Eram 7h no Estádio do Pacaembu quando os amigos Tiago Machado, 23 anos, e Sidnei Barbosa, 35 anos, ambos desempregados, fizeram a previsão: "Como a bilheteria abre às 9h, acho que conseguimos comprar o ingresso até o meio-dia". Não conseguiram. Uma hora e meia foi o tempo que levou para que se esgotassem os ingressos para a segunda partida da final do Campeonato Paulista, entre Corinthians e Santos, no próximo domingo.
Mas Tiago e Sidnei não foram os únicos. Cerca de 10 mil torcedores ficaram a ver navios na enorme fila que dava voltas na praça Charles Miller. Muita frustração, desinformação e descaso com o torcedor marcaram a venda relâmpago das entradas para o jogo entre os dois clubes alvinegros.
Havia gente esperando desde sábado. Quando a bilheteria foi aberta, às 9h (de Brasília), os fãs comemoraram como um gol de Ronaldo. Fogos, pessoas se levantando de suas cadeiras de praia, muita bebida e gritaria. Mas a festa durou pouco.
Mas às 10h30 (de Brasília) as bilheterias foram fechadas. Quando os corintianos foram avisados pela polícia e pelos orientadores de que os ingressos estavam esgotados, houve princípio de confusão, uma tensão muito grande entre a Tropa de Choque e os torcedores revoltados, que provocavam os policias com hinos ofensivos, atirando pedras e garrafas de plástico.
Um dos fãs mais exaltados, cuja imagem ilustra esta matéria, pode servir para representar o drama de todo o torcedor que saiu do Pacaembu frustrado: estava na fila desde domingo e saiu de mãos vazias. Quando soube que as bilheterias tinham sido fechadas, o torcedor entrou em desespero: chorava compulsivamente, ao mesmo tempo em que batia no peito e reclamava dos dirigentes corintianos, da polícia e até da política nacional. Depois, pedindo para não ter seu nome revelado, admitiu ter consumido vinho, vodka e cerveja na fila durante a espera.
"Só tem safado na diretoria do Corinthians, que não disponibiliza ingresso. Por isso a política desse país não vai pra frente, porque somos tratados desse jeito. Mas isso aqui é Corinthians, é amor, sentimento, não dá pra controlar", justificou.
"Eram cerca de 10 mil ingressos para serem divididos nos sete pontos de venda. Vieram apenas dois mil para o Pacaembu", informou o Capitão Salteratto, do Batalhão de Choque. O tumulto só foi dispersado quando os policiais ameaçaram uma investida contra os torcedores.
Os torcedores protestaram bastante. Para eles, o limite deveria ser de apenas um ingresso vendido por pessoa - era possível comprar três por pessoa. Porém, a principal reclamação foi a falta de informação por parte da Federação Paulista de Futebol e da diretoria do Corinthians.
Às 11h30, a situação já estava completamente controlada pela polícia e os torcedores já haviam dispersado totalmente.