Discreta não era só ela, propriamente dita: seus resultados também eram. Ninguém dava muita bola para aquela atiradora americana de apenas 19 anos, uma pirralha em um universo de atletas mais velhos. E lá foi ela, quietinha, de arma em punho, para ser a dona do primeiro ouro dos Jogos Olímpicos do Rio. Virginia Thrasher surpreendeu na final e desbancou as campeãs olímpicas chinesas Du Li e Yi Siling para ficar com o título na carabina de ar 10m. As orientais levaram prata e bronze, respectivamente.
Assim que deu o último tiro, Thrasher se permitiu um sorriso no rosto rosado, escondido sob um boné azul. Ela sabia: era a campeã olímpica. Naquele momento, a vantagem de 0,7 pontos sobre Du Li, a grande campeã de Atenas, era irreversível. Ela levou o ouro com um ponto de frente sobre a adversária, dona de enorme história olímpica - campeã em Atenas-2004, e que decepcionou ao não conseguir manter o título em casa, em Pequim-2008, e chegou a abandonar o esporte. Yi Siling, a ganhadora da prova em Londres, ficou com o terceiro lugar.
A conquista consolida uma ascensão impressionante para uma jovem que começou a atirar há apenas quatro anos. Seu melhor resultado, até a conquista da Olimpíada, era um quarto lugar em uma Copa do Mundo - e em outra prova, a carabina três posições. Para se ter uma ideia do tamanho da surpresa, ela competira no Rio de Janeiro duas vezes este ano: não passou de um 28º lugar na carabina de ar 10m e de um décimo na carabina três posições.
- Tem sido um grande ano para mim. Um ano de muita evolução. Atingir esse nível de sucesso tão jovem é muito gratificante. Você tem que focar apenas no que é mais importante e atirar o melhor possível. E uma vez que cheguei à final, tudo poderia acontecer. E eu estou muito feliz que pude estar lá e fazer a coisa certa.
Dun Li avançara com a melhor pontuação e o recorde olímpico na classificatória: 420,7 pontos. Ao começar a final, ela manteve o ritmo - ao contrário da alemã Barbara Engleder, que se mostrava a principal concorrente até então.
Mas vieram as séries seguintes, e aí começou a predominância de outra chinesa: Yi Siling. Ela cresceu e ameaçou se consolidar na liderança enquanto a primeira finalista era eliminada: a americana Sarah Scherer. Mas não haveria conforto para Siling.
Na terceira série, a surpresa: surgiu uma tal de Virginia Thrasher para tomar a ponta. Também por pouco tempo. No tiro seguinte, a liderança passou para a russa Daria Vdovina.
Mas também foi uma liderança efêmera. Na série posterior, Thrasher novamente pulou na frente. E para não sair mais. Ela aumentou a vantagem na sexta série, quando Du Li correu risco de deixar a final - mas se superou e eliminou a iraniana Elaheh Ahmadi.
Veio a sétima série, e aí os tiros da americana ficaram mais instáveis. As chinesas Du Li e Yi Siling aproveitaram. Passaram a cravar tiros com nota superior a dez e encostaram na adversária enquanto Barbara Engleder era alijada da luta por medalhas.
A aproximação foi em vão. Nos tiros finais, naquele momento em que os chineses levam fama de ser mais frios, a americana atirou como uma veterana com gelo nas veias. Aumentou a vantagem, viu Yi Siling ficar com o bronze e partiu para o último tiro apenas precisando administrar a folga na pontuação para ser a primeira campeã olímpica de 2016.