O TP Mazembe surpreendeu a torcida colorada nesta terça-feira e acabou com o sonho do bi mundial do Internacional. Primeiro africano a disputar a final do torneio da Fifa, o clube da República Democrática do Congo tem feito valer no continente a alcunha de "Todo Poderoso": venceu a Liga dos Campeões local em 2009 e 2010 e é a base da seleção nacional, que em 2009 conquistou a Copa Africana sem jogadores que atuam no exterior. Detalhe: em Abu Dhabi, a equipe está sem seu capitão Trésor Mputu Mabi, considerado um dos melhores atletas da África no ano passado e que está suspenso por um ano por indisciplina.
O 2 a 0 sobre o Inter nos Emirados foi celebrado da mesma forma com que o goleiro Kidiaba comemorou o título africano com a seleção da República Democrática do Congo em 2009: após 2 a 0 sobre Gana, o goleiro e seus companheiros "quicaram" no gramado. Alguns trocaram até a camisa da seleção pela do Mazembe. Diko Kaluyituka, que balançou a rede contra o Colorado, e Mbenza Bedi, que marcou na estreia contra o Pachuca (1 a 0), fizeram os gols do título africano.
- Seis jogadores do Mazembe já jogaram na Europa e voltaram. Passaram por Bélgica, França, Suíça, Holanda... É um time que atua junto há pelo menos três anos, uma base forte, que conseguiu tirar a hegemonia do Al Ahly, do Egito, na África - disse o técnico Márcio Máximo, que passou pela seleção da Tanzânia e em 2009 recusou uma proposta para comandar o Mazembe.
O clube, que tem quatro títulos continentais (1967, 1968, 2009 e 2010), foi fundado em 1939 por monges beneditinos. Mas atualmente vive do dinheiro da mineiração no país: segundo Márcio, empresários ricos da República Democrática do Congo investem pesado para transformar o time em potência.
- Hoje, quem mantém o time é um grupo de milionários ligados à mineiração. Eles têm um bom centro de treinamento. Não se compara à estrutura de clubes europeus, mas deixaria qualquer time do Rio de Janeiro com inveja. O futebol africano tem evoluído muito por causa do intercâmbio de jogadores, muitos vão para o exterior e voltam. E a Fifa tem se preocupado também em estruturar os clubes africanos, há muitos cursos técnicos e administrativos por lá agora - contou o ex-treinador da Tanzânia.
Na última Liga dos Campeões, o Mazembe venceu o Espérance, da Tunísia, na final. No primeiro jogo, goleou por 5 a 0 em casa. Depois, segurou um empate de 1 a 1 e garantiu o bi. No Mundial de Clubes do ano passado, a equipe africana não teve vitórias: 2 a 1 para o Pohang Steelers, na estreia, e 3 a 2 para o Auckland, na disputa pelo quinto lugar.
- Vi o Mazembe jogar ao vivo na África. O Espérance tem mais estrutura, mais dinheiro, mas o Mazembe tinha mais ginga e acabou goleando. A seleção do Congo está acompanhando essa base do clube. No torneio só com jogadores que atuam dentro da África eles foram os melhores, mas quando todas as estrelas dos outros países podem jogar eles não se destacam muito - analisou o preparador físico Guilherme Junior, que trabalhou em Burkina Faso entre 2009 e 2010.
Da seleção da República Democrática do Congo campeã africana em 2009, oito jogadores estão com o Mazembe no Mundial deste ano: Muteba Kidiaba, Bawaka Mabele, Joel Kimuaki, Kazembe Mihayo, Ngandu Kasongu, Mbenza Bedi, Dioko Kaluyituka e Luyeye Mvete.
A lista do torneio da Fifa teria mais um atleta: Trésor Mputu Mabi. Capitão e maior estrela do Mazembe, o atacante foi eleito o melhor jogador da Copa Africana e chegou a concorrer ao prêmio de craque do continente. Mas Mabi ficou fora do Mundial porque em agosto se envolveu em uma confusão contra Ruanda: liderou as agressões ao árbitro após um gol anulado e acabou suspenso pela Fifa por 12 meses.
Atualmente, a seleção da República Democrática do Congo é a 129ª colocada no ranking da Fifa. Vale lembrar: o país é o antigo Zaire, vizinho da República do Congo. República Democrática do Congo é uma das maiores nações da África, com 2 344 858 km² e quase 70 milhões de habitantes. O Mazembe fica em Lubumbashi, a segunda maior cidade do país, perto da fronteira com a Zâmbia.