Cerca de 200 metros separam o estádio Jesús Bermúdez da penitenciária de San Pedro, em Oruro. Foi no estádio que Kevin Beltrán Espada, de 14 anos, morreu ao ser atingido no olho por um sinalizador marítimo. E é na penitenciária quase vizinha que os 12 torcedores brasileiros indiciados por homicídio cumprem a prisão preventiva enquanto aguardam o julgamento do caso.
As duas celas que recebem os corintianos são isoladas dos presos bolivianos, amenizando um dos maiores temores dos brasileiros. Sequer há contato visual entre eles, segundo o coronel Carlos Coritza, responsável pela penitenciária. De acordo com a mulher de um dos presos, no entanto, é possível ouvir os bolivianos, que gritaram "San José, San José" na chegada dos brasileiros, na sexta-feira. Ela considerou o clima hostil e "assustador".
- Temos de cumprir a lei, mas creio que nem todos ficarão por tanto tempo. A questão é mais preventiva, pois eles podem fugir se responderem ao processo em liberdade. Vamos obedecer à decisão do juiz cautelar, mas não sei se era necessário prender todos eles ? disse o coronel.
Esta é a primeira vez que Oruro recebe presos brasileiros. E justamente como consequência de uma tragédia que causou comoção nacional.
Os 12 torcedores foram indiciados por homicídio na investigação da morte de Kevin Espada e tiveram a prisão preventiva decretada nesta sexta-feira. Representantes da embaixada brasileira na Bolívia preparam recurso para fazer com que o grupo responda em liberdade.
A análise será feita pelo juiz cautelar Julio Huarachi Pozo, o mesmo que decretou a prisão preventiva. A decisão sobre o recurso pode demorar horas ou dias. Na apelação feita durante a análise das medidas cautelares, o juiz se mostrou irredutível.
- Decidimos manter os 12 encarcerados nessa fase de investigação por questões de segurança. Sabemos que não há provas contundentes, mas vamos mantê-los encarcerados porque sabemos que é muito fácil sair da Bolívia ? argumentou Julio Pozo.
Os torcedores reclamaram que estão em situação precária desde o momento em que foram presos e pediram a ajuda da presidente Dilma Rousseff e do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Advogados e três agentes da embaixada brasileira, entre eles o ministro conselheiro Eduardo Saboia, acompanham o caso em Oruro.