Dez meses se passaram desde a cirurgia que daria a Cesar Cielo a "sobrevida" necessária para voltar ao alto do pódio dos 50m livre, após o bronze nos Jogos Olímpicos de Londres 2012. Durante todo esse período de recuperação da operação nos joelhos, paciência foi a palavra-chave. O velocista brasileiro, que desde criança briga contra o cronômetro, desta vez teve de reaprender a não ter pressa. Até chegar ao Mundial de Barcelona capaz de brigar por medalha, percorreu um longo caminho marcado por sessões diárias de fisioterapia e trabalhos específicos para a reconstrução dos músculos. O nadador e o grupo de profissionais que o acompanha nesse processo sabem que ainda é cedo para dizer que já está 100%. Mas a sonhada conquista do tricampeonato inédito dos 50m livre, no Mundial de Barcelona, neste sábado, pode ser um ótimo indício de que a reabilitação total está logo ali. A final será transmitida pelo SporTV a partir das 13h (horário de Brasília) e terá cobertura em Tempo Real no SporTV.com .
- Nesse campeonato ainda é muito precoce dizer que estamos vendo o Cesar 100%. Ele não está em seu 100%, apesar de o vermos ganhando. Ele pode fazer muito mais do que isso. Ainda tem alguns exercícios que a gente quer progredir. Mas, hoje, ele não tem mais uma limitação para competir. Ele está no caminho certo para disputar medalha em 2016 - disse Gustavo Magliocca, médico responsável pelo tratamento de Cielo.
Desde 2007, o brasileiro sofria com uma tendinopatia patelar nos dois joelhos. O esforço contínuo, em seguidas competições, foi piorando o problema ao longo dos anos. A dor era constante, e a lesão passou a ameaçar os treinamentos e as performances do nadador. O ápice foi em Londres 2012. Com dificuldades principalmente na hora da largada, o velocista percebeu que não havia outra saída a não ser a cirurgia se realmente quisesse continuar brigando com os mais rápidos do mundo. Em setembro do ano passado, a operação no tendão patelar foi realizada com sucesso.
- Ele tinha um desgaste crônico do tendão patelar. Esse desgaste gerava um processo inflamatório que incomodava bastante. Em Londres, perdeu muito a musculatura da perna em virtude desse processo inflamatório. Ele chegou a perder dois centímetros de circunferência em cada perna em um período de dez dias. A medida que o joelho inflamava, ele perdia a qualidade de saída. Uma saída que antes era a melhor do mundo acabou ficando muito igual a dos seus adversários - explicou Magliocca, que está acompanhando Cielo e os outros nadadores brasileiros em Barcelona.
No início, a recuperação foi lenta e delicada. Cielo precisou se afastar das piscinas e ficar sem fazer musculação. As sessões de fisioterapia diárias dominaram os seis primeiros meses do trabalho. Com exercícios específicos, a musculatura foi sendo reconstruída aos poucos e de acordo com as necessidades do nadador dentro da piscina.
- Tentamos construir meus músculos do jeito como eles seriam usados na água. Toda a temporada foi focada nisso. Estar aqui e ser campeão é um grande alívio - disse Cielo, após o ouro nos 50m borboleta.
Responsável por esse processo ao lado do fisioterapeuta Natan Cunha, o médico Gustavo Magliocca explicou como os músculos de Cielo estão sendo trabalhados para aguentar novamente a carga necessária.
- Eu preciso trabalhar esse músculo de duas formas. Uma dentro do comprimento normal dele e outra dentro do comprimento do gesto dele. Ele se aproxima e se afasta das fibras musculares. A gente tem que trabalhar isso dentro da necessidade do tendão. Na medida em que o tendão vai evoluindo, vou ganhando amplitude nessa musculatura. Eu coloco o Cesar na água e executo exercícios específicos justamente para o joelho dele ir se adaptando. Esse foi um processo que durou os primeiros seis meses. Depois, ele já estava apto a executar os movimentos nos comprimentos normais desse músculo. Agora, já estamos focando o rendimento.