Há um seleto grupo em Brasília disposto a pagar caro por horas de entretenimento e prazer. Eles são jovens entre 18 e 30 anos, filhos de grandes empresários e que costumam frequentar eventos de música eletrônica. Em uma noite, há quem pague até R$ 35 mil em um único pedido de garrafas de champanhe. Tudo para agradar os amigos e impressionar mulheres, selecionadas a dedo, que ocupam os camarotes de boates e festas.
O produtor de eventos Alessandro Benjamim é especializado em atender o público AA da capital, que está acostumado a frequentar eventos internacionais. Em Brasília, ele é um dos responsáveis por realizar o Federal Music, principal festa eletrônica do DF que traz DJs internacionais com cachês em dólar e euro. Há 23 anos no ramo de eventos, Benjamim sabe bem como agradar seu público.
? Esse público está acostumado a frenquentar os melhores lugares com segurança e mimos. Eles querem cada vez mais exclusividade no tratamento e exigem um alto padrão de atendimento. Por isso estamos prontos para mimá-los e oferecer um evento de padrão internacional.
Os "mimos" são entrada exclusiva, serviço de manobrista, hostess (recepcionistas) e garçons exclusivos, segurança e camarotes luxuosos com banheiros separados. Um espaço como esse custa entre R$ 3 mil e R$ 8 mil com direito a combos de vodkas e energéticos. Mas, o que encarece a conta mesmo são as extravagâncias dos clientes, que costumam chegar de limusine na balada.
? Existe uma competição saudável, digamos assim. Já houve uma situação em que um cliente pediu 20 garrafas de champanhe para o seu camarote. Para não ficar por baixo, o cliente do camarote ao lado pediu 200 garrafas da mesma champanhe. Esse único pedido custou R$ 35 mil.
Embora pareça exagero, a prática já se tornou comum entre os baladeiros ricaços. O advogado Fernando Guimarães Mendes, 48 anos, é um dos clientes vips de Benjamim. Ele disse que adora ir a festas com música eletrônica e sempre prefere pagar mais para ter uma boa noite de diversão. Mas, diferentes dos mais jovens, ele divide os custos do camarote com os amigos.
? Eu tenho uma filha de 18 anos que costumo levar às festas comigo. Além disso, prefiro ter um espaço mais confortável para minha diversão. Acho que compensa pagar um pouco mais para ter uma noite com segurança e comodidade. Não faço extravagâncias, mas já vi muitas e acho até engraçado.
A especialista em análise do comportamento Fabiana Cassimiro, acredita que os gastos exorbitantes em baladas podem revelar uma carência psicológica causada por diversos fatores. Para ela, as novas gerações são carentes de valores e princípios.
? Esses jovens, que normalmente gastam o dinheiro dos pais, muitas vezes estão em busca de preencher um vazio causado por uma falta de atenção familiar. O meio social em que eles vivem geralmente é carente de princípios e valores sólidos.
Segundo Fabiana, quando esses jovens se dão conta o que representam essas extravagâncias, eles tendem a entrar em depressão e até procurar uma fuga nas drogas.
? O resultado de uma constância dessa prática, principalmente entre os mais novos, é um sentimento de frustração. Porque há coisas que o dinheiro não compra. Quando eles se dão contam dessa realidade podem até tentar suicídio em casos mais graves.