Aos 31 anos, Ronaldinho Gaúcho vive com seu ?Sorriso Aberto?. E tem motivos para isso. Segundo o camisa 10 do Flamengo, a música de Jovelina Pérola Negra arrepia e tem tudo a ver com ele. Na letra, a saudosa sambista diz que ?malandro deste tipo que balança, mas não cai, de qualquer jeito vai, ficar bem mais legal, para nivelar a vida em alto astral?.
Depois de ser alvo de críticas devido às atuações nem tão brilhantes, Ronaldinho está em alto astral e em grande fase. Com 17 gols na temporada, convocado para a Seleção Brasileira para o amistoso contra Gana, ídolo da torcida, ele declara seu amor colorido de vermelho e preto: ?Hoje, eu me sinto 100% Flamengo. Depois, quando parar de jogar, me imagino torcendo pelo Flamengo?.
De sorriso e coração abertos, Ronaldinho Gaúcho falou ao GLOBOESPORTE.COM sobre a felicidade de voltar à Seleção, a alegria de morar no Rio de Janeiro perto do filho (João, de 6 anos), de pessoas queridas, do samba, da praia. Exaltou a amiga e presidente Patricia Amorim, e o técnico Vanderlei Luxemburgo. O patrulhamento da sua vida fora de campo não chega a incomodá-lo. O craque revela que sonha em se casar um dia. Só não sabe quando. No momento, Ronaldinho bate um bolão nas noites cariocas:
- Solteirão assim está bom pra caramba.
Na entrevista, Ronaldinho Gaúcho demonstrou bom humor, gargalhou, mas ficou com a voz embargada quando falou sobre a saudade que sente do pai, morto quando o jogador tinha apenas nove anos. Na saída, cantarolou o funk ?Parado na esquina?, hit que no momento embala suas comemorações. Mas, para Ronaldinho, tudo acaba em samba. Como na letra da música "Sorriso Aberto", de Jovelina, ele é malandro do tipo que balança, mas não cai.
GLOBOESPORTE.COM: Como você recebeu a notícia do seu retorno à Seleção Brasileira para o amistoso contra Gana?
Com uma alegria muito grande de ter o meu trabalho aqui no Flamengo reconhecido. Para mim, isso é motivo de muita alegria e serve de motivação para continuar assim.
O que você ainda pode fazer pela Seleção?
Imagino fazer muita coisa. Fisicamente, estou muito bem. Então, me imagino participando de todas as competições que vêm aí pela frente nos próximos anos, conquistando títulos. Só coisas boas.
Como seria disputar uma Copa do Mundo no Brasil? O Mano Menezes admitiu a possibilidade de você estar na Seleção em 2014...
Completamente diferente. Tive a felicidade de participar de duas Copas do Mundo, venci uma. Poucos atletas têm essa alegria de disputar uma Copa no seu próprio País. É diferente de tudo.
O que você acha dos comentários de que você não apresenta na Seleção o mesmo futebol que joga nos clubes?
Não me incomoda em nada porque conquistei todos os títulos dentro da Seleção Brasileira. Mesmo as pessoas questionando, não é qualquer um que consegue conquistar todos os títulos que tenho dentro da Seleção.
Recentemente você elogiou o Neymar. Esse futebol moleque, vistoso, é o que o Brasil precisa?
É o futebol brasileiro que a gente gosta de ver. Drible, ousadia. É o futebol brasileiro escancarado. Por isso, ele é idolatrado e querido por todo o Brasil.
Fora de campo, como você encara o patrulhamento da sua vida pessoal? Sobre as suas noitadas, de que você faz festa em motel com mulheres...
Nunca tive essa preocupação. Sempre tive o cuidado de fazer nos dias que eu posso. Não faço em véspera de jogo, não faço em concentração. Eu faço quando o tempo me permite. Às vezes, quando a fase não está boa, um futevôlei faz mal; quando a fase está boa, o futevôlei é bom, fortalece. Tudo isso depende do momento, tem que ter discernimento, saber o que é certo e errado e não se deixar levar por comentários que não trazem benefício nenhum.
Como está a vida no Rio de Janeiro?
Maravilhosa. Estou realizado, muito mais do que sonhei. Estou perto do meu filho, posso acompanhar... e, depois, tem tudo que eu sempre sonhei. Estou perto dos meus ídolos de samba, meus amigos, atriz, ator... Aqui tenho contato com gente que não teria se não morasse no Rio. Estou realizado por tudo isso.
Você falou do seu filho (João, de 6 anos, é fruto do relacionamento de Ronaldo com uma ex-dançarina do Domingão do Faustão)... Hoje, qual a lembrança que você tem do seu pai, que morreu quando você tinha nove anos (João da Silva Moreira morreu em 1989, após um acidente doméstico)?
É complicado, pois quando meu pai morreu eu era muito novo. Tenho poucas recordações. Mas as poucas que eu tenho são muito importantes. Quando eu tinha sete anos meu pai dizia aquelas coisas de pai, afirmava que um dia eu ia ser jogador e teria sucesso dentro da minha carreira. Então, hoje em dia, quando as coisas estão bem, eu imagino como seria se ele fosse vivo, vendo a vida que eu estou vivendo, as coisas que aconteceram na minha carreira. O que eu sinto mesmo é saudade. Hoje, ter o meu filho perto de mim é uma situação muito boa. Eu tento ficar com o meu filho, pois é algo que eu não tive quando meu pai morreu.
E seu filho... também vai ouvir de você que ele será um jogador de futebol?
Não boto pressão nenhuma nele, vai fazer o que quiser. Sem pressão nenhuma (risos). Vai fazer o que bem entender, a hora que quiser, cobrança é só para estudar, o resto... A cobrança já será natural porque ele é filho do Ronaldinho.
Você gosta de samba. O que acha da música Sorriso Aberto, que parece refletir um pouco de você, que vive sorrindo?
Essa música chega a arrepiar (mostra os pelos dos braços arrepiados). Gosto muito, muito dessa música, todas as músicas da Jovelina Pérola Negra. É uma pessoa que eu gostaria de ter conhecido, pois eu amo samba. Me identifico com a letra. Quando vou ao samba, eu logo peço. A música é uma coisa que bota pra cima, que tem a ver comigo.
Você conhece samba mesmo, não só pagode que é comum entre a boleirada...
Eu gosto do samba, samba de raiz, eu amo samba.
E a vida de solteiro?
Fiquei muitos anos fora do Brasil, voltei pra cá para ser feliz. Gosto muito da minha vida de solteiro. Sonho um dia casar, mas estou muito feliz com a vida que levo. Mas se um dia casar, sonho ter família, mais filhos. Hoje está bom assim. Solteirão assim está bom pra caramba.
Uma amiga que soube da entrevista me pediu para perguntar até quando você vai ficar solteiro no Rio de Janeiro...
Passa o meu número para ela (risos).
Você imaginou que uma frase tão simples que você falou despretensiosamente ? ?Flamengo é Flamengo? ? viraria uma filosofia para rubro-negros?
Às vezes, o Flamengo tá mal, mas Flamengo é Flamengo. Quando ele tá bem, Flamengo é Flamengo (risos). E não adianta, às vezes quando a coisa é ruim... Flamengo é Flamengo. Às vezes, a coisa tá tão boa que... Flamengo é Flamengo (risos). Não imaginava que ia ter tanto efeito assim, mas eu acho que quando falei aquilo ali resumi o que é o Flamengo, antes mesmo de ter vivido alguma coisa e vestido a camisa do Flamengo. Tive a felicidade de falar que Flamengo é Flamengo (risos).
Qual o balanço que você faz desses quase nove meses no Flamengo, camisa 10, capitão, 17 gols marcados e em grande fase?
Eu consegui ser feliz por inteiro desde o primeiro dia, antes mesmo de jogar. A recepção da torcida... Mesmo quando a gente estava ganhando mas eu não tinha atuações maravilhosas, os jornalistas criticavam, mas a torcida nunca deixou de me apoiar. No momento em que as coisas estavam um pouquinho mais difíceis, os torcedores do Flamengo vinham aqui no Centro de Treinamento e falavam: ?nós estamos contigo, continue assim, no que precisar, estamos aí?. Hoje, eu me sinto 100% Flamengo. Depois, quando eu parar de jogar, me imagino torcendo pelo Flamengo pelo que estou vivendo aqui.
Qual a importância do grupo do Flamengo para sua boa fase?
Toda. A razão do meu sucesso é o grupo, é muita coisa. A presidente que se esforçou para me trazer para cá, o Vanderlei que faz de tudo para que eu me sinta à vontade, meus companheiros que se sacrificam por mim, correm para me deixar bem para poder criar as jogadas. É um grupo de jogadores no qual todos são amigos, a gente se dá muito bem, se sente à vontade. Todo mundo tem prazer de treinar. É muita coisa que faz com que me sinta bem, a razão do meu sucesso é que eles me ajudam muito.
Como é seu relacionamento com a presidente Patricia Amorim, uma mulher presidente de um grande clube?
É a primeira presidente mulher com quem trabalho. É muito legal, porque ela é muito tranquila, calma. Tenho um contato muito bom com ela. Primeiro, por ser capitão da equipe. Sempre conversamos. É uma pessoa muito amiga. Meu relacionamento não é de atleta-presidente, é relacionamento de amizade. Fica fácil trabalhar com amigo. O que a gente tem que conversar, problemas, confusões, alegrias, tristezas, discussões, é muito mais fácil trabalhar.
Qual a importância da torcida nesse momento em que o Flamengo luta pela liderança e pelo título brasileiro?
Agora é o momento que a gente mais vai precisar da torcida. Eu jogava contra o Flamengo e sabia: quando o torcedor do Flamengo vai, fica complicado. É maravilhoso ter esse apoio. É o momento crucial, a gente sabe que se estivermos bem e a torcida chegar junto vai ser muito complicado alguém tirar esse Campeonato Brasileiro da gente. Contamos com a torcida. Temos que fazer nossa parte, mas se a torcida pegar junto os adversários vêem com respeito muito maior.
Qual a expectativa para o jogo deste domingo contra o Vasco já que você ainda não fez gol em clássico carioca?
Não tenho essa preocupação de fazer gol em clássico, minha preocupação é fazer gol sempre (risos), mesmo que não seja clássico. Mas a importância é pela pontuação de acabar o primeiro turno brigando, entre os quatro. É um confronto direto, com outra equipe que está entre as quatro primeiras. Mas, independentemente do resultado agora, tem muita competição pela frente. É lógico que a gente sabe a importância que um Flamengo e Vasco tem. Então, a motivação é de 100%.
Vanderlei falou que você só queria servir seus companheiros, mas que agora pegou gosto em fazer gol...
(Risos) Minha característica sempre foi de ser mais o cara que dá assistência do que fazer gol. Agora, achei um espaço dentro de campo em que eu consigo dar assistência e também fico próximo do gol para marcar. Acho que isso é um mérito do Vanderlei, que sempre me pede, corrige o posicionamento para que eu possa fazer gol. Minha função quase sempre é de fazer a assistência, até porque tem um centroavante que sabe fazer gol, que é o Deivid. Mesmo com muitos gols, ele é muito cobrado. Minha função é essa, mas podendo ajudar fazendo gol é sempre muito bom.
Dos 17 gols marcados na temporada, você tem algum preferido?
Fico feliz sempre que faço gol de falta, pois treino muito. Não foi porque foi contra o Santos, mas gostei daquele gol por surpreender. Batendo daquele jeito me deixou muito feliz. Eu falava para os meus companheiros que ia fazer isso e todo mundo: ?Não vai fazer, não vai fazer?. Foi um gol que me marcou muito.