O Flamengo, em seu primeiro domingo de jogo no Engenhão neste Campeonato Brasileiro, voltou a vencer na competição. A vitória por 1 a 0 sobre o time reserva do Santos neste domingo deverá manter o treinador Joel Santana no cargo. Mas o torcedor rubro-negro que foi ao estádio saiu mais uma vez insatisfeito. Novamente atuando boa parte do jogo com quatro volantes na armação, viu um time confuso e criando poucas oportunidades. A vitória só surgiu num lance polêmico aos 39 minutos do segundo tempo.
O árbitro Francisco Carlos Nascimento marcou pênalti muito duvidoso de Gérson Magrão em Ibson. Bottinelli pegou a bola para bater e conversou com Love. Joel e a torcida queriam o camisa 99. Mas o argentino, que treinara na véspera, insistiu em cobrar. Após as vaias iniciais, e já sob aplausos da torcida, a pedido dos jogadores, bateu com categoria, aos 42, e decretou o triunfo que deixou a equipe com 9 pontos ganhos na tabela.
Com a cabeça na Libertadores - na próxima quarta-feira, fará partida decisiva pela semifinal com o rival Corinthians em que precisa vencer ao menos por um gol de diferença para tentar obter a classificação para as finais nos pênaltis -, o Santos está com apenas 3 pontos no Brasileiro. No próximo domingo, receberá o Coritiba na Vila Belmiro. O Flamengo irá a Porto Alegre encarar no mesmo dia o Grêmio, do técnico Vanderlei Luxemburgo, que deixou o clube rubro-negro no começo do ano após polêmicas com Ronaldinho Gaúcho.
Primeiro tempo ruim
Com um time reserva e o treinador acompanhando a partida de uma cabine - com a cabeça totalmente na semifinal da Libertadores contra o Corinthians, Muricy Ramalho fez pela manhã treino com os titulares -, o Santos não inventou. O auxiliar Tata seguiu à risca a cartilha: esperar os erros do Flamengo para arriscar. A equipe rubro-negra, pela primeira vez neste Brasileirão jogando num domingo no Engenhão, tinha no bom número de torcedores no estádio - 13.195 pagantes - um estímulo a mais. O problema é que continuava pouco inspiradora. Resumo da ópera: fraquíssimo primeiro tempo.
Sem Léo Moura pela direita e um meia capaz de organizar as jogadas, o time de Joel Santana ficou à mercê de jogadas individuais de Ibson e Vagner Love. O camisa 99, aliás, estava sempre ligado na partida. Logo na primeira jogada que tentou pelo lado esquerdo, pediu pênalti numa bola na mão de Bruno Rodrigo dentro da área. O toque, no entanto, foi involuntário, e o árbitro acertou ao seguir com o lance. Depois, Love chegou atrasado em centro pela esquerda. Com a companhia pouco produtiva de Diego Maurício - corria mais que criava boas situações -, ficou muito isolado no duelo com a bem armada zaga santista, com destaque para o seguro Gustavo Henrique.
No meio-campo, o Santos diminuía o espaço com cinco no bloqueio - apenas Rentería ficava isolado na frente. Do lado rubro-negro, Ibson era mais transpiração. Renato Abreu, a não ser no primeiro chute a gol do time com perigo, aos nove minutos, que Aranha rebateu, e na falta cobrada obrigando o goleiro a tocar a escanteio, aos 37, pouco foi notado. Aírton fazia o dever de casa protegendo a zaga. Luiz Antônio ajudou nos números favoráveis ao domínio percentual da posse de bola - 58%. Mas, de bom, só fez a jogada mais bonita da primeira etapa, ao tentar encobrir o arqueiro santista de fora da área.
A esperança era pelas laterais. Wellington Silva estava de mal com a linha de fundo e levava a pior no duelo com Emerson. A única jogada razoável foi um chute que assustou Aranha - o goleiro mandou para escanteio. Do lado esquerdo, a surpresa. Limitado tecnicamente, Magal ao menos mostrava o espírito que a torcida sempre exige do time. Longe da apatia, apareceu até no lado direito para brigar pela bola e, quando foi à linha de fundo pelo seu setor, acertou um belo cruzamento, bem interceptado pelo goleiro santista.
Magal tinha com Maranhão um duelo dos mais equilibrados. O lateral santista até tentou apoio mais efetivo ao ataque. Sorte do Flamengo que o Santos, recheado de reservas com baixa média de idade, pouco se aventurava. Felipe Anderson, esperança na criação, pouco arriscava. Chrystian e Gerson Magrão não conseguiram criar para o solitário Rentería. A timidez do time santista, de azul, foi tamanha que sequer deu um chute ao gol de Paulo Victor. Com essa falta de ambição, aliada a um Flamengo sem garçom no meio de campo, nunca um 0 a 0 foi tão merecido como o desses primeiros 45 minutos.
Partida melhora
A segunda etapa começou com um Santos mais solto. Isso também deu mais espaços ao Flamengo, principalmente aos laterais. Foi Magal, melhor do primeiro tempo, o primeiro a levantar a torcida. Deu dois dribles seguidos em Maranhão e centrou com perigo. A zaga tocou para escanteio. No contra-ataque santista, o time perdeu Crystian, contundido - Dimba entrou em seu lugar. E se Wellington Silva finalmente acertou um centro na cabeça de Love e encontrou um Aranha atento, o Santos fez também as pazes com a linha de fundo. Após cruzamento pela direita, Rentería cabeceou livre. Sorte do Flamengo que a bola foi para fora.
O atacante do Santos voltou a incomodar a zaga rubro-negra em jogada individual. Paulo Victor fez a primeira defesa importante. Joel Santana viu que era necessário mexer. Acertou ao trocar o decepcionante Diego Maurício por Hernane. Mas errou ao sacar Magal, até então o melhor do time, para pôr Bottinelli. Era melhor ter optado por Luiz Antônio ou Renato Abreu, ambos muito apagados na partida.
O Flamengo caiu de rendimento. Já com Geuvãnio no lugar de Emerson na lateral esquerda, o Santos aproveitava melhor os buracos deixados pela defesa rubro-negra. Felipe Anderson aparecia melhor na armação, e a zaga rubro-negra, com Marlon e González, quase entregou um gol para Gerson Magrão.
Bottinelli, que entrara em campo para tentar armar as jogadas de ataque, mais uma vez desapontava. No desespero, eram os volantes que arriscavam mais. Até Aírton batia de fora da área. Renato Abreu, pior ainda na lateral, era vaiado pela torcida. Estava difícil conseguir a vitória. Aos 39, no entanto, um lance polêmico mudou a partida. Ibson recebeu de Bottinelli e, após dividida de Gerson Magrão com o camisa 7, o meia rubro-negro caiu. O árbitro Francisco Carlos Nascimento marcou a penalidade, sob protestos dos santistas.
Bottinelli pegou a bola para bater após conversar com Love. Joel mandou o camisa 99 cobrar. A torcida também. O argentino não abriu mão. Levou primeiro as vaias, e depois os aplausos, que pediram apoio à torcida. Apesar de Joel balançar a cabeça negativamente, o camisa 18 colocou com categoria, sem defesa, aos 42 minutos. Depois, recebeu abraço efusivo de Love e todo o grupo. Joel ainda pôs em campo o garoto Mattheus, filho de Bebeto. Era sua segunda partida pelos profissionais. O garoto viu o susto passar, a vitória chegou, mas o sinal amarelo continua aceso. A torcida sabe que o time precisa melhorar, e muito.