Marieke Vervoort mal completou 37 anos, mas, cansada das dores insuportáveis, optou por uma medida drástica: a eutanásia. Medalhista de prata nos 400 T52 (deficiência intelectual) da Rio 2016, a belga assinou o termo em 2008 que autoriza o médico a aplicar uma injeção letal e dar fim ao drama. Ela sofre de doença degenerativa que paralisa as suas pernas, provoca desmaios e não a deixa dormir por mais de 10 minutos. O momento para pôr fim à sua vida, no entanto, ainda não foi definido. Vervoot, detentora do recorde mundial para os 400m, 800m, 1.500m e 5.000m, foi ouro nos 100m e prata nos 200m em Londres 2012 e faz a sua despedida em Paralimpíadas. A cadeirante ainda irá brigar por uma medalha nos 100m, no próximo dia 17.
- Vivo há anos com muita, muita dor, e é cada vez mais difícil. Por exemplo, no dia da cerimônia de abertura só dormi uma hora - disse Marieke, que passou a usar a cadeira de rodas aos 20 anos.
- Não sei ainda quando será. Vamos ver. Eu tomei esta decisão há muito tempo. Um jornalista publicou em um jornal que eu iria me matar depois do Rio e isto ganhou uma grande proporção. Mas eu ainda quero fazer algumas loucuras e aproveitar para curtir a minha família e os meus amigos, algo que não pude fazer enquanto estava treinando - completou.
O sorriso e o espírito leve nas pistas contrasta com o sofrimento que vive na escuridão, longe dos holofotes. No funeral, ela quer que todos fiquem alegres, com direitos a muitas taças de champagne. Ao contrário do Brasil, na Bélgica, a eutanásia é permitida pela lei desde setembro de 2008, desde que haja a aprovação de um médico. No ano passado, mais de 2 mil casos foram declarados no país. A lei foi revista em 2014 e agora permite que menores de idade acometidos de doenças incuráveis e "em capacidade de discernimento" possam escolher a eutanásia. A Bélgica é o único país a autorizar este ato sem limite de idade.
Vevoort preferiu assinar a papelada, contudo, prefere não estipular uma data. Por enquanto, está focada nos Jogos e depois quer aproveitar para conhecer o Rio lado da família e de amigos.
- Sou a favor da eutanásia. Eu assinei os papéis em 2008 porque tenho muita dor e não quero viver com dor. Quero viver, mas bem. Após o Rio não vou pedir a eutanásia, vivo dia a dia, e quando não aguentar mais farei. A cada ano, é mais difícil suportar esta situação porque tenho muita dor - admitiu a belga, que também competiu no triatlo e deu os primeiros passos no esporte na natação, no jiu-jítsu e no ciclismo.