Isaque Souza, de 14 anos, não tinha limites para seus sonhos. Torcedor fanático do Flamengo, clube por onde passou de 2016 a 2017, não viu problemas em retomar sua carreira de jogador no Vasco, onde começou no futsal e conquistou títulos. O futuro parecia bastante promissor para o menino, morador do Jacarezinho, que já tinha até contrato com agentes. Na última quinta, tudo foi interrompido.
A carreira, por uma doença cruel, um câncer ósseo que começou no joelho e se espalhou pela perna. Sua vida, porém, talvez fosse salva por uma cirurgia que ele, com os pais, decidiu recusar.
Recomendada em março por médicos que o tratavam no Instituto Nacional do Câncer, a amputação da perna foi cancelada pela família na data marcada para a cirurgia. Segundo nota do Ministério Público do Rio, sua família, que é evangélica, revogou o consentimento que já havia sido assinado para a cirurgia.
Isaque deu entrada no Inca da Cruz Vermelha na quinta com dores para receber os medicamentos pela última vez. Não resistiu. O pai de Isaque, o gari José Claudio Souza, confirma que a família tinha fé na recuperação do menino. O futebol também norteava a esperança.
“A gente acreditava sempre, ele também. Falava que ia voltar. Essa força que ele tinha e sempre teve que fazia a gente perguntar: Filho, o que acha? Ele pediu pra não amputar a perna. É Deus quem está me segurando”, contou o pai.
Em vão, órgãos tentaram convencer os pais
Segundo informações do Ministério Público do RJ, até dia 2 de agosto houve reiteradas tentativas de convencer a família a operar o menino. Em nota, o MP afirma que a promotora de Justiça informa que assim que foi informada do caso pelo serviço social do Inca, entrou em contato com a 1ª Vara da Infância e da Juventude da Capital.
Foi feita uma inspeção judicial, e o caso foi discutido com a equipe médica, com a assistente social e a psicóloga da pediatria do INCA. Em seguida, houve uma longa conversa com a família e com o adolescente, na tentativa de conscientizar a família quanto à importância do procedimento de amputação.
A promotora Agnes Mussliner entrou com uma representação por infração administrativa contra os pais do adolescente, denunciando o descumprimento das orientações médicas e o risco para a vida do adolescente. Houve tentativas de conscientizar a família, mas não houve acordo. A família se manteve irredutível, alegando crer na cura de Isaque sem qualquer cirurgia.
A promotora diz que ouviu o adolescente, mas Isaque confirmou que não desejava mesmo a amputação.
Como a promotora Agnes Mussliner já entrou com representação, pode haver denúncia, caso se entenda que a morte poderia ser evitada pela cirurgia negada pelos pais.
“Quem escreve nossa história é Deus. Às vezes você quer alguma coisa e é pra ser de outro jeito. Creio que a essa hora ele já está no céu, feliz, sem dor”, emociona-se José Cláudio.