A doença de Parkinson é causada por uma deficiência crônica de dopamina, que desencadeia rigidez muscular crescente, tremores, dificuldades na fala, fadiga, tontura e perda de coordenação motora e equilíbrio.
Os movimentos dos pacientes ficam muito lentos e pequenos. Quedas são um problema sério, especialmente à medida que os sintomas progridem. E, embora não exista cura, nem sequer uma maneira de sustar os sintomas, o treino de boxe sem contato parece oferecer uma maneira de desacelerar os efeitos e aumentar a autoconfiança dos pacientes.
"Se você treinar boxe, verá sua coordenação melhorar, sua agilidade também, seu equilíbrio, idem, esta é uma maneira de combater a doença de Parkinson fisicamente", disse Trout, ex-campeão mundial dos pesos médios leves Ele dá aulas de Rock Steady há quatro anos.
IDEIA CONTRAINTUITIVA
A Rock Steady Boxing foi fundada em 2006 por Scott Newman, promotor de Marion County, Indiana, que descobriu que praticar boxe o ajudava a controlar os sintomas do mal de Parkinson precoce. Num primeiro momento, eram apenas ele e cinco outros pacientes treinando com uma ex-boxeadora profissional, Kristy Follmar.
A estranheza de usar o boxe como terapia não passou despercebida por eles, afinal, o esporte tem um dos mais altos índices de concussão e lesão cerebral. Embora não esteja claro se uma vida inteira passada sofrendo concussões cerebrais possa provocar o mal de Parkinson, ela pode aumentar o risco.
Muhammad Ali, um dos maiores ícones do boxe, desenvolveu a doença de Parkinson após uma carreira profissional na qual ele se celebrizou por levar os melhores pesos-pesados de sua época à exaustão, recebendo socos repetidos.
Na época, os especialistas em Parkinson recomendavam enfocar a mobilidade e o equilíbrio, mas evitar o esforço excessivo. A postura de pernas abertas dos boxeadores e o deslocamento de seu centro de gravidade quando dão um soco lhes pareceram perfeitos para treinar equilíbrio e postura. Nas aulas de Rock Steady, os participantes não levam socos, apenas os dão.
Pesquisas revelaram que muitas formas de exercício de alta intensidade, e especialmente o boxe, podem desacelerar a progressão dos sintomas do mal de Parkinson. O boxe também parece ajudar com outros transtornos neurológicos, como esclerose múltipla e AVC (acidente vascular cerebral).
BOXE TERAPEUTICO
Um estudo recente sobre o boxe terapêutico constatou que pacientes com mal de Parkinson que treinam duas vezes por semana relatam sofrer menos quedas. O número de quedas aumentou durante os lockdowns da Covid e voltou a cair uma vez que o isolamento foi suspenso e as pessoas puderam voltar a treinar. Isso é algo que Trout viu em primeira mão, quando muitos de seus alunos – ou "lutadores", como ele os chama— voltaram dos lockdowns mais rígidos e trêmulos do que estavam antes.
FORA DO RINGUE
A doença de Parkinson também tem efeitos psicológicos. À medida que os pacientes vão perdendo coordenação motora e equilíbrio, muitos começam a duvidar de suas habilidades e se retraem, distanciando-se de seus amigos e familiares e limitando as saídas de casa, por medo de cair.
"O Parkinson rouba a confiança das pessoas", disse Karian. "É preciso trabalhar isso para conservar sua autoconfiança."
Numa sondagem feita recentemente com mais de 1.700 pessoas com doença de Parkinson, quase três quartos dos participantes da Rock Steady Boxing disseram que o programa melhorou sua vida social e mais da metade disseram que diminuiu sua fadiga, medo de cair, depressão e ansiedade.
FONTE: THE NEW YORK TIMES