O Brasil não se transformou na sexta maior potência do mundo apenas quando o assunto é economia. Com R$ 1,5 bilhão movimentado pelos 25 principais clubes durante a temporada 2010, o mercado do futebol brasileiro ultrapassou a Holanda e chegou também ao sexto lugar no ranking mundial. E não para por aí. A expectativa é de que supere a França (quinta, com R$ 2,4 bilhões) até 2014. Números e projeções são da BDO RCS Auditores Independentes.
A liderança folgada é da Premier League, da Inglaterra, que na temporada 2009/2010 chegou a totalizar R$ 5,7 bilhões. Na sequência aparecem outros centros tradicionais do futebol europeu. A segunda colocação é da Bundesliga, a Primeira Divisão alemã, com R$ 3,8 bilhão, seguida pela La Liga espanhola (R$ 3.7 bilhões) e Seria A, da Itália (3,5 bilhões).
Para chegar a estes números, o relatório leva em consideração três tipos de receita: cotas de TV, estádio e marketing. O dinheiro conseguido com a negociação de jogadores não entra no cálculo. "Os clubes nunca sabem se vão vender atletas, muito menos quanto arrecadarão com esse tipo de negócio. Portanto, trata-se de uma receita variável que pode distorcer a realidade", explica o auditor Amir Somoggi, responsável pelo estudo. "Pegue o exemplo do Santos. Se o clube vende o Neymar, vai conseguir um dinheiro que o colocará como o clube mais rico do País naquele momento. Porém, se não vender mais ninguém nos anos seguintes, volta para sua posição de origem."
A expectativa de chegar ao quinto lugar do ranking em, no máximo, três anos tem explicação relativamente simples. Ao contrário do mercado europeu, que é consolidado e sofre os efeitos de uma das mais sérias crises econômicas da história, o Brasil está em franca expansão. "Enquanto os clubes da Europa lutam para manter suas receitas, no Brasil estamos apenas descobrindo este potencial. Novas cotas de TV, a exploração de arenas, ainda pouco difundida por aqui, naming rights. Enfim, o mercado brasileiro só está começando a se desenvolver", explicou Somoggi.
A linha de raciocínio do especialista é compartilhada pelo diretor de marketing do Corinthians, Luiz Paulo Rosenberg. "Ainda estamos engatinhando no trabalho de exploração das marcas dos clubes", afirmou. "A cada dia o poder da Fiel me surpreende e impressiona. Não tenho dúvidas de que o estádio, quando estiver pronto, possibilitará que tenhamos receitas até aqui inéditas para o clube", analisou.
O presidente licenciado do Alvinegro e atual coordenador de seleções da Confederação Brasileira de Futebol (CBF), Andrés Sanchez, vai mais longe. "Com a proximidade da Copa do Mundo o futebol brasileiro seguirá crescendo. Tem muita gente que está esperando um pouco mais para investir", afirmou. "E nesse embalo não tenho dúvidas de que o Corinthians se tornará um dos cinco maiores clubes do mundo."
MECENAS
Entre os detalhes que chamam atenção no estudo está o fato de que muitos mercados notabilizados nos últimos anos por contratar atletas brasileiros, casos de países do leste europeu - Ucrânia e Uzbequistão -, ou o famoso "mundo árabe" não aparecem na relação dos principais mercados.
De acordo com os especialistas, a explicação está no fato de que esses clubes não usam dinheiro relacionado a direitos de TV, exploração de estádio ou marketing para contratar jogadores. Tais agremiações são movidas, na maioria dos casos, com dinheiro de bilionários (herdeiros e estatais ou xeques árabes) que investem sem controle, como se o futebol fosse uma espécie de passatempo de luxo. São os chamados "mecenas da bola".
"Evidentemente, em casos pontuais fica muito difícil concorrer com esses clubes, que são tratados como verdadeiros playgrounds de bilionário excêntricos", comentou o presidente do Santos, Luis Alvaro de Oliveira Ribeiro. "Para competir com esse tipo de situação, temos reinventado a maneira de administrar os clubes brasileiros."
Um dos alicerces desta reestruturação é a descoberta do "planejamento". Para os dirigentes, além de mais dinheiro, o futebol brasileiro ganha, aos poucos, credibilidade. É esperar para ver.