O comerciante Júlio Dalmas, 32 anos, de Campo Grande, não consegue conter a felicidade por passar seu primeiro Dia dos Pais ao lado do filho, David Machado da Silva, 9 anos. Há dois meses, Dalmas e a esposa, Soraya Cristina Holosback, 34 anos, realizaram o sonho de ser pais ao adotar David. O garoto tem atrofia na perna direita, mas, para o casal, a deficiência física é apenas um detalhe.
?É muita emoção. É a primeira vez que passo o Dia dos Pais com meu filho", disse o comerciante. ?Sempre quis ser pai. Era vontade mesmo. Chega uma certa hora na vida que temos de ter um herdeiro para nos preencher. Acho que todo homem sonha com isso.?
No ano passado, Soraya descobriu que não poderia engravidar por causa das sequelas de um câncer que teve na tireoide. Contudo, isso não foi empecilho para que Dalmas se tornasse pai.
Eles conheceram David por meio do Projeto Padrinho, em que os casais têm a oportunidade de ajudar as crianças à espera de adoção que estão nos abrigos de Campo Grande. Eles dizem que foram conquistados pela personalidade de David, e o problema na perna não foi empecilho para que o casal o escolhesse para se tornar o tão esperado filho.
?Nós fomos conversando. Com o tempo, fomos conhecendo o David e ele conhecendo a gente. Ele é superinteligente e tem um raciocínio rápido. E é um menino muito carinhoso?, disse Soraya.
Segundo ela, a criança tinha outros quatro irmãos que moravam junto com ele no abrigo e que acabaram adotados, restando apenas David. O comerciante e a professora, que o acompanhavam, notaram que ele "passou a dar um pouco mais de trabalho no abrigo" e então decidiram que "era hora de trazê-lo para perto?.
Tratamento
Além de amor, o casal vai proporcionar tratamento para a deficiência física de David. O casal conta que a criança já passou por consultas e deve realizar, em Brasília, uma cirurgia que pode ajudar a resolver o problema.
?A médica disse que é uma cirurgia complicada, porque demora muito tempo para cicatrizar, mas eu acho que ele já esperou muito tempo. Eu acho que tem de ser logo. Quero levá-lo para onde possa fazer a cirurgia?, diz a professora.
Empecilhos
Segundo a juíza da 2ª Vara da Infância e Juventude de Campo Grande, Katy Braun, David carrega dois fatores que dificultam a adoção de várias crianças pelo país inteiro. Ele tem problemas de saúde e 9 anos de idade.
Para a juíza, os casais dispostos à adoção idealizam a criança perfeita. Por isso, segundo ela, além de optarem por meninos e meninas sem problemas de saúde, costumam levar para casa crianças mais novas, geralmente até 5 anos de idade.
Dados do Cadastro Nacional de Adoção (CNA) mostram que, no Brasil, existem 4.786 crianças à espera de adoção. Destas, 1.058 têm algum problema de saúde.
?Muitos casais idealizam passar com uma criança todas as etapas do desenvolvimento, querem vê-las começar a engatinhar, andar, dizer a primeira palavra. Há também o desejo de "moldar" a criança. Uma criança maior não atende essa expectativa?, diz Katy.
Segundo ela, o CNA, por ser um sistema integrado em todo o país, ajuda a Justiça a encontrar um lar para crianças mais velhas e com deficiência.