Deitado em uma maca no CT do São Paulo, Adriano fazia mais uma sessão de fisioterapia. Após minutos de tratamento, o atacante arrancou os fios ligados a seu corpo e deixa a sala batendo pé.
Era 2008, e funcionários do clube já viam no craque problemas de comportamento, causados sempre após noitadas. O caso revoltou dirigentes. Deram broncas em Adriano, que ouvia sabendo que havia feito algo errado.
Em outro episódio, um funcionário são-paulino, prevendo que o atleta faltaria a um treino após mais uma noitada e que isso repercutiria mal, foi à casa do jogador para levá-lo quase carregado ao CT.
"Ele foi muito bem tratado no clube, como um craque tem que ser tratado", diz o empresário de Adriano, Luiz Cláudio. O tratamento a que o agente, conhecido como Luca, refere-se, porém, não foi o mesmo encontrado no Corinthians, avalia o jogador.
A conclusão do estafe de Adriano é que, no Parque São Jorge, sua lesão no tendão não foi tratada como deveria e que o clube se preocupava mais em fazê-lo emagrecer do em que tratá-lo. O Corinthians teria funcionado como um spa de emagrecimento.
"Ele entrou no Corinthians bem e saiu machucado. Como um clube coloca seu jogador para atuar em campo sem saúde para tanto?", diz Luca.
Joaquim Grava, consultor médico do Corinthians, rebate. "Tratamos os dois problemas dele: a lesão e a obesidade, assim como fizemos com o Ronaldo. Faltou comprometimento no pós-cirúrgico."
Para o atacante, a maior prova de que o Corinthians não o tratou como craque foi sua demissão. Roberto de Andrade, diretor de futebol, avisou seu agente por telefone.
"A maior mágoa do Adriano é ter sido mandado embora por telefone e por justa causa. Ele foi massacrado pelos dirigentes", diz Luca.
"Eu iria fazer ele [Luca] vir para São Paulo para avisar da demissão", afirma Andrade.
Ao saber da dispensa, Andres Sanchez, ex-presidente que contratou o atacante, enviou SMS a Luca. "Se estivesse no Corinthians, nada disso teria acontecido. Teria resolvido de outra maneira", dizia a mensagem, segundo o agente de Adriano.
Por meio de sua assessoria, Andres diz que enviou a mensagem para dizer que teria falado com o agente para chegarem a uma solução.
No Corinthians, a demissão por justa causa tem motivos para se sustentar. Especialmente pelas cerca de 60 faltas de Adriano às sessões de fisioterapia, que culminaram com a necessidade de nova cirurgia no tornozelo esquerdo, realizada ontem, no Rio. Ele deve ficar seis semanas sem pisar no chão.
A fisioterapia, no Flamengo, deve começar em uma semana. Ele ficará parado por, no mínimo, três meses.
ISOLADO EM SÃO PAULO
Carioca, Adriano tinha Ronaldo como um dos poucos amigos em São Paulo. Foi algumas vezes à boate do Fenômeno, a Royal, no centro.
Até mesmo o seu maior feito no Corinthians, o gol sobre o Atlético-MG, no Pacaembu, em novembro, foi marcado por problemas. Após o jogo, ele participou de uma enorme festa de domingo à noite até terça. A comemoração teve atletas de outros clubes.
Agora, no Flamengo, a perspectiva do atacante é ter tratamento oposto ao que recebeu no Corinthians. A diretoria carioca sabe que, para domá-lo, precisará mimar o jogador, como no São Paulo.