O desempenho do futebol feminino no torneio olímpico pode ter um impacto ainda maior para o esporte no país do que ter terminado sem medalha. Há gente muito influente na entidade defendendo uma revisão, após a Rio 2016, do custeio de uma seleção permanente, com a CBF pagando mensalmente as jogadoras. De acordo com informações, um dos executivos da entidade, não viu vantagens para a confederação em manter o modelo e fez a seguinte leitura: o resultado não veio, elogios pela iniciativa também não, e sobrou apenas a conta para pagar. O desempenho do coordenador Marco Aurélio Cunha, no entanto, é bem avaliado internamente.
A tendência é de que o trabalho de monitoramento e desenvolvimento do esporte continue, mas o conceito de seleção permanente está no cadafalso. Disse o dirigente que apesar dos esforços o futebol feminino não "pega" no Brasil - embora muita gente tenha se empolgado com o desempenho inicial da seleção feminina, especialmente enquanto a masculina sofria na primeira fase olímpica. Certo é que nos próximos dias esse tema será discutido.
Um ponto é bastante sensível: a Fifa, com quem a relação de Marco Polo del Nero pode azedar a qualquer momento por conta de uma investigação do Comitê de Ética iniciada em novembro do ano passado, tem como uma das suas bandeiras o desenvolvimento do futebol feminino - e dá alguns recursos à CBF com este fim. O novo presidente, Gianni Infantino, promoveu a entrada de mais mulheres no Conselho - ex-Comitê Executivo - e deu a uma mulher a secretaria-geral, o segundo cargo na hierarquia da entidade. A extinção do modelo de seleção permanente, uma peculiaridade do esporte no Brasil, pode não inspirar muita simpatia em Zurique.
Infantino visitou a CBF recentemente. Há quem diga que foi vítima de uma armadilha política de Del Nero e não ficou nada satisfeito em participar da reunião na sede da entidade. Mas os caciques da CBF negam a história com veemência. De qualquer forma, como já ficou claro quando a Fifa tentou punir Del Nero com devolução de verbas da entidade - e depois voltou atrás por pressão da CBF por não haver condenação -, a relação entre as entidades depois dos escândalos de 2015 é instável.
O panorama para o futebol feminino brasileiro, sem competições realmente fortes e apoio efetivo para boa parte das atletas fora da seleção, é incerto.