Demitido do SBT em abril deste ano depois de 25 anos de casa, o diretor Walter Wanderley, mais conhecido como Goiabinha, falou pela primeira vez sobre os bastidores de sua saída da emissora e disse que seu então patrão Silvio Santos foi ingrato no difícil momento.
"Ele não agiu da mesma forma como sempre agi com ele. Eu poderia estar na Record hoje", lamenta Goiabinha, que quase foi para a emissora de Edir Macedo na saída de Gugu Liberato do SBT. Na entrevista, o diretor reprova a atitude de recontratação de Hebe Camargo pelo SBT. "Silvio Santos contratou a Hebe para poder entrar no velório. Ele não dá ponto sem nó".
Por que o seu apelido é Goiabinha?
Esse apelido foi dado pela dupla ET e Rodolfo. Nós estávamos indo acordar o Latino para o "Domingo Legal" e o Rodolfo falou, com a câmera ligada: "Diretor Goiabinha, o que eu faço?". Como dei pilha para ele, o apelido pegou. Mas em terra de laranja, a melhor coisa que tem é ser goiaba (risos).
Quantos anos você ficou no SBT?
Fiquei 25 anos na emissora. Comecei lá em 1980, quando era TVS. Saí em 1982 e fui para a Bandeirantes. Voltei em 1988 para ser demitido em abril desse ano.
Você já começou lá como diretor?
Não. A gente sempre começa por baixo, né? Comecei com o Moacyr Franco, na saída dele da Bandeirantes, quando ele foi para a TVS. Eu era auxiliar de produção. Virar produtor aconteceu em uma saída minha do SBT para a Bandeirantes.
E quando você se tornou diretor?
Em 1996, com o "Domingo Legal".
E você virou braço direito da Daniela Beyruti (diretora geral do SBT e filha de Silvio Santos)?
Não é bem assim. Eu conheci a Daniela quando ela era uma menina. Braço direito dela é o marido e o pai. Trabalhei com o Gugu desde a morte dos "Mamonas Assassinas" até a saída dele.
Como era trabalhar com o Gugu?
Ele sempre foi muito parceiro. Sempre acatou e sugeriu ideias.
E com o Celso Portiolli?
Quando ele veio para o SBT, mandou uma fita cassete com as imitações que ele fazia. Na época, ele mandou aos meus cuidados. Trabalhei com ele na época do "Topa Tudo", logo que ele chegou na emissora.
Como é sua relação atual com ele?
Vamos dizer que estamos distantes.
Por que você saiu?
Por divergências éticas com a direção.
Você chegou a ser chamado pela Record?
Sim. Fui chamado na época em que o Gugu foi pra lá, mas acabei ficando no SBT.
O que te fez ficar?
Houve uma blindagem minha em relação ao Gugu. Não consegui falar com ele e eu estava numa piscina com a água no pescoço. Eu esperava que um helicóptero me tirasse de lá, mas a boia, que era o SBT, estava do meu lado. Resolvi me salvar por ali.
Qual é a sua relação com o Silvio Santos?
É uma relação de patrão com funcionário. Eu sou uma pessoa muito honesta, não estou dizendo que ele não seja, e sempre me dediquei muito ao trabalho.
Você tem alguma mágoa em relação ao Silvio?
Sim, tenho. Eu poderia estar na Record hoje. Acho que ele não agiu da mesma forma como sempre agi com ele. Não fiz nada de errado. As pessoas que saíram na época foram demitidas sob o argumento de reestruturação da empresa. Quando saí, foi a mesma coisa. Se essa reestruturação que foi usada para essas pessoas é a mesma que usaram pra mim, então não serve, porque eu não desfalquei nada. Roubar nunca roubei. Será que meu salário fez falta para eles?
Você ganhava bem lá?
Quanto você acha que merece ganhar uma pessoa que trabalha 25 anos numa mesma emissora?
O que você achava da Hebe Camargo?
Resumindo a vida da Hebe, era uma frágil mulher de aço. Lamento a passagem dela.
O que achou da recontratação dela pelo SBT?
É o mesmo que o Flamengo contratar o Adriano. O médico liberou a Hebe para ela passar os últimos dias de vida dentro da casa dela. Isso responde à tua pergunta sem que eu seja agressivo com outras pessoas? Para eu trabalhar numa emissora, eu tenho que fazer antes o exame médico. Se alguém se aventurou a contratá-la sabendo da situação, então tem outra explicação.
O que achou do selinho que ele deu na Hebe depois que ela morreu?
Esse selinho deveria ter sido dado em vida.
Foi um arrependimento dele?
Olha, o que eu te falo é que eu fui ao velório com a consciência limpa, sem pagar.
Que tipo de programa ela ia fazer no SBT?
E ela foi contratada para fazer algum tipo de programa? O programa dela foi ao ar no sábado, logo depois que ela morreu. Ninguém faz um programa do dia para a noite. Contrataram a Hebe, mas estava tudo pronto para eles exibirem aquele programa sobre a vida e a morte dela. A contratação foi o aval para o Silvio Santos poder entrar no velório. O Silvio não dá ponto sem nó.
Com a sua experiência na emissora de Silvio Santos, acha que o Eike vai mesmo comprar o SBT?
Ele tem potencial para se tornar dono sozinho. A única coisa que falta para ele é uma rede de televisão.
E teve mesmo algum interesse da parte do SBT nessa negociação?
Ninguém gosta de vender nada, mas as circunstâncias te fazem vender.
E as circunstâncias estão favoráveis?
Acho que sim. Se o Silvio Santos estivesse um pouco mais jovem, ele não venderia isso nunca.
Quais foram os problemas que você enfrentou no SBT Folia?
Me mandaram para Salvador para fazer um Carnaval desastroso e nesse período o meu apartamento pegou fogo. Me botaram para fazer figuração lá em Salvador. Fiquei cuidando das frutas e dos artistas. Saí de lá na Quarta-Feira de Cinzas e cheguei aqui numa quinta de cinzas, com meu apartamento destruído. Logo na sequência me mandaram embora.
Você quer voltar a trabalhar na TV?
Claro!
Você recebeu tudo o que o SBT te devia?
Não. Eles me pagaram somente o que eles acham que eu mereço.
Quem tem o temperamento mais difícil do SBT?
O Silvio Santos. Naquela televisão, nada é possível, tudo é "Por Silvio".