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Wagner Moura acusa governo Bolsonaro de censurar filme Marighella

Ator e diretor afirmou que a nova direção da Ancine fez de tudo para atrapalhar o desenvolvimento da produção.

Um dos filmes mais aguardados de 2021, Marighella sofreu censura do governo de Jair Bolsonaro para não chegar aos cinemas. Wagner Moura, diretor do longa, detonou o presidente e afirmou que a nova direção da Ancine (Agência Nacional de Cinema) fez de tudo para atrapalhar o desenvolvimento da produção.

Em bate-papo com a imprensa para a divulgação de Marighella, do qual o Notícias da TV participou, Moura foi categórico ao ser questionado sobre uma possível censura intencional por parte do governo de Bolsonaro.

"Não tenho a menor dúvida de que o filme foi censurado. Era uma época na qual [Jair] Bolsonaro falava em filtrar e regular a Ancine. O Crivella [ex-prefeito do Rio de Janeiro] cancelou HQs de dois personagens homens beijando na boca, os filhos do presidente comemoram", pontuou o cineasta.

Wagner Moura fala do filme Marighella durante o Roda Viva

A opinião de Moura de que Marighella sofreu com a censura do governo federal foi corroborada por Andrea Barata Ribeira, produtora da O2 Filmes e uma das principais executivas do longa. "Durante 18 anos, a Ancine lutava ao lado do longa.

Durante 18 anos, a Ancine lutava ao lado dos produtores. Há dois, ela foi desmontada, e isso já é uma forma de censura. Tiraram a antiga diretoria e colocaram outra que não ajuda. Não foi possível resolver alguns problemas corriqueiros de produção por censura. Teve censura, sim. A todos os filmes brasileiros, não apenas contra Marighella", acrescentou.

O resgate da imagem de Marighella 

Para Wagner, o principal incentivo para transformar a vida de Carlos Marighella (1911-1969) em filme foi a necessidade de recontar a história de um dos principais ativistas políticos que participaram da luta armada contra a Ditadura Militar (1964-1985) no Brasil e que chegou a ser considerado pelos governistas o "inimigo número um do país".

De acordo com o diretor, os livros de história retiraram Marighella do imaginário da população e não dão a importância devida ao político no combate aos militares que perseguiam políticos e cidadãos contrários à ditadura.

Seu Jorge e Wagner Moura nos bastidores de Marighella

Eu sempre fui fascinado por histórias de revoltas populares e me incomodava a forma como elas eram retratadas. Com esse filme, eu queria trazer Marighella de volta para o imaginário brasileiro. Tirar o seu nome do silêncio. Foi muito difícil, o filme foi atacado do começo ao fim. Eu não poderia estar mais feliz de lança-lo neste momento.

Moura ainda abordou a escolha de Seu Jorge para o papel principal. Anteriormente, o astro de Tropa de Elite (2007) revelou que a sua primeira opção era o rapper Mano Brown, tanto pelo tom da pele --Marighella também é filho de pai branco e mãe negra-- quanto pela simbologia de um poeta negro que luta por seu povo.

Ao precisar reescalar seu protagonista após a saída de Brown do projeto, o diretor pontuou que não queria repetir o embranquecimento clássico de outras produções do cinema. E que a opção por Seu Jorge, um negro com tom de pele mais escuro, reforça a negritude de Marighella e a importância de sua imagem para as camadas mais pobres do Brasil.