O Corinthians não deve se manifestar oficialmente sobre a polêmica envolvendo Emerson, que foi ameaçado pela torcida na última segunda-feira. Depois de postar uma foto beijando um amigo, o atacante despertou a ira de uma parcela homofóbica da torcida, promete fazer um "inferno" na vida do jogador. O clube, porém, espera que o próprio Sheik resolva a situação.
"A gente aqui se preocupa com todo mundo igual. Se ele acha que está errado, ele tem de consertar, se não acha, não conserta", disse Roberto de Andrade, diretor de futebol do clube, que indicou não ter interesse em se posicionar sobre a questão do preconceito. "O Corinthians não se mete nisso não. Não tenho lado. O Corinthians não vai entrar nessa polêmica. Não foi o Corinthians que beijou ninguém. Não sou responsável pela vida dele", completou.
O post de Emerson aconteceu na noite do último domingo, mas dominou todas as discussões na última segunda. Isaac Azar, amigo que beijou o Sheik na imagem polêmica, disse que a ideia foi "testar o preconceito". A torcida corintiana não demorou a reagir de forma negativa.
Por volta das 13h, após o treino, cinco torcedores da organizada Camisa 12 foram ao estacionamento da imprensa no CT Joaquim Grava para protestarem contra Emerson. Diante das câmeras de TV, exibiram faixas com palavras de ordem contra o jogador e pediram um pedido de desculpas do herói da Libertadores de 2012, ameaçando fazer da vida dele um inferno daqui em diante. Em entrevista à Band, o jogador classificou a atitude de "preconceito babaca".
A atitude repercutiu no movimento gay. Segundo Luiz Mott, fundador do histórico grupo gay da Bahia, Emerson ganhará o Oscar Gay de 2014. "Acredito que esse fato é altamente positivo, elogiável. Todas as pessoas devem brigar pela igualdade. Ele está provando que pode ser homem e brigar por isso. Embora ele tenha feito a ação, isso não vai deixar ele mais ou menos heterossexual", disse Érico dos Santos, presidente do Comitê Desportivo LGBT Brasileiro, que tem como principal objetivo o estímulo ao combate à homofobia no esporte.
"Pra mim, qualquer manifestação de apoio às nossas questões é muito bem vinda. É importante percebermos que várias pessoas, sejam militantes ou não, estão se posicionando contra a homofobia. A população começou a perceber que a luta da homofobia não é só pela sociedade LGBT. É a luta por uma sociedade sem preconceito, sem violência", disse Carlos Magno Fonseca, presidente da ABGLT (Associação Brasileira de Gays, Lésbicas, Travestis e Transexuais).
Em sua mensagem, Émerson ainda se preocupou em reforçar sua opção heterossexual, a despeito da foto com um selinho no amigo. "Ah, já ia me esquecer. Para você que pensou em fazer piadinha boba com a foto, dá uma pesquisada no meu Instagram todo antes, só para não ter dúvida", escreveu ele. Nem isso diminuiu a empolgação dos ativistas.
"As pessoas reagem de diferentes formas à homofobia. Eu, como militante, não daria essa resposta. Ser homossexual não é demérito pra ninguém, mas eu entendo que essa homofobia não atinge só os homossexuais, e foi a maneira que ele reagiu. Poderia ter sido melhor", disse Carlos Magno.
É consenso entre os militantes, porém, que Emerson pode ter dado um passo importante ao abrir a discussão sobre homossexualidade em um meio conservador como o futebol. "Acho que ele nem postou a foto pensando no enfrentamento da homofobia. Acho que o futebol é uma sociabilidade masculina que se posiciona contra a homossexualidade. Louvo a atitude do Sheik e do amigo dele", disse o deputado Jean Wyllis (PSOL-RJ), que cobrou que Emerson seja defendido com mais intensidade dos protestos.
"Cabe ao clube. O clube tem o compromisso de proteger seus atletas, por mais que haja relação de cumplicidade e força com a torcida. Pessoas que acreditam em mundo plural têm de defendê-lo da estupidez. Cabe aos colegas do Sheik, aos corintianos, à galera gente boa do Corinthians, não deixar estender essas faixas. Isso não é liberdade de expressão", disse o parlamentar.
Só que o Corinthians não é a única entidade ligada ao futebol a evitar aumentar a polêmica. A reportagem do UOL Esporte consultou patrocinadores do clube e do jogador, mas ninguém defendeu Emerson abertamente. Nike e Adidas explicaram que não se manifestariam por entenderem que não há o que discutir, já que trata-se de uma questão da vida pessoal do atleta. Caixa e TIM, também parceiras do clube, não opinaram sobre o assunto.
Jogadores de futebol e até atletas de outras modalidades que se assumiram gays recentemente também evitam explorar o tema. A promessa da torcida é de que nos próximos jogos Émerson conviva com alguma pressão da arquibancada.
Em 2007, Richarlyson se viu envolvido em uma polêmica parecida quando defendia o São Paulo. Em uma entrevista, o então dirigente palmeirense José Cyrillo Júnior disse que ele era homossexual. O volante negou, mas depois disso nunca mais teve seu nome gritado pela torcida organizada no Morumbi.