Diziam que já não havia mais nada para se contar. Em um clássico marcado por nove finais seguidas, o histórico se apresentava como um personagem à parte no ginásio do Ibirapuera. Mas, para escrever um novo capítulo do duelo contra o Osasco, o Rio de Janeiro quis deixar o passado para trás. Criada na quadra rival, Natália ressurgiu vestida de azul e guiou sua equipe a uma reação heroica na manhã deste domingo. Pelos braços da ponteira, a equipe carioca virou um jogo que parecia perdido: 3 sets a 2, parciais 22/25, 19/25, 25/20, 25/15 e 15/9, para celebrar o seu oitavo título da Superliga.
- Só quem me conhece sabe a dificuldade que eu tive a Superliga inteira. Me julgaram, mas eu fui forte. Ninguém acreditava no time e fomos surpreendendo - disse Natália.
Antes da decisão, Bernardinho chegou a alertar para o risco de um massacre. Diante de um rival formado por cinco campeãs olímpicas, o treinador temia que seu time não tivesse forças para chegar ao título. No entanto, a equipe carioca levou a melhor no clássico e aumentou a vantagem para 6 a 3 nas nove finais consecutivas entre as rivais.
- Jogando ponto a ponto, conseguimos acreditar que poderíamos vencer. Começamos a dominar o jogo. Nos preparamos bem e tínhamos algumas meninas que nunca tinham vivido isso. Tivemos muita consistência contra uma equipe da qualidade do Osasco - analisou Bernardinho.
Foi a quarta vez que uma final entre os times foi para o tie-break. E a primeira em que uma equipe conseguiu virar após estar perdendo por 2 a 0. Na fase de classificação, os dois confrontos também foram decididos em cinco sets, com uma vitória para cada lado. Foi também uma final marcada por inovações tecnológicas. Pela primeira vez, as equipes tiveram o direito de pedir a revisão das jogadas. Bernardinho e Luizomar de Moura só não usaram o recurso no tie-break.
O jogo
No primeiro lance da partida, Natália sacou bem, Camila Brait errou na recepção, e Jaqueline falhou no passe. Na sequência, porém, a ponteira do Rio de Janeiro devolveu a gentileza e mandou o saque na rede. Talvez pelo nervosismo, as duas equipes tiveram um início marcado pelos erros. O Osasco foi mais rápido ao se arrumar em quadra. Aos poucos, a equipe paulista tomou o controle do jogo e foi para o tempo técnico com 8/5.
O Rio tentava tirar a diferença em lances de categoria como uma bola de segundo tempo de Fofão. O Osasco, porém, parecia ter a sorte ao seu lado. Em um ataque, o árbitro flagrou um toque de Sheilla. A jogadora contestou, e Jaqueline usou o recurso do desafio pela primeira vez na final. Após a revisão, a capitã mostrou estar certa. O árbitro, então, voltou atrás e deu o ponto para as paulistas.
O Osasco abriu seis pontos (16/10), mas o Rio buscou. Em uma defesa de Gabi, as rivais não se entenderam, e a bola foi direto na quadra. O empate deu confiança à equipe de Bernardinho, mas a reação carioca não foi além. No bloqueio de Adenízia, as paulistas fecharam o primeiro set em 25/22.
Jaqueline abriu o segundo set com um ace. Mas, assim como no início do jogo, as duas equipes cometiam erros bobos. Mal na recepção, o Rio contava com a força da canadense Sarah Pavan no ataque para não deixar Osasco disparar. Nas arquibancadas, a torcida paulista, mais barulhenta que a rival, tomava Natália e Bernardinho como principais alvos. Em quadra, o time correspondia. Fernanda Garay apareceu bem no bloqueio e abriu quatro pontos de vantagem (16/12).
O Rio buscou. No ataque para fora de Sheilla, a diferença caiu para apenas um ponto (16/15). Pouco depois, foi a vez de Bernardinho pedir o desafio, alegando um toque do bloqueio de Osasco na rede. As imagens, no entanto, mostraram lance normal, e o técnico voltou a ouvir vaias e xingamentos em coro. A reação carioca parou, e as paulistas dispararam no placar. O Rio ainda evitou dois set points, mas Fabíola repetiu Adenízia na primeira parcial e fechou em um bloqueio: 25/19.
No intervalo, a torcida mostrava empolgação em um Harlem Shake comandado por animadores. Teve espaço até para momentos de romantismo. Embalados por ?How deep is your love?, do Bee Gees, casais apareciam se beijando nos telões.
Reação carioca
Com a urgência de reagir, o Rio voltou melhor para o terceiro set. Ao contrário de todo o jogo até ali, liderava o placar e pressionava o Osasco. As paulistas passaram a errar mais, e as cariocas foram em vantagem para o primeiro tempo técnico (8/6). O time de Luizomar de Moura, porém, não demorou a reagir. Voltou a equilibrar o jogo e não permitiu que as rivais disparassem no placar.
Mas o Rio não queria desistir. Gabi, uma das melhores em quadra, guiou o time carioca a uma vantagem de quatro pontos (19/15). Ainda que Osasco tenha ensaiado uma reação, a equipe de Bernardinho se manteve viva no jogo. Pavan virava com segurança e foi a maior pontuadora do set com seis pontos. No bloqueio de Valeskinha, o Rio de Janeiro respirava: 25/20.
Virada avassaladora
A reação deu força ao Rio. Em um quarto set espetacular, a equipe carioca sequer deu chance para que as rivais respirassem. Em um ritmo frenético, liderado por Sarah Pavan, Natália e Juciely, o time de Bernardinho empatou o jogo. No saque para fora do Osasco, fechou em 25/15 e levou a decisão para o tie-break.
O Rio manteve sua força para a parcial decisiva e começou melhor. Apesar das tentativas de reação e do apoio de sua torcida, Osasco tinha problemas para frear Natália e Juciely. Os ataques de Sheilla, Garay e Jaqueline já não funcionavam, e as cariocas abriram quatro pontos (11/7). Fabi não deixava a bola cair. Pressionada pela torcida rival durante todo o jogo, Natália era quem mais brilhava. E quem mais vibrava. No último lance do jogo, a ponteira encheu a mão e fechou: 15/9. Diante da festa da torcida azul, ajoelhou no chão e comemorou.