fato últifoi noticiado, o presidente, Marco Lira, negou a informação. E a coroa continua sem dona.

A mais badalada rainha de todos os tempos, a modelo Luma de Oliveira, nunca pagou para comandar a bateria, mas inaugurou a temporada de generosidade ao comprar fantasias para componentes de sua primeira escola, a Tradição. Esse tipo de negociação começou há pelo menos seis anos. Em 2006, a modelo Viviane Araújo saiu da Mocidade Independente de Padre Miguel acusando a escola de ter vendido o posto à sua sucessora, Thatiana Pagung, por R$ 93 mil. "Não concordo com isso. Nunca paguei e até tive que deixar uma escola porque me cobraram", diz Viviane, atualmente no Salgueiro. Norberto Anastácio, da escola Pérola Negra, de São Paulo, prefere meninas identificadas com a agremiação. "Nosso negócio é samba no pé." No Rio, há quem tenha a mesma opinião. "A nossa rainha tem a cara da comunidade", orgulha-se Laíla, o carnavalesco da Beija-Flor, uma das escolas que não aderiram à venda de coroa. "Quando vieram com a ideia de trazer alguém de fora, cortei logo." Por conta disso, a talentosa Raíssa brilha em Nilópolis há seis anos.