Ana, você está lançando o DVD "Ensaio de Cores". Existe uma cobrança para sempre apresentar um trabalho novo?
Existe, sim. Principalmente da minha parte. Sou virginiana, me bato todos os dias, acho que a gente tem que se reinventar sem perder a essência, tem que se preocupar com o olhar do público que nos assiste e ouve. Esse público não pode esperar sempre pela mesma coisa. E eu, desde quando comecei, procuro fazer coisas diferentes a cada disco. Passei por parcerias desde voz e violão, como foi com Ana e Seu Jorge, como por shows megaproduzidos. E agora, com "Ensaio de Cores", com quatro mulheres no palco, guitarra, piano, violoncelo e bateria.
E a música de trabalho e divulgação, "Problemas", surgiu de que situação?
Olha, em uma situação, no mínimo, complicada. A coisa da frustração, do momento em que você começa a puxar a corda pra subir do naufrágio que foi a relação amorosa.
Você está sozinha?
Estou. Há alguns meses.
Você chega em alguém?
Já cheguei, mas sou meio tímida. Mas chegar mesmo, abordar uma pessoa conhecida, isso nunca. Geralmente, algum amigo me apresenta alguém e as coisas acontecem de forma mais natural.
Como você faz para namorar. Não consigo imaginar Ana Carolina numa boate...
Menino, é complicado. Sei lá, tenho amigos que me apresentam, saio para jantar, tenho que dar meu jeito. Aliás, eu tinha que sair mais. Pelo visto, vou continuar solteira.
Você já entrou em algum site de relacionamento?
(Risos). Gente, nunca pensei nisso?!? Será? Aquela maluca (risos). Imagina, num site, "Ana Carolina procura fulano".
E qual foi a última cantada que você recebeu?
Muitas meninas no show gritam, é legal pra caramba, me sinto meio "Wanda" (risos). Recebo essa cantada filtrada que vem do público.
E cantada de amigo?
Aaai, tenho pavor de rolar interesse de pessoa que é minha amiga. De repente, do nada, a pessoa te olha diferente, eu digo: "Para de sacanagem". Fico pra morrer, não quero perder a amizade.
Você já namorou pessoas famosas?
Já, mas conto nos dedos de uma mão.
O sucesso te deixou mais vaidosa?
Sempre fui. Gosto de usar creme, cuidar do cabelo, fazer a unha. Tenho a minha podóloga, meu cabeleireiro, meu maquiador e me preocupo com a imagem. Ah, e não gosto de roupa colorida, não adianta, as pessoas dizem que não me veem com roupas coloridas e tal, mas não adianta. E tem uma coisa que eu acho supercafona, que é cantora que usa vestido colorido. Eu vou ao show, assisto a três músicas e na quarta já não aguento mais aquela cor. Mas respeito, porque devem dizer sobre mim também, "Ihh, lá vem a Ana Carolina com seu terno preto". Então, cada um com seu cada qual.
E teu guarda-roupa?
É todo preto. Outro dia, eu liguei aqui pra casa: "Fulana, pega aí a minha blusa preta?". Minha irmã estava do meu lado e disse: "Você tá de sacanagem, né?" (risos). Aí, eu expliquei: "Não, aquela que tem um botão assim, assado..."
Mas e a pessoa que está contigo? Também não pode usar um amarelo cheguei, por exemplo?
Não, adoro. Isso não tem problema. Eu não tenho problema com as cores. O que eu não gosto é da linguagem corporal usando as cores.
Ana, em 12 anos de carreira, você coleciona muitos hits. É seu toque pessoal, são as letras... qual é o segredo do sucesso?
Se eu soubesse o segredo, juro que ia usar, mas não ia te contar de jeito nenhum (risos). Bom, agora sério: acho que sei falar sobre o amor de maneira romântica com o homem e a mulher comuns. Meu coração fala junto deles, sinto o que canto e escrevo, sou passional. Ao mesmo tempo, não consigo ficar engessada, fiz música com Tom Zé, cantei com Seu Jorge, fiz coisas diferentes, mas também toco na novela, toco na rádio. O grande barato é circular nesse universo vasto.
Como você lida com a fama?
Sou low profile, faço música, fico no meu canto tocando meu piano, meu violão, fico aqui em casa quietinha com meus amigos músicos. A gente faz saraus. E tem muita gente, hoje, que vive exclusivamente de aparecer. A pessoa só aparece, diz alguma coisa pra mídia, não faz nada. Eu não quero estar nesse mesmo saco, nesse lugar de gente que não faz nada. É como se o sucesso presenteasse quem faz alguma coisa. Prefiro ser reconhecida pelo meu trabalho, mas eu sei que o sucesso presenteia quem faz e quem não faz. Fico um pouco incomodada com isso.
Que pergunta de jornalista mais te irrita?
Eu não gosto quando chegam desinformados. Não sabem quantos discos eu tenho, erram o nome da música... E tem os críticos que fazem avaliação antes de ouvir o disco. Alguns deles já chegam predispostos a não gostar, não conseguem se desvincular do preconceito do popular. Tenho pavor, acho ignorância oportunista uma pessoa querer aparecer em cima dos cantores.
E as comparações com outros cantores?
Pois é. De 1999 a 2006, sempre me compararam com a Cássia Eller. Amo a Cássia, igual a ela não tem. Só fiquei tensa por ter que responder a essa pergunta por tanto tempo. Às vezes, vinha o mesmo jornalista dois anos depois com a mesma pergunta. Me incomodou porque parecia que meu trabalho estava escondido atrás daquela comparação.
Você disse que queria ser mãe...
Disse, sim, mas não sei como. Posso arrumar um namorado, transar com ele, também posso fazer uma inseminação artificial, mas sou diabética. A adoção também é algo bacana. Estou com 37 anos, vai batendo uma vontade de perpetuar.
Como seria o pai?
Gostaria que fosse um músico, que é pra criança ter o DNA da música nos dois lados (risos). A gente faz uma montagem: um cara inteligente como o Steve Jobs, com os olhos do Brad Pitt, mas não pode ter a minha testa. Tenho pavor da minha testa!
Aprecia mais a beleza ou o intelecto?
Intelecto. Gosto de pessoas que têm charme e que sabem como colocar o corpo. Às vezes, vejo homens e mulheres que não sabem se colocar, humm, tô fora!
Aquela parte, então, nem deve saber fazer nada, né?
(Gargalhada). Não tô falando isso, hein!