Márcio Araújo, herói do título estadual do Flamengo sobre o Vasco, não entrará para a história pelo gol salvador do empate que garantiu ao clube a 33ª conquista do Carioca. O árbitro Marcelo de Lima Henrique anotou na súmula que o gol foi de Nixon. O que explica um outro erro da tão contestada arbitragem, que não assinalou o impedimento de Márcio Araújo, no polêmico gol.
Em entrevista ao blog Extracampo, o árbitro da final do Estadual, Marcelo de Lima Henrique, de 42 anos, desabafou. Não quis entrar em polêmica com o goleiro do Flamengo, que afirmou que era "mais gostoso ganhar roubado", mas foi bem contundente na sua resposta: "Nossa sociedade está doente", disse.
Você tinha como ver que o Márcio Araújo estava irregular?
A gente está de frente e não tem como ver. No campo, eu dei o gol para o Nixon. Só depois, em casa, eu vi na televisão.
A televisão atrapalha a vida do árbitro?
A televisão ajuda. A mídia ajuda. O erro faz parte da natureza humana.
Você é a favor da tecnologia no futebol?
Sim, desde que seja para todos os jogos da competição. Os próprios narradores, num plano mais alto, ficam em dúvida. Somos humanos.
No Maracanã, ninguém avisou que a arbitragem havia cometido um erro?
Ninguém esboçou nada. Saí, e fui até parabenizado. Somos proibidos até de ligar o celular. Quando estava indo para casa, meu pai me passou um rádio e comentou. Só tive certeza quando vi o teipe em casa. Não recebemos informações externas no estádio.
Ficou triste por mais essa polêmica?
Sem hipocrisia... Arbitragem é equipe. Não adianta receber os parabéns e ter um problema no jogo. Se um elemento erra, todo mundo fica triste, com certeza.
Sua mulher, Sandra, que é vascaína, ficou aborrecida?
- Como torcedora, ficou triste. Como mulher do árbitro, ficou contente pelo meu desempenho. Ela gosta de futebol. Meu filho mais velho, Pedro, de 19 anos, é vascaíno e foi ao jogo. Ficou triste.
A família reclamou com você do erro no gol do Flamengo?
Sinceramente? Venho de baixo. Meus três filhos acompanham meu sofrimento. Eles sofrem mais por mim do que pelo clube. Estou nesse momento na porta do quartel, de guarda. Era para estar descansando, mas sou primeiro sargento fuzileiro naval. Estou aqui, olhando o engarrafamento da Avenida Brasil...
O que achou de o goleiro Felipe ter dito que "roubado é mais gostoso"?
Não quero falar sobre o Felipe, nem nenhum jogador. Não vou criar polêmica. Mas eu te digo que a nossa sociedade está doente. Estamos numa sociedade doente. Você, como jornalista, vê isso todo dia. Mas cada um que dê conta da sua frase.
Circula na internet a montagem de uma foto sua usando uma camisa do Flamengo. Fica incomodado?
Isso aborrece. Se fizerem uma montagem sua, você também vai se aborrecer.
Evita circular pelas ruas após um lance polêmico como o de domingo?
Como árbitro, evito certos lugares. É perigoso a gente se expor. Mas pago minha conta no banco... Sou classe média baixa... Levo uma vida normal. Se alguém se excede, enfrento o problema.
- É perigoso você, como militar, ter porte de arma e ser tão visado?
A rotina de um militar é mais cuidadosa. Evito festa com bebedeira e bagunça. Se vou à praia ou a um restaurante, e alguém incomoda, eu saio.
Árbitro tem time?
Todo árbitro gosta de futebol. Todo árbitro foi, na infância, ao Maracanã torcer para um time. Hoje, eu tento fazer algo pela minha carreira e pelo futebol. Sem hipocrisia, eu tive um time, sim. Mas isso passa batido. O torcedor é passional.
Pode dizer qual era o seu time na infância?
Infelizmente, nossa sociedade doente não está preparada para isso. Se eu errar um lateral, vão dizer que levei dinheiro e sou venal.
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A Federação do Rio admitiu, em nota oficial, o engano cometido:
Em relação ao gol do CR Flamengo, a Comissão de Arbitragem, vendo e revendo o lance através do replay, uma vez mais se depara com os limites da capacidade de percepção do ser humano em determinados, difíceis e duvidosos lances, cuja demonstração, à luz da tecnologia, são insuficientes para decisões induvidosas e geradores de equívocos irreparáveis que poderiam ser evitados se para a modalidade futebol fossem desenvolvidos, permitidos e implantados métodos de diagnóstico mais precisos e capazes de auxiliar os árbitros em suas decisões. No caso em questão somente após a revisão do lance por vários ângulos com o auxilio de diversas câmeras permitiu distinguir a autoria do gol, equivocadamente atribuída ao atleta Nixon (em posição regular). Face ao exposto a Comissão não tem como discordar que, apesar do grau de dificuldade do lance, o real autor do gol estava em posição irregular, elucidada com os recursos da tecnologia.
A nota é assinada pelo presidente da Comissão de Arbitragem, Jorge Rabello.