Após saída do Fla, Patricia Amorim tenta se reerguer:“Não tenho Grana”

Num telefonema para o blog, a ex-presidente do Flamengo, Patricia Amorim, quebrou o silêncio.

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Foram 46 minutos de desabafo. Num telefonema para o blog, a ex-presidente do Flamengo, Patricia Amorim, quebrou o silêncio. Correndo o risco de sofrer um inquérito devido aos gastos de sua gestão, a ex-mandatária reclamou das críticas que vem sofrendo:

- Acham que sou ladra, que roubei. Não sou desonesta - disse, admitindo ter escolhido mal as pessoas da sua gestão.

Longe do Flamengo e da política, a ex-vereadora vem se dedicando exclusivamente aos filhos, enquanto busca uma nova atividade:

- Não tenho grana - revelou, garantindo que não concorrerá a "mais nada".

Quanto o Flamengo pagava às torcidas organizadas? Na planilha da comissão de fiscalização, há três pagamentos em dezembro: dois de R$ 20 mil e um de R$ 30 mil.

Não sei. Não participava disso diretamente. Mas não foi uma escolha da Patricia. Fiz uma reunião com os presidentes de todos os poderes do clube para discutir essa questão. Estavam presentes Sílvio Capanema, do conselho deliberativo; Maurício Gomes de Mattos, do conselho de administração; Marcos Fave, dos grandes beneméritos; Bernardo Amaral, da assembleia, e Leonardo Ribeiro, do conselho fiscal.

Mas por que gastou R$ 70 mil, parte da verba do adiantamento das cotas de TV, com uma despesa que não era urgente?

Eu não teria pedido adiantamento se não houvesse a penhora de R$ 20 milhões da administração do (ex-presidente) Márcio (Braga). Para escolher o que pagar com a verba, a gente sentou e discutiu. Fiz a transição. Aliás, até me arrependo de ter sido tão gentil, tão dócil. Eles (a atual diretoria) pagaram dívidas e obtiveram as CNDs com dinheiro que a gente conseguiu.

Está se referindo ao contrato da Adidas?

Isso. Deixamos recursos para o clube. Lá na frente, eles vão pagar um preço. Foram maldosos. Mas não sou mais uma pessoa pública. Não ganho nada batendo em ninguém. Nada cai no Bandeira. Ele tem o Wallim. Mas sempre caiu tudo em mim. É muita politicagem. Há uma comissão de inquérito sobre as contas de 2011, e eu não fui chamada.

Você irá, se for chamada para justificar gastos?

É claro que eu vou. Não fiz nada de desonesto. O que houve foi uma desorganização do contador. As pessoas da minha gestão talvez não tenham sido bem escolhidas. Demoraram a me trazer os problemas. Mas nunca houve dolo. Nunca houve intenção de prejudicar o clube.

Por que se arrepende de ter feito a transição? Acha que o presidente Bandeira de Mello foi deselegante no discurso de posse?

Acho que foi. Tenho o sentimento absoluto de que fiz o que meu coração mandou. Procurei fazer a transição de forma elegante. O Flamengo merece. Mas vejo o tempo todo eles dizerem que tudo era pior antes deles... Por que não dizem que, do total da dívida do clube, a parte acumulada na minha gestão não é a maior? O Márcio (Braga) foi presidente várias vezes. E eu sou a única culpada? Não sou mesmo. Alavanquei recursos.

Sua administração foi boa ou ruim?

Se foi boa ou ruim, a verdade é que, mesmo perdendo, tive mais votos do que quando ganhei a presidência. Logo, não fui reprovada.

Ficou aborrecida com a saída de atletas como Cesar Cielo e Diego Hypolito do Flamengo?

Não estou aqui para criticar, mas fiquei triste, realmente. Mas acho que cada um tem uma linha. Hoje, leio que é provável que os clubes de futebol recebam ajuda do governo desde que tenham um investimento em modalidades olímpicas. Até 2016, o Flamengo formaria grandes atletas. Olha, eu não sou uma pessoa baixa. No dia em que o Flamento estiver muito bem, me sentirei confortável para falar sobre a administração do clube.

Fica triste com as críticas?

Sofro muito. Não me tornei benemérita à toa. Tenho uma história enorme no Flamengo. Isso tem uma função. Vou saber usar na hora certa. As pessoas acham que sou ladra, que roubei. Se eu for chamada para prestar esclarecimento, eu vou. Só não quero conviver com pessoas que não gostam de mim.

Não tem ido ao clube?

Não tenho ido, não. Mas vou lá na reunião do conselho de administração, no dia 20 (terça-feira). Fiz uma transição razoável, mas vieram com revanchismo, perseguição. Preferi me afastar. É a minha contribuição.

Quem acha que você é ladra?

Ué, ganhei um relógio (da Hublot). E o Flamengo ganhou seis. Era um relógio de homem... Dei pro Bandeira. Aí, resolveram achar que aquilo era patrimônio do clube.

Não era do clube?

Não. Um deles era meu. Dei pro Bandeira, ele aceitou. Depois, disse que era patrimônio do clube. E houve também a questão da multa de R$ 1,2 mil. Tenho dois carros em casa. Eu não dirigia o carro do Flamengo. Se querem saber sobre as multas, que perguntem ao motorista. Isso é ridículo. É pequeno. Nunca dirigi aquele carro.

Arrepende-se de ter sido presidente do Flamengo?

Às vezes, a gente arrisca. Às vezes, a gente erra. Foi um experiência de vida importante. O resultado não foi bom. Mas me arrependo dos amigos que achei que eu tinha. Fiz muitos inimigos. Se a bola entrasse... Uma coisa foi boa: levantei taça e contribuí. Mas houve uma intolerância monumental por eu ser mulher.

Por falar em inimigos, o rompimento com o Zico atrapalhou?

Ele só falava da insatisfação pela imprensa. Se tivesse me falado... Com o Vanderlei (Luxemburgo), tive um nó danado, mas a gente conseguiu superar, apesar de ele ter ficado magoado. A gente conseguiu estabelecer uma conversa boa para ele e para mim. Aprendi muito com o Vanderlei.

Como está sua vida, longe do Flamengo e da política, já que não conseguiu se reeleger?

Isso me traz um sentimento... Meu telefone não parava. Hoje, ele não toca. O dia demora a passar. Quero reconstruir minha vida, recomeçar. Sei que vou cansar. E tem outro fator: não tenho grana. Preciso começar a sair, a fazer alguma coisa...

O Flamengo teve peso negativo na sua tentativa de se reeleger vereadora?

Teve. Uma coisa é certa: não concorro a mais nada.

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