Com a cabeça prestes a desabar, coberta pelo boné branco encharcado de suor, os braços descontrolados e soltos no ar, pernas bambas, corpo inclinado como um veleiro num vendaval, ela chegou cambaleando a poucos metros da linha de chegada da maratona de 1984. Não ganhou medalha nem ficou sequer perto do pódio, mas entrou para a história das Olimpíadas numa das cenas mais marcantes de todos os tempos.
Quem viu a suíça Gabriele Andersen agonizando na pista do Coliseu de Los Angeles podia acreditar que era o fim de sua carreira. Muito pelo contrário. Ela não só seguiu como maratonista, mesmo sendo uma quarentona à época, como também manteve uma formidável forma física, responsável por dar continuidade a sua paixão pelo esporte.
Hoje, aos 71 anos, ela compete no mountain bike e no esqui alpino (cross country e snowboard), além de ter trabalhado anonimamente durante anos como florista e instrutora de esportes de neve num isolado recanto para turistas, com menos de 2 mil habitantes, numa das mais remotas regiões do noroeste dos EUA. Casada com um americano, Gabriele instalou-se em Sun Valley, em Idaho, que atrai multidões no inverno congelante.
Na sua casa, que diz ser grande e espaçosa, onde cria dois gatos himalaia e possui um belo jardim, foi onde ela concedeu esta entrevista.
“Não sei se posso me considerar uma heroína, mas reconheço que aquele se tornou um momento histórico. Era a primeira vez que as mulheres disputavam uma maratona olímpica e isso chamou muito a atenção. Era o momento de provar que nós, mulheres, podíamos competir e, mesmo com alguns problemas, terminar a prova.”