O que era motivo de piada ganhou contornos sérios. Após estourar o limite de três faltas em treinos, imposto pelo Flamengo ao assinar contrato com o clube, Adriano deixou de ser encarado só como "baladeiro" e passou a ser visto como pessoa doente.
O discurso no clube é que ele precisa de ajuda para que sua carreira não acabe de vez. "Antes de tudo, temos que ajudá-lo", afirmou o diretor de futebol, Zinho, que na segunda obrigou o jogador a se submeter a tratamento psicológico como condição para permanecer no Flamengo.
O atacante havia faltado a dois treinos consecutivos (sexta e sábado) sem dar explicações e poderia ter o seu contrato rescindido com o clube. Pelo acordo firmado em agosto, o atleta seria demitido na terceira falta.
Ele já estava pendurado com duas ausências.
Adriano, 30, tem um extenso histórico de confusões envolvendo o abuso de bebidas alcoólicas e festas.
Nascido na favela da Vila Cruzeiro (zona norte), local que, até ser ocupado por tropas do Exército em novembro de 2010, era quartel general do Comando Vermelho no Rio, o atacante teve a infância marcada pela violência.
Em 92, seu pai, Almir Ribeiro, 45, levou um tiro na cabeça durante uma festa em um bar da favela.
Sobreviveu por 13 anos sem que a bala fosse retirada, à custa de uma série de medicamentos para manter sob controle a pressão craniana. Mas, após o filho ganhar fama, abandonou os remédios, o que o levou à morte.
Na Gávea, o chefe do departamento médico do Flamengo, José Luiz Runco, decide hoje qual psicólogo cuidará do jogador. O médico prefere não falar sobre o comportamento do jogador por "questões éticas".
No clube, o jogador, que está cerca de cinco quilos acima do peso, treina em separado e ainda não tem uma data para estrear.
"É um problema especial [o Adriano]. Eu torço para que a recuperação aconteça, porque é um rapaz que merece muito", afirmou o treinador Dorival Júnior.
A principal preocupação dos dirigentes do clube rubro-negro é com o consumo abusivo de bebidas alcoólicas, que já abreviou a carreira de vários ídolos do futebol brasileiro, como Garrincha.
Entre os boleiros, Adriano é descrito como tímido e um pouco depressivo.
Já para os garçons das casas noturnas da Barra da Tijuca e moradores de comunidades carentes, o atacante, que não joga uma partida oficial há sete meses, é considerado animado e gastador.
Em um restaurante frequentado pelo jogador na Barra, os garçons contam que cerveja não pode faltar na mesa de Adriano. Nas favelas, o jogador costuma pagar churrasco para dezenas de amigos. Algumas festas promovidas por ele chegam a durar mais de um dia.
Numa delas, na favela da Chatuba, no Complexo do Alemão, Adriano protagonizou uma briga pública com Joana Machado, então sua noiva, em março de 2010.
"Estamos sempre ajudando o Adriano. O problema é quando ele deixa o Flamengo", afirmou o lateral Léo Moura, o mais experiente jogador do clube.