Pegou mal a decis?o do Comit? Ol?mpico Brasileiro (COB) de censurar os atletas que participar?o dos Jogos Pan-americanos do Rio, que come?am no dia 13. Ex-atletas, muitos deles medalhistas em outros Pans, criticaram duramente o COB. No regulamento das delega?es, est? prevista a exclus?o de atletas que criticarem em p?blico "atos de autoridades desportivas brasileiras, dos chefes e t?cnicos e ?s instru?es deles emanadas", conforme consta no documento. "Est? errado, n?o condiz com a democracia", opina Oscar Schmidt, medalha de ouro com o basquete em Indian?polis-1987. "Acho que o Comit? poderia rever essa posi??o."
O ex-judoca Aur?lio Miguel, hoje vereador em S?o Paulo, bateu pesado no COB. "Sou contra, acho uma besteira", declarou. "Cada um pode falar o que bem entende, desde que respeitosamente, claro."
Medalha de ouro em Indian?polis-87, Aur?lio diz que, se houver um ambiente harmonioso, n?o h? motivos para impor qualquer tipo de censura. "Se isso acontecesse na minha ?poca, eu n?o ficaria calado. Iria me manifestar, como sempre fiz", garante. "N?o adianta esconder os problemas, jogar para baixo do tapete."
A piv? Alessandra, medalha de bronze em Santo Domingo-2003, tamb?m discordou da atitude do COB. "Cr?ticas podem servir para que os erros do presente n?o se repitam no futuro", disse a jogadora, por telefone, da It?lia, onde passa f?rias.
Alessandra recusou-se a participar da cerim?nia de abertura do Pan, porque est? processando a Confedera??o Brasileira de Basquete (CBB). A piv? se machucou durante o Campeonato Mundial de Basquete, realizado no ano passado em S?o Paulo, e teve de pagar o tratamento do pr?prio bolso.
Para a ex-mesa-tenista Lyanne Kosaka, que conquistou medalhas de bronze em Havana-1991 e Winnipeg-1999, o problema ? ainda maior. "No Brasil, atleta sempre teve medo de falar. Esse tipo de controle sempre existiu, mas n?o era t?o expl?cito", diz. "? inadmiss?vel, estamos voltando ? ditadura, ao tempo da lei da morda?a."
Para o ex-jogador de futebol S?crates, o documento mostra a realidade do esporte brasileiro. "Desejam que o artista n?o se manifeste, n?o tenha voz, n?o seja visto como um ser humano", declarou. "? um absurdo, ? rid?culo."
O COB, em nota, diz que se trata de documento de car?ter construtivo e n?o punitivo. "? t?o instrutivo quanto era o DOI-CODI", declarou S?crates, em refer?ncia ao ?rg?o de repress?o da ditadura militar.
Mas h? quem concorde com a postura do COB. ? o caso de Vlamir Marques, ex-jogador de basquete, presente em quatro Pans como atleta e um como integrante da comiss?o t?cnica.
"A cartilha n?o ? censura, foi feita para coibir os excessos. Ningu?m ? proibido de dar opini?o, mas ? preciso evitar a cr?tica gratuita", argumenta. "Se um atleta tem um insucesso, de repente, em raz?o da frustra??o, pode se exceder e fazer cr?ticas desnecess?rias."
Para o ex-tenista Fernando Meligeni, que encerrou a carreira ap?s o ouro em Santo Domingo-2003, trata-se de "algo normal" em eventos desse tipo. "Os atletas est?o mais preocupados em defender seu pa?s", diz. "? hora de deixar a rebeldia de lado. Se houver alguma cr?tica, pode deixar para depois."
A mesma opini?o tem Mauro Ribeiro, ex-ciclista, medalha de bronze em Caracas-1983. "O mais importante ? vestir a camisa do Brasil", diz. "Concordo plenamente com as regras estabelecidas pelo COB. Para os atletas, nada vai mudar."